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Opinião|Zumbilândia

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Atualização:

A gente vê essas coisas na TV por assinatura e pensa que nunca vão acontecer. Mas não é que cheguei pra trabalhar no escritório e um colega nosso tinha virado zumbi?

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Trabalho com carteira assinada há 30 anos e achava que já tinha passado por tudo, mas um sujeito que atua no mesmo ambiente que você virar um morto vivo, por essa eu nunca esperava.

Foi na quinzena passada. Como sempre faço, às segundas-feiras, antes de começar a pegar no breu pra valer fui buscar uma água gelada na copa, um café e perguntar aos outros como tinha sido o fim de semana.

Ao voltar do bebedouro senti algo estranho. Mais especificamente nas mãos. Caía uma baba gosmenta sobre elas. E, quando levantei a vista, vi aquele monstro de boca arreganhada na minha frente.

- Calma, Eurico, isso é só uma segunda-feira, sempre acaba numa sexta e todos vamos tomar umas cervejas! - lembro-me que lhe disse em tom apaziguador.

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Contudo, para meu espanto, o antes compreensivo e meigo companheiro de lida, agora lançava computadores no chão e rasgava todo e qualquer papel que encontrava pela frente.

Pode parecer incongruente, mas naquela hora não fiquei em pânico. Há alguns meses acontecera um trote com um outro amigo nosso do Financeiro. Contrataram uma transformista no dia de seu aniversário para entregar flores e lhe beijar em pleno ambiente corporativo. O fato foi captado pelos celulares de todos e amplamente postado nas redes sociais.

Não era meu aniversário, no entanto, poderiam estar fazendo um trote comigo também, vai saber. Era melhor manter a calma para não passar de idiota na frente dos outros.

A questão era que ninguém aparecia para dizer que era tudo uma pegadinha. E o Eurico já esmigalhara um MacBook Pro, um laptop, dois mouses wireless e a impressora do andar. Se fosse uma brincadeira era bem realista.

Fiquei na minha. Recordei-me que uma vez vi num filme que se o cara não dá muita trela pra um zumbi, ele acaba desencanando e indo procurar outra vítima.

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Às vezes, Hollywood nos ajuda em coisas práticas da vida. Não é que o Eurico, de repente, depois de quebrar tudo a seu alcance, pulou pela janela e começou a correr feito um louco atrás de uma matrona do RH?

Passaram-se três dias e não se falava nada sobre o episódio. Depois de um lapso de tempo cruzei com o Aristides, de Compras, no café e resolvi indagar.

- E o Eurico, ninguém mais viu?

- Com ar distante, ele me informou:

- Não soube? Foi promovido. Está tocando o escritório da Paulista.

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- Bateu uma confusão na hora.

- Promoveram? Como assim?

- Pelo perfil agressivo dele. Sem ser colérico hoje em dia não se chega a lugar nenhum no mundo dos negócios.

Na hora me senti um fantasma. Mas já estou exercitando as mandíbulas pra morder melhor o teclado.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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