Foto do(a) blog

Uma alimentação consciente no paraíso da comilança

O primeiro Natal sem ela

PUBLICIDADE

Por Juliana Carreiro
Atualização:

 

No dia 25 de novembro eu perdi a minha avó, dona Geny, com 96 anos de muito amor ao próximo. Não pense que ela era fofinha, carinhosa, delicada, sorridente, daquelas avós que vivem apertando seus netos e os enchendo de beijos. Minha avó começou a trabalhar com 11 anos e teve aí sua primeira frustração, foi afastada da escola. Este era o começo de uma vida bem dura que a deixou da mesma forma. Vovó era firme, rígida, direta, cabelo, unhas e blush sempre impecáveis, mas tinha muito amor pra dar. 

 

PUBLICIDADE

Era por meio da comida que ela demonstrava todo seu carinho, afeto, cuidado, dedicação, adoração (como ela dizia) e preocupação com todos que estavam à sua volta. E era bastante gente. Além de seus 4 filhos, 4 netos e 1 bisneto, era cercada de sobrinhos, genros, nora, afilhados e amigos que a tinham como uma mãe. Ninguém que entrasse em sua casa, saía sem comer alguma coisa. Durante os meus 35 anos de vida, era lá que aconteciam os jantares dominicais. Ela sabia exatamente o que cada um gostava ou desgostava e passava a semana toda pensando no que faria pra nos agradar. E era bom que estivéssemos com fome porque com certeza iríamos ouvir: Já comeu? Mas só isso? Come mais! Leva pra casa! Vai levar só isso? Leva mais! 

 

Levei, vó. Muito mais do que refeições cheias de afeto, levei da senhora o aprendizado, o exemplo, a vontade de cozinhar para os meus amores, de fazer carinho com as panelas. Meu filho teve o privilégio de conviver com ela durante quase 6 anos, desde pequenininho ele já entendeu o seu legado. Uma vez, quando tinha uns 3 anos, me disse que iria prender o lobo mau e levá-lo pra casa, eu perguntei: "E vai fazer o que com ele?" Ele pensou um pouco e respondeu: "Vou dar uma comidinha".  

 

Este Natal será mais triste na nossa casa, o primeiro sem a nossa matriarca. Será também um momento de homenageá-la por meio de suas receitas que nos marcaram. Com origem libanesa, minha avó fazia o melhor quibe, o melhor tabule, o melhor homus que eu já comi. Fui aprender com ela e esse ano o quibe cru ficará por minha conta. Em seu nome, vamos seguir com os encontros semanais, com as mesas cheias, com a marmitinha pra semana, com as receitas típicas para as datas especiais, vamos seguir tentando transformar o que sentimos em pratos, como ela sempre fez tão bem.   

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.