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Opinião|Blindam-se políticos. Tratar aqui.

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Atualização:

Uma crônica do passado que continua (infelizmente) atual.

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Até bem pouco tempo, a blindagem era feita exclusivamente em tanques de guerra ou encouraçados da Marinha.

Alguns anos mais tarde, com a explosão dos automóveis dos militares que faziam a guerra, passou a ser colocada nos veículos deles também.

Mais um pouco e começaram a instalar esse tipo de proteção em carros de cidadãos comuns, que temiam a guerra civil em seus países subdesenvolvidos.

Hoje, a blindagem está disseminada por toda a sociedade.

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Tem até janela de boteco blindada em certas favelas do Rio.

Mas o mais curioso acontecimento dos dias atuais é a blindagem de gente. Em sua maioria, autoridades da política.

O político participa direta ou indiretamente de alguma falcatrua e seus aliados já dizem logo:

- Não tem saída, agora só blindando.

O hábito vem ganhando corpo e pode alterar profundamente muitos de nossos usos e costumes.

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- Epaminondas, você fez bronzeamento artificial e a máquina deu curto-circuito?! Meu amor, você tá da cor de uma pedra de carvão!

- Que nada, Isolda, isso é o insulfilm que o pessoal do partido resolveu aplicar em mim pra evitar as calúnias dos meus desafetos.

Ou ainda:

- Apaga a luz, vai, querida, tô cansado. Essas investigações não acabam nunca, tô só o pó.

- Huuum, tadinho. Vem cá, me dá um abraço e um beijinho antes, vem!

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- Ai, sei não, tô só o bagaço. Outra hora a gente...

- Eu cuido do meu ministrozinho, deixa comigo.

- ...

- Ui! O que é isso em você, Trozinho?

- Eh...

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- QUE É ESSA COISA DURA?

- Ué?

- PARECE UMA CASCA DE BESOURO - AGH!

- Não te falei que me blindaram, não?

A blindagem de políticos tem tudo para ser o fenômeno social da década. Ninguém vai se assustar mais ao ler um classificado de jornal assim:

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"Parlamentar experiente, seminovo, sem partido e totalmente blindado procura Câmara Municipal turbulenta para promover conchavos e fechamento de acordos espúrios entre agremiações.

Tratar Lago Sul QI 1117, Brasília-DF".

Ou mesmo se o jornal televisivo noturno disser algo dessa ordem:

"Últimas notícias. O presidente seguiu hoje pela manhã para a Alemanha. Ali, nas instalações da antiga fábrica de tanques Panzer, recolocará uma nova blindagem mais resistente, evitando com isso o vandalismo da oposição. Boa noite...".

No frigir dos ovos, só uma coisa seria desfavorável à nova tendência: a inexorável burocratização da blindagem. Se for preciso, como acontece nas repúblicas, aprovação federal para que se proteja alguém, vem aí mais corrupção.

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Assim como o "habite-se", o "blinde-se" pode gerar mais uma vergonha nacional: o blindoduto.

(Não sou de requentar crônicas, mas o momento pediu esta. Ela saiu em meu livro "Clássicos de Mim Mesmo", da Matrix Editora, em 2015).

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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