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Dicas e curiosidades sobre animais

6 erros na hora de educar seu cachorro

Qual o melhor método para ensinar o cão? Existe cachorro burro? Posso usar o mesmo protocolo em todos? Muitas dúvidas pairam a cabeça dos tutores, mas alguns erros podem dificultar, e muito, o aprendizado do cão. Veja quais são eles.

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Foto do author Luiza  Cervenka
Por Luiza Cervenka
Atualização:

Ensinar o cão não é fazer bolo. É preciso entender e respeitar o animal - bullcitydogs/Creative commons Foto: Estadão

Ontem fui atender uma cadelinha resgatada bastante medrosa. A maior reclamação da tutora eram os latidos incessantes. Realmente, ela latia o tempo inteiro. Mas um aspecto específico chamou minha atenção na fala da tutora. Ela já havia contratados outros dois adestradores e um dog walker para ajudar no caso e não só não houve melhora, como piorou o comportamento de latir da cachorrinha.

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Diante desse relato, fiquei refletindo sobre o processo de educação dos cães. Não posso falar sobre humanos, pois desisti na licenciatura após muita teoria e pouca prática atualizada aos interesses dos alunos. Enfim... voltando à cadelinha...

Os outros profissionais ensinaram diversos comportamentos à cachorra. Ela aprendeu super rápido. Mas eles não resolviam em nada na reclamação da tutora, muito menos na causa de base do comportamento do animal. Peraí, isso quer dizer que os profissionais ensinam o que eles sabem, mas não adequam isso à necessidade do animal e do tutor? É como se eu soubesse muito sobre conserto de televisão e você pedisse para eu consertar seu computador, e eu te desse uma aula sobre televisão para explicar o problema do seu computador. São parecidos? Sim. Mas eu não posso mexer em um computador da mesma forma que uma tv.

Não é pelo fato de um profissional saber sobre um assunto que a necessidade do cão estará dentro desse conhecimento. Por isso que eu amo trabalhar com cães. É desafiador. Porque sou eu que tenho que me adequar aos interesses dele e daí transformar isso em aprendizado. Então vamos aos principais erros na hora de educar um cão.

1. Não entender as necessidades básicas e comportamentos naturais da espécie

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No caso da cachorrinha, ela sabia sentar, dar a patinha e ficar. Mas passava o dia todo sem fazer nada. Não tinha um mordedor, um enriquecimento ambiental, uma pelúcia, nada! A única diversão dela era latir para tudo e todos que passavam na varanda. Todo cão tem necessidade de roer, dilacerar, cavar e caçar. Ela não estava tendo oportunidades de executar comportamentos básicos e naturais.

2. Aplicar um protocolo igual a todos os cães

Cada indivíduo é único, com histórico de vida diferentes e personalidades distintas. EM uma mesma ninhada é possível que um cão tenha interesse por brinquedo, enquanto o outro só se interesse por comida. É papel do profissional entender esses níveis diferentes de interesse para facilitar o aprendizado. Uma historinha rápida. Uma vez fui atender uma casa com três cães. Quando comecei a fazer os testes de interesse e cognição, a tutora logo se adiantou que um deles era burro. Palavra utilizada pelo adestrador, já que ele não aprendia nada. Não só o "burro" interagiu com os brinquedos, como, em pouco tempo, foi capaz de resolver o brinquedo (tabuleiro) mais difícil que eu tinha. A questão não era o cão ser burro, mas o profissional não ser flexível e não entender cada indivíduo com suas particularidades.

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3. Não entender a motivação do comportamento e querer solucionar mesmo assim

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No caso da cachorrinha, a motivação dos latidos eram tédio, mas também um extremo medo somado a uma alta taxa de frustração. De que adianta eu ensinar senta, deita e afins, se ela não consegue lidar com as próprias emoções? É preciso associar coisas legais aos estímulos que causem medo. Bastou fechar a porta da sacada, colocar um tapete de lamber, que mesmo com a moto mais barulhenta, a cachorra ficou focada na sua atividade. Claro que não é uma vez fazendo isso que vai resolver o problema. Mas é um aprendizado. Que não envolve só o que eu quero ensinar, mas o que o cão necessita para se sentir mais confiante para aprender.

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4. Criar um ambiente seguro para aprendizado

Mais uma vez a cachorrinha... Um dos profissionais que a tutora contratou foi um passeador. Porém, a cachorra tem pânico de moto, caminhão e barulhos fortes. Ela também tem receio de outros cães e late. No passeio, ela tinha contato com outros cães e todos os barulhos. Resumindo, a cachorra passou a latir mais para os barulhos dentro de casa e também não aceita mais sair de casa (nem com o petisco mais apetitoso). É preciso ter um ambiente seguro para trabalhar uma coisa por vez. Não é colocando o cachorro em situações de pânico e deixando ele lá, que ele vai aprender. Isso só vai piorar. Quer ensinar a passear? Leve em um local calmo, tranquilo, sem outros cães ou barulhos. Depois, com o cão confiante, adicione uma coisa por vez, sem que isso cause angústia. O mesmo vale para dentro de casa. É muito importante nos atentarmos para o local que vamos ensinar qualquer coisa ao cão.

O local do treino deve ser calmo e seguro ao cão - Babs Daniels/Creative Commons Foto: Estadão

5. Não punir erros, mas recompensar acertos e tentativas

O aprendizado não pode envolver nenhum tipo de punição, bronca, "não" ou cara feia. O cão não erra porque ele não quer fazer o certo, mas por não ter entendido o que deveria fazer. Se o objetivo é que o cão pegue o petisco de um dispositivo, ele pode inventar qualquer estratégia para isso, mesmo que vá contra o seu desejo ou expectativa. Quanto mais rígidas forem as regras do aprendizado, mais tempo o cão demorará a aprender. Se você quer ensinar o senta, defina qual o objetivo. Se é encostar o bumbum no chão, mas o cão tiver dificuldade, recompense as tentativas. Só dele fazer o movimento de agachar já pode ser um momento de recompensar, para mostrar que ele está no caminho certo. Mas quando ele executar o objetivo, recompense muito mais. Isso vale também para os enriquecimentos cognitivos, como os tabuleiros, ou qualquer outro aprendizado.

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6. Não respeitar o limite do cão

Não existe tempo certo de aula ou sessão de treino. Cada cão vai ter uma facilidade ou não para manter o foco em uma atividade. Além disso, alguns cães têm mais ou menos dificuldade para lidar com alguns comportamentos. A cachorrinha conseguia manter o foco na atividade se ela fosse fácil. Ao primeiro sinal de dificuldade para executar, ela desistia e ia latir. Sinal que eu ultrapassei o limite dela e precisava ir mais devagar, sem causar tanta frustração. Entender esse limite é fundamental para manter o aprendizado e fazer com que o cão goste cada vez mais do treino.

A responsabilidade do aprendizado do cão é nossa. Se ele não está entendendo algo, é por não compreender o que queremos. Para isso, precisamos ser mais claros e entender as dificuldades do cão. Não ensine somente o que é interessante a você, mas o que é legal ao cão também. É nossa responsabilidade oferecer uma melhor qualidade de vida aos nossos peludos.

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