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Self-service de humor

Opinião|Mayday!

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Atualização:

"Vida, minha vida / Olha o que é que fizeram."

(British Library) Foto: Estadão

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Nasci no Piauí e, por causa de uma seca, fui exportado aos dois anos de idade para São Paulo. Meu pai, um respeitado advogado, teve que trabalhar como frentista de posto para botar comida na boca da família. Estudei muitos anos em escola pública.

Em plena ditadura militar, num festival universitário de música, fui retido pela polícia para esclarecimentos por imitar de um jeito trocista certa autoridade constituída. Meses depois arremedei de novo a autoridade constituída para os alunos da PUC de São Paulo.

Um coronel lançou bombas nessa universidade quando eu estudava lá. Uma colega foi ferida gravemente durante a invasão. Dois outros confrades de uma segunda faculdade que cursei sumiram.

Fui às manifestações pela anistia, depois pelas diretas. Subi em infindáveis palanques para apoiar ambos movimentos. Cantei no mesmo tablado ao lado de Chico Buarque, Fagner, Dominguinhos, Paulo e Chico Caruso, Cláudio Paiva e Reinaldo Figueiredo contra o apagão promovido pelo general Newton Cruz em Brasília.

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Trabalhei como eletricista, continuísta e assistente de direção no cinema da Boca do Lixo paulistana.

Fui missivista e aprendiz do contista João Antônio.

Escrevi um livro de crônicas anti-neoliberalismo no segundo mandato de FHC. Soube de fonte segura que dona Ruth comprou a obra na livraria Cultura e levou debaixo do braço pro marido ler.

Entrevistei diversas personalidades, entre elas Oscar Niemeyer e Augusto Boal.

Chamei uma vez ao palco do teatro Lira Paulistana o Tom Zé - completamente esquecido em seu período pré-David Byrne - e ouvi bocejos da plateia.

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Vi o Woody Allen tocando clarineta no Elaine's a dez metros da minha mesa. Conversei, de madrugada, ao telefone com Fernando Sabino, meu colega de crônicas no Estadão.

Ganhei três prefácios de Luís Fernando Verissimo. Dividi a confecção de um roteiro de documentário sobre a bossa nova com o Ruy Castro (que nunca saiu do papel, mas valeu uma amizade). 

Participei de uma final de festival da Globo e ouvi o fragor de um Maracanãzinho lotado vaiando a minha provocativa canção-concorrente. Durante essa estada no Rio disse, ao vivo, para a repórter Glória Maria que a piscina do hotel era melhor que o festival.

Escrevi e lancei 11 livros, dezenas de letras, participei de antologias, ganhei inúmeros prêmios internacionais como publicitário de Criação.

Vi nascer quatro filhos, visitei bem mais de uma dúzia de países como jornalista ou turista. Cobri a maratona de Nova York, visitei Nova Iorque, no Maranhão.

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Trabalhei na DPZ, sob a batuta de Francesc Petit, num dos momentos mais notáveis da agência.

Concorri ao Grammy Latino.

Não posso dizer que não vivenciei experiências incríveis, dolorosas, marcantes, exóticas. Mas nunca vi nada parecido com o que está acontecendo agora por aqui: Kafka hoje não passaria de um Maurício de Sousa.

Apertem os cintos, entramos em estol.

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Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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