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Opinião|Decálogo do verdadeiro comediante de stand-up

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Atualização:

(Pierre Rosa por Pixabay)  

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Dizem os entendidos que as origens do stand-up remontam aos pregadores protestantes da Europa e da América do Norte. Com uma diferença: os preachers falavam o idioma de Deus; os comediantes, a língua do Diabo.

Como a Coca-Cola, o jeans e Hollywood, o stand-up acabou desembarcando por nossas paragens. E coincidentemente (ou não) quando os evangélicos estão se tornando um espinho na unha de dois papas ao mesmo tempo.

Quem assiste, contudo, certos espetáculos nota que já começaram a esculhambar os ditames da coisa. E não me venham dizendo que a coisa é tropicalista ou antropofágica: pra mim é desconhecimento das regras da arte.

Fora ficar de pé e segurar um microfone, stand-up é juntar uma série de piadas que tenham começo, meio e um twist no final. Simples assim. Qualquer coisa diferente da fórmula descrita é solilóquio, discurso de formatura engraçadinho, tudo, menos stand-up.

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Pensando no tema decidi postar este pequeno texto inspirado no clássico "Decálogo do Verdadeiro Humorista", criado por Millôr Fernandes no tempo em que sarcasmo ainda era chamado de pilhéria.  Seguem as minhas observações.

Caso não concorde entre num cursinho online de comédia em pé, vá fazer seus shows no Lions Club de Buriti dos Lopes e esqueça o que leu aqui:

  1. Fazer stand-up não é inventar personagens, isso é a Praça da Alegria, não comédia em pé.

2. Não basta ter uma cara engraçada para ser engraçado, é preciso saber escrever um material decente.

3. O stand-up, por si só, é minimalista: uma pessoa e um microfone. Ele é para o humor o que a bossa nova é para a música. Bancar o Pavarotti das anedotas vai ficar exagerado, para não dizer idiota.

4. O palavrão, no stand-up, é um recurso de merda que fode qualquer espetáculo a médio prazo.

5. Piada é uma crítica sócio-comportamental, não uma aplicação de renda fixa.

6. Lembre-se sempre: você não é um pop-star. É apenas um bobo da corte em tempos de redes sociais.

7. Todo cidadão tem o direito de apoiar correntes políticas. Mas o humorista não é um cidadão, é uma hiena no meio da savana. E hienas não tem ideologia.

8. Não há fórmula para se fazer humor. Participar de workshops visando aprender stand-up é como fazer um curso de educação a distância para ser astronauta.

9. Criar um estilo não é imitar um estilo. Isto chama-se plágio e o Macaco Simão copia melhor que você.

10. Evite piadas com freiras. Dá azar.

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Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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