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Uma alimentação consciente no paraíso da comilança

Setor de orgânicos cresce cerca de 20% ao ano no País

Por Juliana Carreiro
Atualização:

 

Terminou no último domingo mais uma edição da Naturaltech e da Bio Brazil Fair. As maiores feiras de alimentos orgânicos e naturais da América Latina, onde foram lançados cerca de 1500 produtos de 500 marcas diferentes, entre eles: alimentos orgânicos, veganos e vegetarianos, suplementos naturais, cosméticos, produtos de limpeza e higiene, fitoterápicos, roupas e acessórios. Como o assunto deste blog é Comida de Verdade, vou focar nos alimentos, desta vez, mais especificamente nos orgânicos. De acordo com a organização do evento, só este mercado movimenta anualmente mais de R$ 3 bilhões, com crescimento médio anual de 20% e está entre os setores que mais crescem no Brasil.

 

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De acordo com o diretor do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), Cobi Cruz, "Essa é a maior e mais importante feira do setor na América Latina e, como vitrine do mundo orgânico e sustentável, temos ação de educação ao consumidor, com a campanha "Eu Escolho" informando sobre os diferenciais do orgânico, apresentar as marcas que são associadas ao Conselho e seus produtos e promover negócios, pois essa feira é a mais relevante do segmento, espaço para bons negócios". Algumas marcasapresentam produtos que estão sendo exportados, e que têm muita demanda no mercado internacional: como pimentas e geleias goumerts, da Soul Brasil; chá de hibisco, da CAAPIM; vodca, da Tiiv e polpa de frutas, da Xingu Fruit.

 

A Legurmê Alimentos foi criada em junho de 2015 com 5 sabores de antepastos, no ano passado a marca passou a ser orgânica, com 9 novos sabores. Segundo o diretor de marketing e produção da marca, Danilo Campos, "De lá pra cá decidimos que o orgânico seria o pilar central da marca, que também é vegana. O orgânico é algo em que a gente acredita, mas também tem uma questão de mercado, que está em crescimento". Em 2018 foram lançadas três novas linhas: molhos de ervas, pimentas e condimentos (barbecue, ketchup, chilli e molho de tomate), são 25 produtos no total, que são vendidos em empórios, lojas de produtos naturais e até em grandes redes de supermercado. Agora a empresa está começando a produzir para marcas maiores, "nós fazemos o produto e eles colocam as marcas próprias para distribuir", resume Danilo.

 

A marca de chocolates orgânicos Chokolah está lançando 26 produtos nesta edição daNaturaltech. Quando foi lançada em 2009 eram 4 produtos, hoje são mais 40. Segundo a fundadora da empresa, Cláudia Schultz, "o que impulsiona o crescimento dos orgânicos é a entrada de grandes marcas no mercado, elas irão puxar o crescimento de todo setor, isso desmistifica a imagem que a população tem, de que são produtos mirradinhos e feios, agora o orgânico parece ter um glamour, os artistas gostam de orgânico". A empresária se refere a ao lançamento de uma aveia orgânica pela Nestlé e a compra da Mãe Terra, uma marca de orgânicos, pela Unilever. A Chokolah cresce cerca de 30% ao ano.

 

A Vila Madalena, que fica na zona Oeste de São Paulo ganhou, no início deste ano, o Easy Organic, o primeiro restaurante 100% orgânico do País, que também funciona como um empório que vende somente produtos orgânicos certificados. O fundador da casa, Fernando Pupo se baseou em estudos científicos que relacionam a ingestão de alimentos prontos e industrializados com crises alérgicas e respiratórias, distúrbios hormonais, sobrepeso, problemas neurológicos e até mesmo doenças mais graves, como câncer. Um de seus objetivos é ajudar a prevenir doenças e a promover qualidade de vida por meio dos orgânicos, mas não é o único, "Ficou claro para mim que o consumo de alimentos sem agrotóxicos era fundamental para a saúde, então comecei a entender o quão importante era também para o meio ambiente e, com isso, a escolha por esses produtos no dia a dia ficou ainda mais fácil", revela o empresário.

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Se antes a oferta de alimentos orgânicos ficava restrita a alguns legumes, verduras e tubérculos, hoje há um leque muito maior de opções, você pode fazer refeições completas apenas com eles: arroz, feijão, carne, frango, peixe ou ovos, temperos, azeite, sal, ervas, frutas, verduras e legumes. Pode fazer uma massa com diferentes tipos de farinhas e leites vegetais, açúcar, fermento e finalizar com um cafézinho. Se quiser praticidade, já encontra molhos prontos, comidas congeladas, massas, sucos e doces, entre inúmeros outros ítens. Mas se o consumidor e as empresas parecem estar abrindo os olhos para a importância dos orgânicos, na política o setor está sendo ameaçado.

 

De acordo com o Portal Organics News Brasil, durante a Bio Brazil Fair aconteceu uma reunião com lideranças do setor de orgânicos para pressionar o Congresso Nacional a vetar o Projeto de Lei 6299/2002, já conhecido como PL do Veneno. O projeto propõe mudar o termo "agrotóxico" para "defensivo fotossanitário" e pretende limitar a atuação dos estados na fiscalização, o que poderá aumentar o uso dos pesticidas de forma preocupante. A legislação prevê que os agricultores não possam plantar, produzir e armazenar sementes e quer implementar que todo produto da colheita só possa ser vendido com a autorização do detentor de sementes que sofreram alguma modificação humana. Desta forma, o agricultor será obrigado a comprar as sementes e vários outros produtos, como agrotóxicos e adubos.

 

Ainda segundo o Portal, o retrocesso no setor de orgânicos foi um dos pontos mais debatidos. "A agricultura orgânica está influenciando positivamente a convencional, que adota práticas mais saudáveis", disse Ariclenes Insuforte, da Brasil Bio. "Todos os avanços na legislação brasileira conseguidos até agora serão perdidos e os maiores prejudicados serão os agricultores orgânicos", complementou Rogério Dias, vice-presidente da Associação Brasileira de Agroecologia. A reunião contou com a participação do Diretor de Branding do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), Cobi Cruz; o engenheiro agrônomo e fundador da Associação Brasileira da Agricultura Orgânica, José Pedro Santiago; Ana Flávia Badue, do Instituto Kairós; Virginia Lira, Coordenadora de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; entre outros.

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