Nosso corpo é nosso primeiro lar. A rotina descrita acima seria o meu ideal matinal, com o qual eu me sentiria cuidando da melhor forma possível da minha morada corporal. Claro que não consigo fazê-la acontecer todos os dias exatamente da mesma forma, afinal de contas o cuidado também pressupõe considerar nossos ritmos e oscilações. Mas se conseguir seguir passos semelhantes aos colocados acima em meu cotidiano, já me vejo feliz. O zelo com o corpo permite que essa sensação de bem-estar extravase pelos poros, avançando sobre as pessoas queridas, as plantas e os animais que adotamos, e por que não, a nossa casa concreta e seus badulaques. Assim como a máxima 'gentileza gera gentileza', me permito dizer que 'cuidado gera cuidado'.
Mas nem só de corpo vive o homem, e exercitar a cuca é igualmente fundamental. A mente é, aliás, uma parte do corpo. Com todos os nossos neurônios e sua rede de ligações excitatórias, conseguimos coordenar todas essas atividades de proteção à vida e tantas outras. Quanto mais 'elegantes' forem nossas sinapses, mais equilibrados estaremos para experimentar a vida com prazer e satisfação. O que resulta na conclusão de que sentir-se em casa na vida está profundamente associado à noção de bem-estar.
Estar de bem com a vida também pressupõe que nosso entendimento dela seja amplo, alargado por conceitos mais libertos e menos restritivos. A sacralidade da existência, uma dimensão que cada um de nós desenvolve e exercita de maneira particular e individual, aconchega assim a nossa essência. Desse modo, corpo e mente se tornam também a casa do nosso espírito. Como uma serpente de energia, podemos senti-lo fluindo por nosso eixo numa pulsão de energia do indizível. Somos então ao mesmo tempo agentes e testemunhas do mistério da vida.
Se estamos à vontade em nosso ser - corpo, mente e espírito - maior a probabilidade de encontrarmos conforto na concretude do espaço que nos acolhe, seja ele qual for. Recuperar a expressão 'excitatório' das ligações neurais acima expostas nos demonstra a força que pode haver na vibração de positividade que somos capazes de gerar. Somos agentesque estimulamos nosso entorno, assim como a nós mesmos.
Visitas regulares às nossas casas interiores - nosso organismo, nossa psique e nossa dimensão inominável da alma - são a única forma de ganharmos maestria sobre o nosso ser e a nossa existência. Quanto mais formos capazes de mergulhar dentro de nós mesmos com persistência e determinação, curiosidade e respeito, mais próximos estaremos da construção de um lar exterior que nos garanta a reverberação do bem-estar que vamos conquistando internamente.