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Dicas e curiosidades sobre animais

Por que ainda existe rinha de animais?

Nesta semana, voltou à tona o assunto rinha. Desta vez, devido a um flagrante em Mairiporã com 19 cães da raça pitbull. Das quarenta pessoas detidas, somente uma permanece presa. Essa é só mais uma das situações conhecidas pelo interior do Brasil. Mas por que rinha de animais é tão atrativa?

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Foto do author Luiza  Cervenka
Por Luiza Cervenka
Atualização:

Marcia O'Connor/Creative Commons Foto: Estadão

Rinha de pitbull

Diversas pessoas, incluindo defensores da causa animal repostaram um vídeo no qual aparecem diversos homens sentados na área da rinha, enquanto policiais, em pé, falavam de forma coerciva. Em um dos trechos do vídeo, aparece um médico sendo questionado agressivamente pelos policiais.

 Foto: Divulgação Polícia Civil Paraná

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Além de um médico, havia no local um médico veterinário. Ambos cuidavam dos animais feridos, após os confrontos. Daí a indignação da maioria dos que assistiram ao vídeo. Dos animais resgatados por ativistas e ONGs, quatro já foram a óbito. Os que estão vivos, estão gravemente feridos e com problemas de saúde.

Como em pleno século XXI, quando criamos cães como filhos, ainda exista eventos como esse?! Infelizmente esse não é um evento isolado. Apenas foi o que ganhou a grande mídia. Animais (cães, galos e pássaros) são criados e treinados para competição. Existe uma explicação científica para pessoas gostarem e sentirem prazer com esse tipo de atividade.

Rinha de galo

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Vale ressaltar que eu sou absolutamente contra rinhas ou qualquer prática que envolva maus tratos de animais. Estou aqui para entendermos o comportamento natural humano, que há por trás de todo esse horror.

Explicação científica

O ser humano é um animal social. Como tal, vive em grupos. Para seus semelhantes há coesão e cooperação. Do contrário, o grupo não se mantém. Todavia, há um limite máximo de pessoas para que as regras sociais sejam cumpridas. Quando passa deste limite, começam as infrações sociais e as brigas. Normalmente, isso culmina com a quebra do grupo. Mesmo sendo inicialmente semelhantes, com a ruptura, há as diferenças e os conflitos. Um grupo passa a tentar mostrar soberania sobre o outro, para garantia de alguns recursos, como alimento e opções de parceiros sexuais.

Ganhar qualquer tipo de confronto ou atingir um objetivo libera dopamina. Um neurotransmissor, a dopamina é liberada em circunstâncias agradáveis, desencadeando impulsos nervosos, que levam a uma sensação de prazer e bem-estar. Alimentos saborosos, sexo, jogos e drogas são alguns exemplos de situações que estimulam a ação da dopamina.

A sensação de poder e soberania perante outro animal, da mesma ou de outra espécie, também pode liberar dopamina. Esta sensação pode ser intensificada quando decorrente de uma situação proibida. Além da dopamina, há liberação de adrenalina (o mesmo hormônio liberado na prática de esportes radicais).

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Voltando à rinha

Não estou defendendo nenhuma das pessoas envolvidas na rinha, mas o que os policiais fizeram com os infratores foi o mesmo feito pelos infratores com os animais: garantia de poder e soberania. E diversas pessoas se sentiram vingadas ao observar a humilhação sofrida pelos envolvidos na rinha. Mesmo diante de tanta atrocidade com os animais, assistir ao vídeo pode liberar a mesma dopamina.

Enquanto nós, serem humanos, tivermos necessidade de humilhar alguém para ter a sensação de poder, os animais estarão fadados aos maus tratos. Seja em uma rinha ou apanhando dentro de casa.

melgupta/Creative Commons Foto: Estadão

Vale lembrar que os policiais do Paraná só chegaram a essa rinha, devido a uma investigação iniciada no interior do estado, com criadores e treinadores de cães da raça pitbull. Então, não é apenas o médico veterinário ou os apostadores que estão cometendo crime. A cadeia de atrocidades começa muito antes, desde a criação destes animais.

A grande questão é que esse tipo de criador e treinador não sobrevive financeiramente apenas de cães de rinha. Eles vendem e treinam cães para tutores que desejam ter um lindo animal de estimação. Então, enquanto alimentarmos o mercado de criadores de fundo de quintal ou de treinadores não qualificados, podemos estar incentivando práticas como as rinhas.

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Esse flagrante só ocorreu devido à eficácia da Polícia Civil do Paraná. Já imaginou quantas são as rinhas que acontecem em diversos outros estados, com menor efetivo e cidades com difícil acesso?! Infelizmente não foi a primeira e nem será a última. Inclusive, no mesmo final de semana da rinha de Mairiporã, foi recebida uma denúncia anônima sobre outra rinha. Dessa vez na cidade de Itu. Mas ter a consciência do porquê isso acontece, ajuda a ter menos ódio de quem pratica. Mas isso não os torna menos culpados. Todavia, expor ou humilhar essas pessoas não irá findar a prática de rinha, apenas irá aumentar a disseminação de ódio virtual.

Garantir o bem-estar dos animais sob seu cuidado, compreender e atender suas necessidades básicas já é uma ótima forma de fazer algo pela causa animal.

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