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Direitos da criança e do adolescente

Especialistas contestam dados sobre situação do trabalho infantil no Brasil, na última PNAD

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Por Bruna Ribeiro
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Crédito: Tiago Queiroz / Rede Peteca - Chega de Trabalho Infantil - Creative Commons  Foto: Estadão

A mudança na metodologia da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) sobre trabalho infantil, divulgada no mês passado, tem levantado polêmica entre os atores do sistema de garantia de direitos.

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Referentes a 2016, os dados indicam que a alteração na forma de aferir o trabalho infantil no Brasil foi responsável pela redução do número de 2,7 milhões para 1,8 milhão de crianças e adolescentes em situação de trabalho, de 5 a 17 anos.

Na quarta (13), no Simpósio Nacional de Fortalecimento do Sistema de Garantias de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, em João Pessoa (PE), especialistas refletiram sobre o impacto da mudança da metodologia.

Conforme reportagem que escrevi para o projeto Rede Peteca - Chega de Trabalho Infantil, em sua fala, Dimas Gomes, coordenador do Fórum de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente na Paraíba (FEPETI), afirmou que os novos dados mascaram a realidade do trabalho infantil no país.

"Segundo o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNETI), as crianças e adolescentes que trabalham na produção para o próprio consumo ficarão excluídas das ações e programas de prevenção e erradicação do trabalho infantil. Essa exclusão é mais uma violência do estado brasileiro, que desconsidera que crianças e adolescentes nessas ocupações são trabalhadoras", alertou Gomes.

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A alteração motivou um ofício assinado pelo procurador-geral do Trabalho (PGT), Ronaldo Fleury, em que a instituição questionou as razões das modificações mais preocupantes da metodologia, que agora não permitem comparação com edições anteriores.

A agenda de combate ao trabalho infantil, por si só, já enfrenta sérias dificuldades da desconstrução dos mitos a respeito do tema. A naturalização do trabalho entre crianças pobres em nossa sociedade reproduz ideias como "é melhor trabalhar do que não fazer nada ou roubar" - condenando essa parte da população a dois únicos destinos: trabalho precoce ou crime.

O fortalecimento da prevenção e erradicação do trabalho infantil visa desnaturalizar a exploração, para que todos tenham direito à educação e ao trabalho digno na vida adulta. Quando a principal pesquisa do país diz que produção para consumo próprio não é trabalho infantil, o retrocesso é grande e pode impactar diretamente nas políticas públicas.

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