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Self-service de humor

Opinião|Leros

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Atualização:

Livre conversar é só confabular.

 

(Mihai Surdu on Unsplash)  

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I. Como dizia o filósofo alagoano Fernando Collor de Mello: o tempo é o senhor da razão. Pois não é que aquele negacionismo presidencial contra as vacinas de Covid-19, as falas duras, para não dizer toscas, agora tiveram a sua explicação? Bolsonaro não queria ser imunizado porque ainda não era a hora certa para sua faixa etária. Agora, sim, chegou o momento de vacinar as crianças de 5 a 11 anos.

II.

Acabou a impunidade na Terra de Santa Cruz. O termo com o prefixo im- (que indica negação) não retrata mais o turbilhão de alforrias aplicadas aos que deveriam ser condenados. Está fundada, assim, a despunidade. Além de indicar negação, o des- assinala reforço. Como em desinfeliz, desimportante, desavergonhar. Despunidade é mais fiel ao que acontece entre nós do que impunidade. Ou o que não acontece.

III.

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O bolsonarismo se tornou uma desculpa para todas as debilidades. O artista-medíocre se igualou ao artista-icônico bastando para isso proferir um "fora, Bolsonaro!". Acontecia fato semelhante na ditadura militar. Se alguém declarasse que uma peça de teatro censurada era ruim, estaria irremediavelmente cancelado por reacionarismo. É sempre bom lembrar: ser antibolsonarista não significa ser formidável.

IV.

Steph Matto é uma influenciadora norte-americana. Ela faturou, até agora, o equivalente a £ 147.000 peidando em potes. Vendia 50 potes com peidos engarrafados, cobrando £ 740 a unidade. Para atender à grande demanda dos clientes, Matto iniciou uma dieta rica em fibras, de modo a produzir mais traques. Recentemente parou num pronto-socorro com dores no peito que aparentavam um ataque cardíaco. É o que acontece com quem vai às vias de flatos.

V.

Foram 40 mil mortes, por guilhotina, na Revolução Francesa. Só no período do Terror, entre 1793 e 1795, seccionaram-se 15 mil cocos do pescoço. O instrumento, além de afiado, era democrático. Desmembrou de operários ao rei Luiz XVI. Da rainha Maria Antonieta ao pai da química moderna, Antoine Lavoisier. Fosse aqui em Santa Cruz, o apagão de dados não nos permitiria saber quantos haviam morrido, muito menos de quem se tratavam.

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VI.

Se Paulinho da Viola se declara um homem do século XIX, me declaro um indivíduo do século XX. Fui educado num tempo em que se valorizava a criatividade. Até as escolas públicas eram experimentais, os professores treinados para fazer os alunos evitarem os maniqueísmos; os trabalhos de faculdade, verdadeiras performances de arte. Agora é a vez da métrica. Em vez de criação, mensuração. Mede-se até a medição. Veremos onde isso dará. E, já que o nosso *Zeitgeist *é esse, aproveito e peço para fazerem um cálculo pelo qual tenho curiosidade. Qual seria o peso da população de seguidores do Mito em toneladas de gado? O número seria maior que o dos bois do agronegócio? Fica o pedido.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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