Que som é esse? Da natureza? É a voz deste sujeito

Capaz de reproduzir sons exóticos, o russo Gennady Tkachenko-Papizh ganhou notoriedade na televisão por um talento diferente

PUBLICIDADE

Por Sam Borden
Atualização:
Gennady Tkachenko-Papizh espera em breve viajara Londres para gravar um álbum Foto: Gordon Welters/The New York Times

BERLIM - Muito antes de se tornar uma fascinação na internet por usar a boca, o nariz e - ele jura - a alma para fazer sons da natureza brotarem de um microfone feito um gêiser do chão, Gennady Tkachenko-Papizh era um camaleão do mundo do entretenimento.

PUBLICIDADE

Ao que parece, são poucas as coisas que Tkachenko-Papizh, russo de nascimento, não tentou. A carreira de artista, que inclui passagens como cantor, humorista e mímico, variou entre o sombrio (seu papel como Django, matador de aluguel cigano em um seriado russo sobre a máfia) ao absurdamente sublime (ele é amigo e trabalhou junto com Slava Polunin, o palhaço russo). O que mais? Ele fez um espetáculo solo sobre robôs. Interpretou um pirata. Apesar de toda essa versatilidade, entretanto, a fama só foi chegar em março para Tkachenko-Papizh, 52 anos.

Foi então que, enquanto estava em uma lanchonete de Berlim conferindo o smartphone, viu que a Miss Árabe dos Estados Unidos, Fabiola al-Ibrahim, 22 anos, de ascendência síria e nascida no Brooklyn, havia, por algum motivo, publicado em sua página no Facebook um vídeo de Tkachenko-Papizh participando de um programa de calouros na antiga república soviética da Geórgia. "Isso vai levá-los a outro mundo", prometeu a miss a respeito do link, que leva a três minutos do artista imitando o som de grilos, asas de pássaros batendo, água pingando e canto operístico muito dramatizado.

O programa "Geórgia Tem Talento" tem tudo que se pode esperar de espetáculos do gênero em qualquer canto do mundo. Apresentam-se cantores, bailarinos e, de vez em quando, um casal seminu patinando perigosamente sobre uma mesinha de centro - sim, vale a pena dar uma conferida neles. Já o espetáculo de Tkachenko-Papizh, iniciado com uma declaração solene, "vamos tentar sentir o que a Mãe Natureza quer nos dizer", calou mais fundo.

"Fiquei impressionada com o fato de que um homem tinha a capacidade e o talento de produzir tais sons. Isso me lembrou do quanto nós, humanos, somos capazes, coisa que costumamos esquecer. Gennady foi uma boa lembrança disso", escreve Fabiola em um e-mail.

Tkachenko-Papizh, por sua vez, permite que "anjos falem comigo" enquanto se apresenta. Ainda assim, ele é muito humano e, portanto, está lidando com as consequências de se tornar uma sensação da internet de uma hora para a outra. Uma enxurrada de mensagens de fãs, empresários, agentes e possíveis colaboradores inundaram sua caixa de entrada e a conta no Facebook, enquanto ele tenta avaliar a melhor maneira de aproveitar essa nova visibilidade.

Ele contou que esperava viajar em breve para Londres para gravar um disco e que estava negociando um possível projeto com um produtor de gravação.

Publicidade

Na Alemanha, começou a trabalhar com Steve Last, sobrinho de James Last, uma lenda da época das big-bands.

"Quase 90 por cento dos contatos me querem na música eletrônica", conta Tkachenko-Papizh durante almoço em um restaurante berlinense. Ele franziu a testa. "Esse tipo de música não me interessa", acrescenta, antes de observar, ainda que vagamente, que "uma princesa asiática me convidou a me apresentar em sua instituição de caridade e agora está falando com a minha esposa a esse respeito".

Tal mudança, no entanto, não deveria ser vista como o ato de criação de uma prima-dona. Tkachenko-Papizh, que compareceu a duas reuniões recentes de bicicleta e gosta de usar camisas informais de algodão debaixo de um colete de retalhos, afirma não estar especialmente interessado em ser rico. Ele mora aqui com a esposa, Larissa, auditora financeira, e seus dois filhos pequenos (o artista também tem um mais velho de um relacionamento anterior), e conta estar mais interessado em simplesmente dominar "esse dom que eu tenho, que tem um efeito mágico".

A esposa precisou se acostumar. "Ele gosta muito de fazer testes, experimentar coisas. Pode ser meio estranho. Às vezes estou em casa e começo a ouvir sons, como um pássaro voando, mas é ele que está lá. Ele é assim mesmo", conta ela.

PUBLICIDADE

Tkachenko-Papizh começou a imitar sons ainda criança, inicialmente tentando reproduzir instrumentos musicais como violão ou ukulele. A mãe o ensinou a usar a nariz para aumentar os barulhos e, anos mais tarde, ele se viu cercado por uma multidão quando começou a improvisar ao lado da fogueira em um retiro de ioga.

"Muitas pessoas dizem que não precisam mais de drogas, que essa é uma alternativa. Meus sons as levam a um estado mais forte do que o provocado pelas drogas. Não sei se isso é verdade, mas é o que me falam."

Todavia, os sons da natureza não eram uma parte essencial de seu repertório nos primeiros dias, quando estudava artes circenses, teatro e canto operístico na Rússia antes de se apresentar em vários espetáculos e teatros, incluindo uma longa temporada no Teatro Buff em São Petersburgo.

Publicidade

Agora, porém, ele está se concentrando em seus sons. O filho de oito anos, Tim Antony, também tenta criar seus próprios sons e, há pouco tempo, a dupla encontrou uma sala de ensaio com acústica excelente perto da piscina do hotel enquanto estavam em férias na República Tcheca.

Em geral, no entanto, Tkachenko-Papizh considera o ensaio pouco prático, preferindo deixar que cada espetáculo seja uma coletânea orgânica de tudo em que pensar no momento.

"Se eu penso demais, parece que minhas asas estão amarradas e não consigo voar, que não estou livre."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.