Paris. 16h57h. A cada 30 segundos ele checa o horário no celular. Sua perna direita treme incansavelmente debaixo da mesa. Mais uma olhada no celular: enfim 17h. Ele suspira, desliga o computador, guarda seu bloco de anotações e suas canetas na gaveta bagunçada, se despede dos colegas e deixa o escritório sem olhar para trás. Ali não há mais tempo a perder. Ele chama o elevador. Seria melhor pegar a escada. Antes que ele mude de ideia, o elevador para no seu andar: o quinto. Ele entra. Nos bolsos do casaco: folha, tabaco, filtro. Ele prepara o seu cigarro que fica pronto antes mesmo de chegar ao térreo.
"Rez-de-chaussée". Ele sai do elevador, isqueiro na mão, cigarro na boca e vai para a rua. CLEC! Ele acende o cigarro e respira profundamente enquanto anda em direção a estação de metrô. Ele odeia fazer a baldeação na Châtelet. Para adiar o inevitável, ele para na banca. Ele não teve tempo de comprar o jornal essa manhã. "Bonjour". Libération, Figaro ou Le Monde? Ele, enfim, escolhe o tradicional Canard Enchaîné e tira certinho 1EUR20 do bolso. "Merci, au revoir". O jornal fica embaixo do seu braço enquanto ele desvia dos turistas nas ruas.
Antes de descer as escadas da estação Saint Michel ele hesita. Acende mais um cigarro e pensa na combinação perfeita do café com o tabaco: ideia tentadora. Ele dá meia-volta. Senta em uma mesa pequena de um café de esquina. "Un café, s'il vous plaît". Ele abre o jornal e ignora o mundo ao seu redor. Ele não vê o rosto de ninguém e ninguém vê o seu. O garçom traz o café. Um primeiro gole, mais um cigarro. E assim vai.
18h30. Está na hora de ir, já tinha ficado muito tempo ali. Ele fecha o jornal, paga o café e vai embora. Ainda não são 19h. Talvez o metrô ainda esteja lotado. Dá tempo de passar na livraria. Ele se apressa até chegar nos arredores da Sorbonne - onde fica seu sebo preferido. Durante 30 minutos ele perambula pela loja à procura de um clássico que ainda não leu, um disco que ainda não ouviu ou um filme que nunca assistiu.
São 19h. O vendedor apressa o potencial cliente. "Excusez-moi, c'est l'heure de fermeture", diz. Ele sai contrariado. E enfim, sem saber mais aonde ir, ele pega o metrô. Linha 4, Châtelet, linha 7, Place d'Italie. Saindo da estação ele para na padaria, compra uma baguete tradicional, caminha até o seu prédio, digita o código de entrada: 1270A. Ele respira fundo, sobe as escadas: sétimo andar. Finalmente ele chega em casa. Hora do jornal. Ele prepara uma salada: azeite, vinagre balsâmico, levedura. Ele olha para a garrafa de vinho aberta há alguns dias. É um Pinot Noir. Não é um dos melhores, mas ele não se importa. Ele come, ele bebe, ele assiste a televisão. Fim do jornal, fim da refeição.
Ele lava a louça e toma banho no seu banheiro sem janelas. Então, ele abre a da sala para deixar o vapor ir embora e acende mais um cigarro, o último do dia. São 22h, ele deita na cama e abre o seu livro: Le Cinquième Livre de Rabelais. Dois capítulos antes do fim ele decide desligar o abajur. Já são 23h. Bonne nuit.
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