Foto do(a) blog

Self-service de humor

Opinião|Faquinha de plástico na caveira!

PUBLICIDADE

Foto do author Carlos Castelo
Atualização:

Estávamos ansiosos para saber como foi seu primeiro dia de aula. Então ele nos contou.

 Foto: Estadão

(Foto: Carlos Castelo)

PUBLICIDADE

Nosso filho começou na escolinha. Escolhemos uma bem perto de casa por possuir uma boa infraestrutura. Estávamos ansiosos para saber como foi seu primeiro dia. Ainda meio excitado, ele nos contou:

- Foi bem legal, só achei chata a ordem-unida.

Quisemos saber o porquê daquilo. Mas como ele responderia se aquela era a primeira vez que pisava numa escola? Certamente achava que todas eram uma espécie de Escola Superior de Guerra.

Publicidade

- E depois, que brincadeiras fizeram? - quis saber a mãe, já roendo as unhas.

- Muitas, gostei mais do afogamento - ele respondeu.

- Como assim? - dissemos a mãe e eu, quase em coro.

- Um garoto enfia a cabeça de outro num balde cheio de água. Ele perde se pedir pra tirar a cabeça.

Quisemos ver a cartilha de alfabetização. O nome era bem sugestivo: Caminho Suave, Nunca.

Publicidade

Desesperada, a mãe me encarou dizendo:

- Ele não pode mais ir a essa escola!

O olhos do garoto se encheram de lágrimas:

- Poxa, logo agora que a gente ia ter aula de tiro...

Decidi, ao levá-lo na manhã seguinte, ter uma conversa com a coordenação pedagógica. Havia lá dentro um número grande de pais queixosos como eu. Curiosamente, todos estavam dentro do campo de futebol, separados do entorno. De vez em quando um professor fardado gritava o número de uma senha e um pai era levado dali. Demorou bastante até que chegasse minha vez, contudo, esperei pacientemente. Do campo fui conduzido até a diretoria. Lá, o administrador me recebeu com um longa continência.

Publicidade

Como não dizia nada, fiz uma pergunta:

- Eu não sabia que tinha matriculado meu filho numa escola militar. Afinal, qual é a linha de vocês?

O administrador não disse nada. Fez apenas um gesto rápido com a cabeça. Um bedel achegou-se e acendeu um pesado holofote diante de meus olhos. Cego, só ouvia a voz grasnadora do chefão da escolinha:

- A nossa linha é a seguinte, pai: aqui quem faz as perguntas somos nós.

Durante 40 minutos, que pareceram 40 dias, fui interrogado, nos mínimos detalhes, pelo administrador e todos os professores.

Publicidade

Mais tarde me obrigaram a assistir à uma aula de Educação Moral e Cívica, junto com outros pais de alunos, e fazer uma prova escrita sobre os pontos abordados. 

Chegando em casa convenci a esposa de que seria melhor o garoto continuar frequentando a escolinha. Até agora, ela não se conforma com meus argumentos ("disciplina é melhor a mais que a menos"), mas acabou aceitando devido à minha insistência.

Amanhã o menino terá palestra com um major da Aeronáutica sobre código morse e uma simulação de guerra na brinquedoteca.

Semana que vem,  começam os estudos de campo: cinco dias em Altamira com aulas de sobrevivência na selva.

Faquinha de plástico na caveira!

Publicidade

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.