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O saber dos pais, as invenções dos filhos e o conhecimento dos especialistas

Mamadeira X alimentação - o embate entre sugar ou mastigar

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Por Marta Gimenez Baptista
Atualização:

Uma das questões recorrentes na clínica fonoaudiológica é sobre o uso da mamadeira. É recomendado ou não?

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Nos cursos para pais que se preparam para chegada de seus bebês, o uso de mamadeira, assim como da chupeta, está entre as primeiras perguntas da lista direcionada aos fonoaudiólogos. Como profissional deveria dizer que o uso não é indicado, porém respondo que deve ser usada dependendo do caso, considerando que a mamadeira foi inventada como um dos utensílios para o bebê, e tem uma função clara: substituir a amamentação ao seio quando isso não é possível. Utensílio útil se pensarmos que há muito não contamos com amas de leite, como em outros tempos (conta nossa história...). O que fariam as mães que sofreram de alguma enfermidade sem poder amamentar seus filhos? E as mães adotivas? E as mães que trabalham fora de casa, deixando seu filho em um berçário, na creche ou ao cuidado de outros?

Mas a natureza é sábia, diz o provérbio, e o desenvolvimento do bebê vai nos mostrando as novas necessidades do pequeno que cresce e por volta dos dois anos deixa de ser um bebê e passa para condição de menino ou menina.

Quando olhamos para uma mamadeira imediatamente pensamos num bebê. Ninguém olha para uma bicicleta e se lembra do mesmo. Aprendi com minha mãe, que aprendeu com sua mãe, que a criança tem que ser respeitada, além de amada, e conseguir ajudá-la a atravessar as dificuldades, fazer a passagem para nova idade é tarefa dos pais. Sustentá-la na condição de maior significa considerá-la, escutá-la e não infantilizá-la, confundindo-a, a ponto de oferecer-lhe com uma mão a mamadeira e com a outra um super lápis para que escreva em letra cursiva.

Ajudar uma criança a atravessar algumas dificuldades faz parte da criação, e segurar sua mão, seguindo pela estrada da vida, é papel fundamental do adulto, que acredita e direciona a criança a dar seus próprios passos nesse caminho.

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Entre os dois e três anos a arcada dentária da criança está desenvolvida e, portanto, a natureza nos confirma, os dentes estão para mastigar e não para sugar; nova necessidade se apresenta e é por isso que os pediatras orientam as mães dos bebês sobre a passagem dos alimentos: primeiro o leite, depois os suquinhos, as papinhas de frutas e então as sopas, para finalmente chegar à alimentação no padrão do adulto, nas devidas proporções, é claro!

O bebê já deve estar preparado pra receber seu prato de arroz com feijão quando está com um ano de vida aproximadamente.

Alguns pais me procuram angustiados porque o filho não está conseguindo se alimentar. Não aceita comida salgada, apenas doces, ou quer tomar leite todo tempo, ou ainda nunca tem fome nas refeições, só dorme se mamar ou toma leite apenas na mamadeira. Muitas vezes esse histórico está associado ao uso tardio de mamadeira e também a um quadro de alterações na fala.

A questão alimentar desencadeia na família um movimento tamanho que todos ficam envolvidos, os pais, as tias, as avós, a escola. Em alguns casos é preciso da ajuda de um profissional, pois a criança começa a perder peso, ou não consegue mastigar porque nunca o fez. Comer também é um aprendizado! Espontaneamente só vamos ver uma criança pedindo brócolis aos cinco anos de idade na propaganda da televisão.

O momento da alimentação deve vir associado com prazer. O visual do prato é muito importante; não é a toa que nos desenhos animados vemos salivar o personagem, que tem fome, quando olha para um frango assado suculento atrás da vidraça. Pode ser associado a bons momentos, onde a criança pequena come em frente a um adulto e não assistindo televisão ou Ipad. A figura do adulto não é substituída pelos aparelhos, não se enganem! Não é a mesma coisa. O adulto conversa, conta histórias, canta em interlocução com a criança.

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Quanto mais tarde for tirada a mamadeira, mais difícil será de fazê-lo e o estrago está feito, não só na restrição dos alimentos, mas também pode interferir no crescimento orofacial dificultando a mastigação e até a fala. Esse é o lado técnico.

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Mas prefiro destacar aqui o lado social, pois uma criança com mamadeira fora da idade fica no lugar de menor, de frágil, de quem depende do outro, na linha do "quem não chora não mama".

Continuar usando mamadeira após os dois ou três anos de idade só infantiliza, na contramão da necessidade de uma criança em pleno desenvolvimento. Além de muitas vezes criar uma dependência, e, portanto, a criança só consegue se alimentar com a mamadeira.

Lembremos que mamar é um ato gostoso e prazeroso e por isso tão difícil de deixar pra trás. Que tal descobrir outros prazeres junto às crianças que combinem com suas novas idades?

 

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