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Opinião|Verissimo na cabeça

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Atualização:

A falta que as crônicas de Verissimo me fazem.

 

(Divulgação) Foto: Estadão

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Falta imensa que fazem as palavras de Luis Fernando Verissimo em nosso dia a dia. A última crônica que li dele foi no Estadão, em 14 de janeiro de 2021. Já lá se vai mais de um ano. O texto recebeu o título de "A Caixinha" e LFV, em seu primeiro parágrafo, abria com esta premissa:

"Discute-se a melhor maneira de punir o presidente Trump por ter incitado a invasão do Congresso e criado as cenas de caos que os americanos não vão esquecer tão cedo."

Em seguida vinham os diálogos surreais, como sempre brilhantes em suas produções, sobre o que poderia ocorrer caso o então presidente Donald Trump fosse acuado pela opinião pública norte-americana.

Verissimo trouxe para o gênero o sintetismo de Hemingway, a ironia de S.J. Perelman, a fagulha de Paulo Mendes Campos.

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Antes dele, o DNA da crônica tinha muito a ver com pais e avós franceses. Desde os antigos folhetins de Delphine de Girardin aos mais recentes, Actuelles", de Albert Camus, "Pretextes", de André Gide, e as crônicas de Robert Escarpit, no Le Monde.

LFV deu novo feitio ao prato, deglutindo o humor anglo-saxão e o restituindo deliciosamente tropicalizado.

Apesar de ter dividido o palco com o mestre num show musical no Salão de Humor de Piracicaba (no final dos anos 1990), nunca chegamos a nos falar mais longamente. Mesmo assim, tenho a honra de ter recebido de presente três apresentações de sua autoria para meus livros "O Caseiro do Presidente", "Clássicos de mim mesmo" e "Frases Desfeitas".

Não faz muito tempo cheguei a combinar com o humorista Fraga, amigo muito próximo a LFV, que iria à Feira do Livro de Porto Alegre e, quem sabe, almoçaríamos uma picanha ao forno na casa do decano dos homens de letras picarescas.

Infelizmente, a oportunidade de estar presencialmente com o mentor não aconteceu. Por razões profissionais não pude viajar ao Sul e logo, em seguida, Verissimo teve problemas de saúde. Some-se ao fato a pandemia e veja-se como tudo acabou ficando inviável.

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No entanto, sempre podemos revisitar a sua obra. Com o banzo que sinto de suas tiradas no Estadão, no O Globo, acabei me pendurando nas 740 páginas de "Todas as Comédias" (L&PM) e voltei a me divertir com a sagacidade de suas Comédias da Vida Privada e da Vida Pública.

Ali estão grande parte de seus heróis anônimos, as fidelidades, as infidelidades, as mesas de bar, o trágico e o cômico do cotidiano. O homem comum, enfim, em meio à escassez de sentido da classe média brasileira.

Ah, como faz falta a opinião desse gigolô das palavras que mescla tão bem indignação com humor. Oxalá retorne logo a seu teclado.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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