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Opinião|James Bonzo, agente secreto

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Foto do author Carlos Castelo
Atualização:

Meu nome é Bonzo. James Bonzo.

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Na verdade, este é meu codinome. Bizarro, já me disseram. Mas o cara que criou a denominação é o mesmo que batiza as operações da PF. E quer coisa mais bizarra que uma operação se chamar Praga do Egito, Lion Tech, Castanhola?

Pra vocês eu digo, sou um agente secreto: mais precisamente agente para operações especiais, matrícula AI-OO5 - atualmente lotado no Ministério da Pesca.

Parece brincadeira, mas a situação dos arapongas brasileiros é muito, muito estranha. Outro dia fui convidado para a 27ª Feira de Utilidades para Agentes Secretos, no Anhembi. Disseram que ali havia desde disfarces incríveis, como o de um Papai Pig inflável, até grampeadores de telefone com sachê floral. Uma oportunidade única de atualizar meu lado profissional.

Mas fui obrigado a negar o convite.

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Adianta ir a um evento desses sem verba de representação nem pra comprar um isqueiro lança-chamas coreano? Além do mais, uma pessoa de meu gabarito não poderia aceitar vir de Brasília a São Paulo por via fluvial.

A imprensa diz que o ajuste fiscal vai deixar de pagar a educação, a saúde, a cultura. É porque não sabem da missa a metade o que acontece no serviço secreto. Pois é, o buraco é mais embaixo. Duvida? Então saiba como foi minha última missão.

Recebi uma carta do QG na minha residência - não tenho acesso à internet - em Ceilândia.

O general L.M. me dava ordens de seguir J.S., um fundamentalista do Oriente Médio, em sua passagem por Brasília. Na carta dizia apenas onde o "Jidahista" estaria hospedado e que eu deveria fazer um relatório sobre sua movimentação, enviando tudo depois em três vias para o tenente-coronel S.G.

Mandei um beijo na minha patroa, a Gérsan, outro no meu vira-lata Agepê, e sai do barraco rumo à Asa Sul. Antes dei uma parada no Bar do Nicolau e, imitando o Nero Wolfe, meu detetive do coração, tomei um rabo-de-galo e comi um bolovo. O ônibus, como sempre, seguiu lotado e quentíssimo. Acabei cochilando.

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Bem mais tarde despertei, todo suado, dentro de um barracão.Tentei me mexer, mas reparei que estava amarrado e amordaçado.

Tinham me sequestrado.

Pensei na hora que eram terroristas do Estado Islâmico, mas eram dois pivetes. Quando tiraram o pano de minha da boca, lhes disse em tom ameaçador:

- Sou agente secreto.

Olharam-me com desprezo. Um deles ordenou ao outro:

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- Libera. Mas dá dois passes de ônibus que o cara é lesado.

Humilhado, fui ao endereço citado pelo general. Era uma pensão domiciliar. A dona me informou:

- Tinha um turco aqui, mas acabou de sair pro aeroporto. E tava com pressa...

Vi uma bicicleta em frente à pensão. Era do caçulinha da matrona.

Odeio fazer isso. Mas não tive outra alternativa senão subir na bike e sair gritando avenida afora:

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-  Exproprio essa Caloi em nome do governo federal brasileiro!

Cheguei ao aeroporto 90 minutos depois. No balcão da companhia aérea uma atendente loura me informou que J.S. acabara de decolar rumo ao Iraque.

Fim da missão. Só me restava uma coisa: ir ao Habib's e comer uns quibes.

Nero Wolfe entenderia o meu lado.

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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