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Self-service de humor

Opinião|Notas remotas de um redator

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Atualização:

Um assunto ainda não desenvolvido aqui.

(Elsemargriet por Pixabay) Foto: Estadão

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Poucas vezes escrevo sobre a minha vida profissional como publicitário. Primeiro, porque só interessaria à minha contadora, depois porque já há uma infinidade de gente dando opinião sobre Comunicação, mais um seria exagero. Que opinemos sobre amor, sonhos, felicidade etc. Só que hoje, até para pausar um pouco a polarização dos temas ditadura-vírus, lhes revelo que sou redator há mais de 30 anos.

Comecei na área quando ainda existiam máquinas de escrever nas mesas. Na época, eu buscava um bom trabalho, como defende o epicurismo, "para encontrar sentido e assegurar nosso sustento básico, qualquer trabalho que seja satisfatório e não perturbe nossa tranquilidade".

Até hoje não sei bem o porquê fui bater na porta de uma agência multinacional à cata de uma atividade harmônica, que garantisse uma vida digna ao meu filho recém-nascido. A parte de pagar as contas, a nova atividade, como copywriter, garantiu por um bom tempo. Já a tranquilidade, não posso dizer o mesmo. E acredito que o desassossego aconteceu por dois fatores: a minha compleição psíquica (sou retraído) e o clima nervoso dos departamentos de criação com suas reuniões intermináveis, conference calls e as estressantes concorrências. Cheguei a trabalhar numa empresa onde havia uma placa na entrada da Criação onde lia-se: "mantenha-se nervoso".

Lá pelos 1980, também havia uma crença. A de que, para você ser alguma coisa, precisava ter mais de 40. Hoje, para ser alguma coisa, é preciso ter menos de 40.

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As coisas mudam, movimentam-se. O filósofo Al-Ghazali, ali pelos anos mil cento e pouco, percebeu que uma árvore se mexe. Pelos nossos sentidos, ela parece tão rígida, mas suas folhas alternam as cores, flores desabrocham dos galhos, formam-se anéis nos troncos e muito outros processos que comprovam a sua mobilidade.

Pensar apenas em termos de 2 +2 = 4, em pleno século XXI, é algo risível. Como também raciocinar apenas no modo "O Senhor é meu pastor". É preciso, para uma vida minimamente pragmática, não ser nem tanto ao científico, nem tanto ao metafísico.

É o que pede o ano 1 a.P. (antes da Pandemia). Diversas práticas ortodoxas de trabalho terão que ser substituídas a toque de caixa, pandeiro e agogô. Sim, o universo com suas cordas unidimensionais não permite estagnação e não gosta que fiquemos na zona de conforto.

Desde o dia 13 de março estou em estado de confinamento doméstico. E fazendo uso, em larga escala do teletrabalho, essa maravilhosa invenção (e aprimoramento) do pessoal 40 -.

Que os 40 +, que hoje administram as grandes agências de publicidade, creiam, sem vaidades, nas mudanças da moçada. E percebam que o home office veio para ficar. Eu, com os meus de 30 e tantos anos de ofício, aprovo. E acho que o Al-Ghazali também.

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Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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