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Self-service de humor

Opinião|Diário de um classe média

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Atualização:

QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL

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Reunião em família. Irene chorou muito. Os meninos ficaram assoando o nariz. Mas, em horas assim, é preciso saber abrir mão do supérfluo. O importante é que todo mundo esteja vivo, com saúde. Tem o sofrimento de entregar a cachorra para o Canil da Polícia Militar, eu sei. Ainda mais depois de termos soltado os periquitos e colocado a tartaruga no lago do Ibirapuera na semana retrasada. Mas passa. Além do mais, 50 e tantos paus num saco de ração pra bicho não há desempregado que suporte.

SEXTA-FEIRA, 10 DE ABRIL

Happy hour na casa da sogra. Conversa boa, cervejinha, até que se tocou no assunto "dinheiro". A mãe da Irene não se conforma da gente ter vendido nossa única vaga na garagem do prédio pra pagar sete meses de condomínio atrasado. Mas pra que vaga se não temos carro desde de 2012?

SÁBADO, 11 DE ABRIL

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Fizemos umas contas e decidimos cortar a água mineral em galão que a bicicleta entregava toda semana. Vamos beber de reuso mesmo, que é tudo H2O. E ainda ajuda na economia que a Sabesp pede tanto. Amanhã a Irene vai dispensar a diarista - que estava vindo trimestralmente. Nós dois e os meninos vamos lavar, passar e cozinhar. Abolimos também o cafezinho e os refris que estão pela hora da morte (a saúde agradece, é tudo veneno!).

DOMINGO, 12 DE ABRIL

Conta de luz chegou. Vamos precisar passar um dia sim, e outro não, sem usar nada elétrico. Vai ser um exercício de criatividade. A Irene sugeriu que a gente arrancasse os chuveiros. Daria uma economia de 25-30% na luz. É torcer pra sinusite do Thiago não piorar com os banhos frios. Se o menino cair doente, como é que faz sem plano de saúde? Arriscar, né? Nome sujo de novo, never. Falando em saúde, no começo da noite a Karina se queixou de dor de dente. A Irene queria levar num pronto-socorro odontológico. Mas fizemos um chá de capim-limão e mandamos ela tomar. Aquietou-se.

SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL

Manhãzinha, a Karina começou a se queixar da dor no diabo do dente. Percebemos que era do aparelho. Chamamos um vizinho que é marceneiro e, com jeitinho (e uma boa chave-de-fenda), ele conseguiu puxar direitinho o aparelho da boca da menina. R$ 170 de manutenção mensal economizados. Uhu!

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TERÇA-FEIRA, 14 DE ABRIL

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Pessoal da tevê a cabo esteve aqui pra retirar o equipamento. Disseram que tinha uma taxa pra desplugar. A Irene cresceu em cima dos técnicos. A sorte é que, bem na hora do esporro, entrou o rapaz dos Correios com o extrato do cartão de crédito. Abri o envelope e comecei a praguejar. Eram as prestações da viagem pro hotel-fazenda. Junto, uma carta dizia que o cartão tinha me botado no pau por falta de pagamento. Os caras do cabo ficaram com pena e liberaram a taxa de corte.

QUARTA-FEIRA, 15 DE ABRIL

Supermercado. Eu no carrinho, a Irene na calculadora. O dinheiro só deu pra comprar arroz e palitos Gina. É o terceiro mês que não se compra produto de limpeza pra casa. O negócio é ir reciclando palha de aço enquanto o país não melhora.

QUINTA-FEIRA, 16 DE ABRIL

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Reunião em família. Irene chorou muito. Os meninos ficaram assoando o nariz. Chegou o parcelamento do banco e tivemos que abrir mão da gata Bruna. Vai pra um condomínio da Associação dos Professores Estaduais do meu sogro em Bertioga. Fazer o quê?

Mas uma coisa já ficou prometida aqui em casa. Quando a economia ficar mais sussa, a gente compra um sítio e faz "aquela" criação de gatos, cachorros, passarinhos e tartarugas. Voltamos a ter chuveiros elétricos no box, a beber água mineral de galão, cafezinho expresso, reinstala-se a TV por assinatura, renova-se o plano de saúde, compramos Pato Purific e até endireitamos os dentes tortos da Karina.

É só ter mais um pouquinho de paciência, um tiquinho só.

É pedir demais?

 

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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