Na última segunda-feira, dia 2, um lamentável fato viralizou na internet. Fernanda Taysa, mãe de Bella, desabafou nas redes sociais que o pai e a madrasta cortaram e alisaram o cabelo da menina de 8 anos, moradora de Governador Valadares (MG). Segundo a mãe, Bella sempre gostou do cabelo e se sentia bem com sua identidade, raízes e história. Mas chegou em casa triste e com a autoestima abalada.
A menina tem um perfil no Instagram, chamado Dicas da Bella, no qual posta fotos e dá dicas de moda e beleza para outras crianças. Pode-se perceber que é uma criança empoderada e confortável com sua estética. A história pode parecer simples, mas é carregada de muitos signos.
Para destrinchar outras nuances, que envolvem racismo e machismo, conversei com Joice Berth, autora do livro “O que é Empoderamento?” e feminista negra.
Como você avalia a atitude do pai e da madrasta que cortaram e alisaram o cabelo de Bella?
Eu fiquei horrorizada. Não tenho informação se o pai ou a madrasta são brancos, mas independentemente disso, a gente não pode se esquecer que as pessoas negras também reproduzem atitudes racistas. O caso está enquadrado no âmbito das práticas racistas. O cabelo é um símbolo de beleza na nossa sociedade. Para a criança negra, a relação com o cabelo é sempre conflituosa, porque é alvo de discriminação.
Pelas lutas e pelos movimentos contra o racismo, temos conseguido proporcionar às crianças negras, principalmente as meninas, uma nova visão de si mesmas. Observamos várias meninas negras que gostam da aparência e do cabelo. Essa violência que cometeram com a criança, sem conversar com a mãe, afeta totalmente a autoestima.
Segundo relatos da mãe, a Bella se sentia confortável com a aparência antes do corte…
A menina desenvolveu uma relação com o cabelo e com certeza isso foi fruto de um trabalho da mãe. No Instagram, ela tinha uma postura de vaidade e amor ao cabelo. Aparentemente, a autoestima ofendeu a madrasta e o pai. Esse é um assunto extremamente complicado, pois é possível realizar diversos problemas da questão racial.
Qual é a relação disso tudo com o feminismo negro?
Essa relação de poder se reflete na família?
Como você analisa essa luta pela afirmação da estética negra?
A luta negra vem sendo travada há muitos anos e está se refletindo principalmente no ponto da estética. O fortalecimento da autoestima como estética é importante, porque você precisa se enxergar como pessoa adequada para se sentir mais humano.
Eu tenho 40 anos e alisei o cabelo até os 20 anos de idade. Eu cresci alisando o meu cabelo, como muitas mulheres da minha idade. Hoje em dia as meninas negras já têm outra postura.
Essa mudança forçou uma mudança de mercado, pois agora conseguimos encontrar creme para o nosso cabelo e maquiagem para a nossa pele. Essa mudança de postura forçou uma mudança de mercado. Até os tratamentos estéticos já têm preocupação em oferecer serviços para a pele negra.
Você têm três filhas e um filho. Como foi esse processo na sua casa?
É um trabalho muito difícil convencer as meninas negras de que elas são bonitas, pois do lado de fora elas encontram uma sociedade que diz o contrário.