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Opinião|Caros amigos da ética

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Foto do author Carlos Castelo
Atualização:

Como eram bons os tempos do pré-fake news.

(Pixabay)  

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O diretor-geral do Instituto Federal do Paraná, e doutor em História, Rodolfo Fiorucci, escreveu uma dissertação sobre a revista Caros Amigos em 2009. Apresentou-a na UNESP, para a obtenção do título de Mestre. O livro, com a minuciosa pesquisa, será lançado em breve.

Infelizmente, só tive acesso ao material há um mês. Durante a existência dessa publicação escrevi quatro reportagens e 79 artigos de humor, a partir do número 40.

O trabalho do professor Fiorucci me mostrou algo importante que não havia percebido naquela época. Mal sabia eu que minha modesta participação, como humorista, ajudou a desencadear uma grande reformulação nos tons e maneiras da Caros Amigos. Veja o que diz o professor neste trecho de sua dissertação:

 "O interessante é que Caros Amigos descobriu com o tempo que, para passar uma mensagem e ser de esquerda, para orientar e formar espírito crítico, não seria necessário apenas textos herméticos e sisudos. Daí começaram a lançar seções menos densas, como foi o caso de "O caseiro do presidente" e "A consciência de Inácio", ambas escritas por Carlos Castelo, de cunho humorístico, e que não deixaram de discernir sobre os governos de FHC e Lula, respectivamente.

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Ele segue, mais adiante, explicando a continuação das mudanças na revista após o término do governo FHC:

Castelo lançou nova seção, dedicada ao novo presidente, "A consciência de Inácio", que figurou nas páginas de Caros Amigos entre as edições 69 e 77. Apesar de essa coluna apresentar-se menos contundente do que "O caseiro do presidente", até mesmo com algumas defesas a Lula, o que predominou no humor foi a crítica - apresentava-se um presidente cuja consciência pesava frente às atitudes do próprio governo. Contudo, foi "Bulhufas" a seção com a maior ocorrência durante o mandato de Lula, 37 vezes até dezembro de 2006. Ali Castelo tanto defendeu - poucas vezes - como atacou o presidente. Sendo espaço de humor dentro da publicação, veiculou artigos mais leves e irônicos, lançando mão de frases curtas satíricas no "Aboboral" - uma subseção dentro de "Bulhufas".

Outro fato a ser lembrado, e louvado, é a independência editorial da revista comandada por Sérgio de Souza. Como podemos ler nesta passagem da tese

A revista Caros Amigos (1997-2006) e os governos FHC e Lula: Nova imprensa alternativa, política e publicidade:

 "Trata-se de observar que, em Caros Amigos, não existiu engajamento coordenado e sólido em determinada direção durante todo o primeiro mandato de Lula, o que rebate a ideia de que o mensário tenha funcionado como cabo eleitoral do PT.

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Mais adiante, a conclusão:

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"O que importa nesse contexto, é que Caros Amigos manteve a prática de um jornalismo sério e analítico, não fechando os olhos para os problemas de um governo de esquerda que, de certa forma, apoiou num primeiro momento. Ainda que tenha atuado de maneira a desmoralizar a oposição de Lula, não escondeu e nem mesmo censurou em suas páginas os ataques muitas vezes contundentes contra o PT, pelo contrário, contribuiu para uma discussão que contrapôs análises e opiniões divergentes."

 MORAL: Felipe Neto, antes de dar sermão sobre qualidade jornalística, vá se informar como a Caros Amigos trabalhava.

 

 

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Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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