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Opinião|Os tipos da quarentena

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Atualização:

Os tipos mais presentes na quarentena brasileira.

Imagem de chiplanay por Pixabay Foto: Estadão

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O isolamento social transformou tudo e todos. A começar pelo fígado. Quando a poeira baixar, o Alcoólicos Anônimos vai trabalhar mais do que nunca. Mas não são apenas novos alcoolistas que surgiram na pandemia de coronavírus. Na realidade, pessoas que já possuíam alguma tendência psicológica, com a calamidade e o retiro doméstico, passaram a desenvolvê-la de forma ainda mais exacerbada. Na sequência, alguns dos exemplos mais presentes na reclusão brasileira de hoje.

O MANÍACO POR LIMPEZA: em 20 dias de quarentena passou 18,5 faxinando a casa. A cada 30 minutos, passa um rodo com Cândida nos pisos e joga baldes de água com Quiboa nas paredes dos cômodos. Para que os outros moradores da residência possam usar os banheiros devem antes tirar os sapatos e esfregar os pés com Pato Purific. Dormir, só após uma ducha de WAP.

O PARANOICO: fica 24 horas por dia conferindo notificações no celular com notícias sobre a pandemia. Confere-as depois com as informações dos serviços por streaming da BBC, CNN, The Guardian, Le Monde e emissoras russas e chinesas. Mesmo assim permanece em isolamento completo num armário de tralhas da garagem do edifício.

O ESTOCADOR: com receio de passar fome durante o período de maior curva da epidemia mundial vem estocando ítens alimentícios desde a ceia de Natal de 2018. Em seus sete freezers horizontais possui provisões para alimentá-lo com a família até a próxima Copa do Mundo. Em janeiro desse ano construiu um silo doméstico no fundo do sobrado para estocar grãos. Com o desconhecimento da vizinhança e da municipalidade cria galinhas e porcos na área de serviço.

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A CRIANÇA IRREQUIETA: facilmente reconhecível por já ter furado todos os sofás e poltronas da casa com seus pulos acrobáticos. E ainda por perguntar aos pais, toda hora, quantos minutos faltam para poder sair de casa e ir furar os sofás e poltronas da casa dos amiguinhos.

O PET: a maior vítima da quarentena. Tinha uma existência tranquila antes do isolamento. Os donos passavam o dia inteiro em seus respectivos trabalhos, deixando-o em paz. Agora é afagado, colocado em infinitos colos, lavado, secado e escovado o tempo inteiro. Fora o fato de, de vez em quando, ter instalada uma bombinha no rabo por alguma Criança Irrequieta da casa.

O HIPOCONDRÍACO: aquele tipo que foi dos primeiros a tomar hidroxicloroquina no mundo, por conta própria. Isso até mesmo antes que a droga fosse divulgada pelo presidente Donald Trump e imediatamente pelo seu ajudante de ordens, Jair Bolsonaro. Passa o dia inteiro pesquisando emplastros milagrosos que podem cortar o coronavírus: de café, suco de limão e vodca a chás de folha de abacate e própolis. Em vez de sabonete, no banho usa álcool gel.

O ENTREGADOR: único elo dos retirados com o mundo exterior. Traz medicamentos, hortifruti, comidas prontas, encomendas do Correio e, em alguns casos, vírus para os receptores dos ítens.

O BÊBADO: aproveita o afastamento da sociedade para aproximar-se das bebidas. Os mais simples contentam-se em beber qualquer coisa, desde que possua mais de 40 graus de teor alcoólico. Os mais sofisticados adoram preparar drinques e coquetéis alusivos ao momento, como o exótico Pisco Sars.

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Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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