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Opinião|A violência e as penas

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Atualização:

Depois do famoso episódio do "Pombo da Sé", a vida da cidade mudou.

(Pixabay) Foto: Estadão

 

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Sempre acharam exagerada a profecia de Alfred Hitchcock em seu filme "Os Pássaros". O cineasta defendia que esses seres alados poderiam, um dia, atacar humanos de modo inesperado e violento.

Mas o descrédito ao mestre do suspense durou até o dia do famoso episódio do "Pombo da Sé".

Foi numa tarde comum de uma terça-feira ainda mais genérica. Office-boys passavam alvoroçados pelas calçadas da área mais central de São Paulo, assim como contínuos, escriturários e tantos outros trabalhadores paulistanos.

De repente, um grito tenebroso ecoou.

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Segundo a polícia técnica informou mais tarde, um crime tivera lugar ali. Um pombo acertara a aorta de uma idosa com seu bico, deixou-a sangrando como um peru degolado. Depois fugiu voando com carteira da senhora pendurada em suas patinhas.

Câmeras flagraram o momento em que o animal, de forma completamente errática, deu um sobrevoo sobre o banco de praça e atacou a pobre mulher.

O fato foi registrado na delegacia mais próxima. Contudo, estava apenas começando ali a onda de horror e violência aviária na cidade.

Dois dias depois do latrocínio da Sé, 49 pardais foram capturados quando tentavam linchar um homem no Brás. O cidadão, cujo nome não foi revelado, estava a caminho do Mercado Central - onde fornecia gaiolas e cercados para aprisionar patos e marrecos - quando sobreveio o ataque. Um juiz pediu a prisão preventiva dos pássaros, mas o advogado de uma ONG de defesa da fauna entrou com uma liminar; os animais responderão o processo voando em liberdade.

Fato ainda mais inusitado teve lugar logo após essa tentativa de linchamento por pardais.

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Um grupo de bem-te-vis de papo amarelo, mancomunados com sábias-laranjeira, invadiram um supermercado de produtos para pets, renderam os caixas e fecharam as portas do estabelecimento.

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Até o momento ainda estão dentro do estabelecimento cerca de 17 pessoas. A polícia tenta uma negociação inédita usando um pombo-correio, uma cacatua e um papagaio treinados às pressas para mediar o conflito.

Segundo informaç?es preliminares fornecidas pelo louro, os bem-te-vis e sábias estariam pedindo pela libertação dos reféns sacas de alpiste e quirera. Mais a garantia de que não serão estilingados ao deixarem o prédio.

Psicólogos e veterinários especializados em comportamento de aves ainda não sabem precisar o novo fenômeno. Alguns arriscam o palpite de que o surto de violência poderia estar ligado a um vírus semelhante ao da gripe aviária. Outros creem que sejam traumas adquiridos ainda na chocadeira pelos pássaros.

Polêmicas à parte, o que ocorre é que a onda de crimes envolvendo aves segue crescendo a ponto de deixar o filme de Hitchcock pinto perto do que se vê nas ruas.

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O maior temor das autoridades, entretanto, é de que os atos criminosos cheguem às galinhas. Isto porque, além de serem milhões e milhões, elas trazem um ódio represado por milênios de escravidão e execuções diárias.

Se esse fato ocorrer todos concordam que, para a sociedade e a democracia, será uma pena.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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