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Opinião|O pai acompanhante

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Essa semana faz cinco anos que estive numa maternidade. Obviamente, não fui mãe. Pela quarta vez eu estava sendo pai e, dessa feita, de uma linda menina, a Luísa.

A última oportunidade em que estive nessa condição foi no nascimento de meu filho João, que está com 14 anos. Quando Luísa chegou eu havia me esquecido completamente do que é ser "acompanhante" de uma gestante.

Para visualizar quem é essa figura sociológica lembre-se de quando você vai à uma maternidade e nota, na sala de espera, aquela pessoa com barba por fazer, largado numa poltrona mole assistindo, numa TV de corredor, o programa da Fátima Bernardes. É ele: o pai acompanhante.

O pai acompanhante é como a Arte: importante, mas completamente inútil. Uma excrescência. Ele não dá a luz, não amamenta, não toma medicamentos que exigem receita e não precisa receber nenhuma orientação médica importante. Logo, não serve pra absolutamente nada e, por princípio, pode atrapalhar qualquer um, a qualquer momento.

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Ele é aquele que, quando chega uma visita no quarto está sentado na cadeira errada, o indivíduo que está atrapalhando a passagem da enfermeira que precisa de espaço pra aplicar o Plasil na esposa, o que tinha que se lembrar da vacina da bebê e esquece.

Por causa de todas essas pisadas na bola, o pai acompanhante é mandado ao cartório para registrar o rebento. Saindo do ambiente do quarto vai parar por alguns momentos de ser um estorvo. Mas também vai, na maioria das vezes, errar o nome do filho. Pior ainda: errar o nome da avó materna, vulgo sua sogra. E aí o bicho pega...

Em função de tal destino inexorável - assim como os menores infratores - os pais acompanhantes percebem que, façam o que fizerem, não serão perdoados e logo, não têm mais nada a perder. Uns começam a não tomar mais banho, outros arrotam na frente dos visitantes e os mais radicais desenvolvem comportamentos antissociais dentro da maternidade. Eu juro que vi um pai acompanhante, como eu, chutar a bengala de uma velhinha e, em seguida, fugir pelo corredor do centro cirúrgico usando uma maca de rodinhas como se fosse um skate.

Tudo bem que o homem hoje é o sexo frágil, mas é preciso olhar o pai acompanhante com mais solidariedade, respeito e carinho. Ele é um atravanco, mas a paternidade ainda não foi abolida de nossa Constituição. Ainda.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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