Ao andar pelas ruas parisienses, se olharmos com atenção, encontraremos pessoas erguendo pequenos cartazes com os dizeres "J'ai faim" - tenho fome, nos corredores do metrô. Nas avenidas famosas por suas lojas de grife e cafés caros, como a Saint Germain e Grands Boulevards, notamos os sdf - abreviação em português para sem domicílio fixo, pedindo dinheiro na rua, passando a noite dormindo dentro de agências bancárias ou comprando, com o pouco que têm, um lanche no McDonalds.
Saindo dos quartiers mais chiques, chegamos aos bairros populares e indo além do arco periférico que contorna a cidade, chegamos às cités - uma realidade escondida dos turistas que percorre o perímetro de Paris. Prédios enormes, com janelas pequenas e extremamente próximas. Ali está uma Paris que ninguém quer ou pode ver. Essas áreas mais afastadas do centro, em sua maioria localizadas ao norte da capital,são apelidadas de no-go zones, principalmente após os atentados de janeiro de 2015. Hoje, a prefeitura luta para tornar esses quartiers mais atrativos para todos, investindo na luta contra o desemprego e também a favor da educação dos jovens que habitam tais regiões. Os habitantes das cités, em sua maioria imigrantes, vivem em um mundo à parte, no qual o contato com as drogas, armas e com a violência, em todas as suas formas, é frequente.
Essas pessoas, camufladas na paisagem parisiense, tentam encontrar o seu lugar mesmo que a maioria esteja bem longe de casa. Mas acredito que Paris pode ser a cidade não só daqueles que pegam um avião para chegar até lá ou aqueles que pagam 3000EUR pelo aluguel, mas para todos que estão ali lutando por uma vida melhor.