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Opinião|What's up, Santa?

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Atualização:

Um Natal diferente.

 Foto: Estadão

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(Foto: Carlos Castelo)

Família:

O que vou dizer aqui vai chocar um pouco. Talvez alguns, como vô Tote e vó Cota, fiquem até um pouco mais desorientados do que já estão. Só falo isto porque a gente sempre teve um pacto de ser verdadeiro (na medida do possível) em família. Então é o seguinte: esse ano não vou à ceia de Natal, não comprei presente pra ninguém, não quero lembrancinha nenhuma e vou pra praia. Também não participo do amigo oculto do dia 22, nem do enterro dos ossos do dia 25.

Sim, tenho total consciência do que estou escrevendo aqui no grupo de família no whatsapp (perdoem-me pelo textão). Sei que a confraternização natalina é uma tradição de décadas, contudo, já está sacramentado: estarei sozinho à beira mar.

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Num ano absolutamente louco e deprimente que, graças a Deus está no fim, aprendi uma lição. Para que algo melhore no planeta é preciso mais verdade, mais transparência. Sem isto, não iremos muito longe como raça humana. Resolvi colocar o meu aprendizado em prática já.

Para começar, tio Laurindo, ninguém aguenta mais os seus porres. Todo ano, o senhor chega falando que não vai beber nada e é o último a tirar a barriga do balcão. No Natal de 2014 foi o ápice do absurdo. O senhor confundiu a porta do lavabo com a do armário do quarto dos velhos. Veio correndo aliviar-se, chutou a porta e...lavou as camisolas da vó Cota. Imperdoável!

Indesculpável também são os presentes. Tudo bem, ninguém está pedindo uma Lamborghini Diablo aos familiares, entretanto, um pouco mais de atenção com a parentela seria aconselhável. Houve um ano que ganhei um penico da madrinha Isaltina. Vendo minha cara de espanto, disse-me ela:

- Seu tio Rô e eu trouxemos de Nova Iorque, é do Philippe Starck...

Em outra oportunidade, a sogra do Adenor me deu um vale-compras da Cobasi. Nem animal doméstico eu tenho. Acabei trocando-o com a prima Sossô, que está com um mini-porco no apartamento da Aclimação, e fiquei com o consolo que ela ganhou no bingo de Belém da comadre Zeni. Sossô já tem três artefatos desses e eu não possuo nenhum pra oferecer a alguma amiga que vem passar o fim de semana comigo. O escambo serviu pra alguma coisa.

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Sendo bem franco com vocês, até a comida ficou mais ou menos nas últimas ceias. Antes era a nora da Juvência que assava o peru, o tender, a leitoa de maçã na boca. Agora arrumou um cargo de confiança na Secretaria da Educação e está gerenciando a merenda escolar na Zona Sul. O tio Paixão disse que a viu num jipe Renegade zerado. Não estou criticando a ascensão social dela, só a velocidade é que não bate. Aliás, por falar em polêmica, vou terminando a minha entrada no whats dizendo uma última coisa: odeio nossas ceias polarizadas.

É batata. Depois da meia-noite começa o padrinho Nenê batendo boca com a prima Claudijane. Ela, que faz doutorado em Cinema, defendendo que Papai Noel é instrumento do capitalismo. Ele, que é militar aposentado, afirmando que o Bom Velhinho é pederasta.

Isso e a Tamires todo Natal trazendo um noivo e se separando dele, antes do pavê de biscoito champanhe chegar à mesa, é insuportável. Aceitem meus antecipados votos de feliz Natal. E um ótimo 2017. Aliás, se for ruim, já vai ser uma beleza. Fui!

P.S.: vou tirar as notificações do whats pra ficar mais relax. Brigaduuuu!

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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