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Self-service de humor

Opinião|Os quás-quás-quás do idioma

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Atualização:

Os estrangeirismos vieram para ficar na língua portuguesa?



(Reprodução: Gustave Doré)  

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Se tem uma coisa que me irrita são os estrangeirismos da língua portuguesa. My god! Ouvi-los ou lê-los me dá um bug na cabeça. Quanta bullshitagem!

Outro dia fui a um shopping center, ali em downtown, e foi triste demais. Já no parking, o valet vem e me pergunta se eu tinha o card de acess à garage. Precisa chamar tag de card?

By the way, respirei fundo e entrei no mall. Antes de assistir ao remake do Joker queria comprar um mouse para o meu laptop e comer um burguer qualquer. Então dei uma busca no snack bar mais próximo. O que você vê nos menus? Aquela profusão de milk shakes, ice cream sodas, fried potatos, toasts. Devia ter ido a um self-service. So sad, gente.

E a coisa está em todos os lugares. Tipo everywhere, sabe? Não apenas em griffes, mas em qualquer graffiti. Parece até que o cash flow das empresas depende dos estrangeirismos pra ter profits melhores.

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O brasileiro não fala mais português, dá a letra numa língua worldwide, só que ninguém entende. Muito menos os native speaker como eu. Fico me perguntando se não tem a ver com o zeitgeist.

Converse com um boy do Ifood. Ele já vem com uns paybacks, uns pay em cash, uns sales. Disgusting demais.

Será que não era o caso da Academia Brasileira de Letras propor uma détente na situação? Porque ela fica cada vez mais crazy.

Reuniões de job? É a mesma coisa, man. O povo mandando briefing, deadline, inside information, summing up - tudo num mix muito doido. Você não consegue sequer fazer um set-up do que está se passando e já vem uma palavra em outro idioma. Numa mélange linguística dessas, não dá pra tomar pé de coisa nenhuma. Rien de tout, I mean.

Virou uma megablaster Babel em que o self das pessoas foi substituído não só por selfies, mas por palavras completamente nonsense, pra não dizer junk.

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Sei lá, só um desabafo, folks.


QUAISCALINGUDUM

Ele não podia ficar mais um minuto com ela.

- Sinto muito, amor, mas não pode ser - disse, tristemente.

Morava em Jaçanã e, se perdesse aquele trem, que saía às 11 horas, só na manhã seguinte pegaria o próximo. E tinha outra coisa: a mãe não dormia enquanto ele não chegasse.

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- Sou filho único, falou, tenho minha casa para olhar.

E repetiu:

- Não posso ficar...

Mas acabou ficando. A CPTM, pela quarta vez na semana, teve problemas na rede elétrica.

Quais, Quais, Quais, Quais, Quais, Quais!

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Quaiscalingudum!

Quaiscalingudum!

Quaiscalingudum!

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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