A publicitária e ilustradora May Solimar denuncia por meio de suas artes diversas formas de opressão, como racismo e violência contra mulheres e crianças. Em um dos posts, May relatou uma situação que acontece com frequência, envolvendo a filha de 7 anos. "Sua filha é linda! Vai dar trabalho quando crescer!" é um comentário recorrente que incomoda a ilustradora.
Ela transformou o incômodo em imagem, na intenção de mostrar à sociedade que a declaração não é "elogio": "Criar uma menina em uma sociedade machista já é muito pesado. É um medo constante. Pavor. E esses microassédios disfarçados de elogios, só irritam. Parem! Por favor', diz no post. Para conhecer o trabalho de May Solimar, clique neste link.
Importância da educação
O exemplo acima é apenas uma situação cotidiana que pode acontecer contra as crianças e adolescentes, mas sabemos que a violência chega ao abuso e à exploração sexual. Visando romper o silêncio, o Instituto Liberta lançou a campanha Agora você Sabe, que culminou em uma grande passeata digital, onde as pessoas denunciavam: Violência sexual contra crianças é uma realidade. Eu fui vítima e agora você sabe".
Luciana Temer, diretora-presidente do Instituto Liberta, falou ao projeto Criança Livre de Trabalho Infantil sobre a importância da educação e da conscientização da sociedade na prevenção da violência sexual contra crianças e adolescentes. Confira:
"Nós, do Liberta, acreditamos que a melhor política é a educação, na lógica da prevenção. Falar sobre violências e sobre relações sexuais saudáveis com crianças e adolescentes, cada um ao seu tempo, na idade e da maneira adequadas, é a forma mais efetiva de enfrentamento à violência.
Por isso a passeata tem o objetivo claro de fazer barulho e tirar da invisibilidade, criando um grande desconforto social e quebrando o estereótipo de que a violência está somente nas periferias. A gente sabe que política pública se constrói a partir de desconforto e pressão social. A gente precisa tornar a violência sexual contra crianças e adolescentes um problema no Brasil.
Mais de quatro meninas com menos de 13 anos são estupradas por hora e isso não está na pauta do Brasil como um problema. A hora que for um problema, aí você tem pressão por políticas públicas e pode apresentar os projetos. Lógico que a educação não é a única forma de enfrentamento. Há outras formas necessárias, como fortalecimento da rede de proteção e a implementação da Lei da chamada Escuta Protegida, mas a gente acredita na prevenção e isso ocorre por meio da educação nas escolas públicas e privadas.
Em relação aos professores, é importante sensibilizar e mostrar qual é o papel da escola na rede de proteção. A escola tem um papel muito específico e próprio, que é onde essa violência pode ser mais facilmente enxergada. A escola é o único lugar onde as crianças e os adolescentes têm uma frequência cotidiana, no qual há contato com adultos responsáveis fora do círculo familiar.
Por que é tão importante que seja fora do círculo familiar? Pois 67% das violências sexuais acontecem dentro das residências e 86% são praticadas por pessoas próximas, sendo uma boa parte em relações intrafamiliares. É preciso oferecer para a criança e para o adolescente um espaço fora do núcleo familiar. A gente acredita que esse espaço é a escola, onde a violência pode chegar e ser percebida.
O papel do professor e da escola é endereçar para os órgãos corretos, como Conselho Tutelar e Delegacia de Polícia. É preciso ter toda uma rede de proteção azeitada no território para que o professor e a escola também não fiquem sozinhos. O papel é estar atendo para receber e perceber, mas defendemos que seja mais do que isso, que seja um papel de prevenção e isso vai se dar quando for um assunto que esteja permeando toda a vida escolar do estudante."