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Dicas e curiosidades sobre animais

Instituto Iris recebe reforço para entrega de cães-guia

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Por Luiza Cervenka
Atualização:

smerikal/Creative Commons Foto: Estadão

Ainda sem escola de cães-guia, o Brasil está longe de conseguir atender todo o mercado de pessoas com deficiência visual. Porém, uma parceria entre uma empresa do ramo pet e o Instituto Iris, pode começar a mudar esta realidade.

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Fundado em 2002 pela advogada Thays Martinez, o IRIS tem a missão de desenvolver atividades e projetos que acelerem o processo de inclusão social das pessoas com deficiência.

A organização é uma das poucas no Brasil a contar com um instrutor reconhecido pela Federação Internacional de Escolas de Cães-guia (International Guide Dog Federation, Inglaterra) e qualificado pela Royal New Zealand Foundation for the Blind - Guide Dog Services (Nova Zelândia).

Uma das prioridades institucionais do instituto é mobilizar a sociedade para que transforme uma triste estatística nacional. No Brasil há uma estimativa de 100 cães-guia que ajudam pessoas com deficiência visual, ou com baixa visão, a se locomoverem e a se sentirem incluídas socialmente. Em contrapartida, o país possui 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual - 582 mil cegos e seis milhões com baixa visão, de acordo com o Censo 2010 do IBGE.

Para quem enxerga perfeitamente, os números podem assustar. Porém, pouco compreende-se da real mudança que um cão-guia pode trazer à vida de um cego. Por isso, fui conversar com a presidente do Instituto Iris, Thays Martinez, cega desde os quatro anos de idade (a própria Thays, disse que posso chama-la de cega, que não é ofensivo, muito menos politicamente incorreto. O errado seria chama-la de deficiente visual). Em 2000, conseguiu ser selecionada para ir aos EUA e receber um dos primeiros cães guias do Brasil. Seu nome era Boris.

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Thea Burton/Creative commons Foto: Estadão

Assim, Thays separa sua vida AB e DB (antes do Boris e depois do Boris). Aos 26 anos, pela primeira vez, se sentiu solta, livre. Podia caminhar na rua sem auxílio de pessoas, ir comprar pão na padaria, fazer supermercado, caminhar na beira do mar e até morar sozinha. "A bengala ajuda, mas é muito falha. Cansei de contar quantas vezes caí" conta.

Sua autoestima cresceu, sua autoconfiança idem. Mas nada se compara ao momento que pode correr pela primeira vez. Sim, Thays, ao lado do seu novo membro, Boris, se sentiu à vontade e segura para correr. "Foram muitas sensações. Liberdade, de possibilidade, de ampliação de movimento, de sentir o vento. Não tinha pensamento. Apenas sensações que ainda recorro muitas vezes, quando penso em desafios e limites" confessa.

Para tentar minimamente alcançar esta conquista, fiz uma comparação com aquele jovem de 18 anos, que ganha o primeiro carro e a liberdade de ir e vir. Thays disse que é mais ou menos isso, sim. "É como se a ciência fosse capaz de criar uma prótese externa, uma extensão do corpo, uma forma de identificar um obstáculo na rua. Em termos de saúde, um cão-guia não possui um valor elevado." explica.

Hoje, para se ter um cão-guia, é precisa entrar em uma fila muito grande, comporta por mais de três mil pessoas. Por isso, o grande objetivo de Thays, com o IRIS, é aumentar o acesso das pessoas que querem um cão-guia a esse benefício, criando a primeira escola de treinamento de cães-guias do Brasil. Assim, mais cães-guia poderão ser doados.

 

Nik Janssen/Creative Commons Foto: Estadão

Para auxiliar no sonho de Thays e tantos cegos a conquistar mais esta vitória, a Hercosul Alimentos lançou uma campanha. Todos os produtos da linha Three Dogs e Three Cats, vendidos até o final de 2017, reverterão uma porcentagem ao Instituto Iris. Já de antemão o responsável por projetos da marca, Leonardo Oliveira, conta que serão trazidos dois cães-guia dos EUA para serem doados a duas pessoas portadoras de deficiência visual, aqui no Brasil. "Este número pode aumentar, a depender da abrangência da campanha" relata.

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Ter esse tipo de parceria é extremamente positivo para a empresa e instituto. "Queremos agregar valor à marca, que demonstre um sentimento. Como nosso slogan diz 'é coisa de amigo'" aponta Leonardo. Tudo isso agregado à inclusão social. Thays vibra ao pensar que poderá doar os cães-guia e ajudar pessoas, como ela foi, há 17 anos atrás. "O capitalismo do século XXI é exatamente este, empresas se conectando com seus consumidores e conectando com causas. Se não fosse uma parceria com uma empresa grande, não seria possível continuar com o trabalho do instituto" aponta.

A marca de alimentos pet ainda não está presente em todo território brasileiro. Por isso, há outras formas de ajudar o instituto Iris. Uma delas é se tornando um sócio mantenedor. "Há pessoas que pensam que ao doar dez reais não irá ajudar. Mas todo dinheiro é benvindo e bem utilizado" lembra Thays. Ela também explica que é muito importante a campanha para difundir o nome do instituto e conseguir doações permanentes.

Realidade dos cães-guia

PRONiall Kennedy/Creative Commons Foto: Estadão

Aqui no Brasil, os cães-guia precisam primeiramente de uma família socializadora. A qual ficará com o cão por dois anos, promovendo tudo o que for exigido para seu treinamento. Este será realizado por um profissional especializado em treinamento de cães-guia.

Com dois anos, aproximadamente, o cão será entregue ao seu novo parceiro. Para isso, há um treinamento de cego e cão por três semanas. Só assim, eles estarão aptos a desbravar a cidade.

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Os maiores desafios para um cão-guia são as pessoas desavisadas, que chamam a atenção do cão, desavisadamente. "Eu não ligo de uma pessoa brincar com meu cão, desde que me avise antes" ensina Thays. Ela conta que uma pequena distração do cão, ao olhar outra pessoa, pode causar um acidente horrível.

Se você encontrar um cão guia, não se aguentar e quiser fazer um carinho naquele grande peludo, aborde a pessoa que está com ele e pergunte se isso é possível. Afinal, eles amam uma atenção e afago. "A vida deles é uma demonstração de amor. Eles ficam felizes de poder ajudar você".

Cães-guia gringos

swong95765/Creative Commons Foto: Estadão

Infelizmente, ainda é mais barato, e mais rápido, trazer um cão-guia dos EUA. Em parceria com a leader dogs, o Instituto Iris leva as pessoas com deficiência para ficarem três semanas em treinamento e pegarem o cão pronto. Na chegada ao Brasil, é feita uma nova adaptação de duas semanas. "Essa adaptação é necessária para adequar o cão à realidade brasileira de carros na calçada, orelhão, buracos na calçada, etc" lamenta Thays.

O custo do cão-guia será menor no Brasil, quando houver um centro de treinamento de cães. Para isso, é necessário unir iniciativa provada, governo e instituições, como o IRIS e a Ellen Keller de Santa Catarina. "Essa ação é um exemplo para as empresas, que as causas trazem um retorno para todos. É a mudança que a gente espera" finaliza Thays.

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Enquanto isso não se torna realidade, pequenas batalhas são comemoradas, como a aprovação da lei federal 11.126, o qual Dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

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