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Opinião|Quem gosta de máscara é soldador

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Atualização:

Odeio sair por aí mascarado, mas fazer o quê?

(Pixabay)  

 

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Eu sei que é de uso obrigatório. Mas não gosto de andar por aí de máscara. Em primeiro lugar porque é incômodo. Depois por que me sufoca. E o pior de tudo: para os que usam óculos, ela embaça as lentes.

Dia desses sai de casa atrasado para o dentista. Fui colocando a proteção enquanto andava pela calçada. Por um momento me esqueci que usava óculos e tive a nítida impressão de que chovia. Voltei à casa para pegar o guarda-chuva. O resultado foi que perdi a consulta e ganhei mais um dia de dor de dente.

O ser humano não foi feito para andar mascarado. Se fosse, o carnaval teria 360 dias e o resto do ano cinco. A parisiense Galeries Lafayette, com certeza, também teria filas enormes para que as francesas comprassem as novas burcas assinadas pelo Kenzo.

Porém, como em tudo, há quem pense diferente. Amiga minha contou que, de tanto circular de pano no rosto, acostumou-se. De tal maneira que vai trajar a sua, mesmo após o fim da pandemia.

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Tenho opinião oposta. No dia em que esse surto acabar eu uso máscara para lustrar sapato, coar café e até de suporte atlético nos genitais, menos na cara.

Se a gente analisar bem, a máscara sempre teve um aspecto de disfarce ou camuflagem. Um lado que leva muita gente ao equívoco.

Isso me amedronta. Vai que estou de máscara na frente de um hospital, sou confundido com um médico charlatão e linchado por uma multidão revoltada?

Infelizmente, as aberrações não param por aí. Vejam-se as máscaras de moda. Tem para todo gênero de mau gosto: de boquinha sorrindo, com logotipos de bandas de rock, fotos de cantores sertanejos e personalizadas com os nomes de seus donos.

A pior delas, no entanto, é a de times de futebol. Imaginemos a seguinte situação: um santista encontra um flamenguista na rua. Os dois com os escudos das equipes no carão. O VAR havia anulado dois gols do Peixe, o Urubu levara a melhor. Quando um passar pelo outro, a hipótese de se engalfinharem não é grande? Pois então, num caso assim, adianta estar protegido? No agarra-agarra vai ser um tal de gotícula entrando no corneto nasal médio do outro que nem um escafandro evitaria a contaminação.

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Não conheço todos os países para fazer tal afirmação, mas arrisco dizer que no Brasil temos um problema a mais. Um número considerável de viventes não sabe usar a máscara. Sempre vejo cidadãos com elas na boca, mas não no nariz. O que, caso máscara fosse camisinha, equivaleria a deixar a glande de fora. Talvez para não sufocá-la, mas não me atrevo a dar uma opinião sobre o tema.

Por fim, se o uso é obrigatório, que as usemos. Melhor ser um mascarado, que um mascarado presunçoso.

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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