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Tradição e Subcultura conversam na moda inglesa

No outono inverno 2015, tudo se mistura e se complementa para reverter as regras de estilo

Por Jorge Grimberg
Atualização:

Enquanto em São Paulo, berço e inovação se chocam ao invés de encontrar um caminho no mercado na moda, em Londres passado, presente e futuro caminham juntos, em harmonia, nos desfiles de Outono Inverno 2015/16. 

No desfile da Topshop Unique, ao invés de rock’n'roll o destaque foi para o retorno ao campo inglês. Garotas, que poderiam ter vasculhado o armário das avós, saem às ruas com tricots, peles e veludos molhados sobre vestidos florais ou saias estilo kilt. O desfile evolui e a mesma garota - apegada à tradição- abusa de transparências e dos brilhos para uma noite em Londres ou Paris, mas sem abrir mão das peles herdadas da família.

 

Em sintonia com a busca por parecer refinada que se vê nas garotas fast-fashion da Topshop, a herança real inglesa é pontuada na celebração dos 200 anos da marca Pringles of Scotland. Com uma exposição e um desfile na Serpentine Gallery, o estilista Massimo Nicosia apresentou o que a marca faz de melhor: a construção de malhas com uma tradição de dois séculos de maneira sóbria. A verdadeira elegância em sua melhor forma: austera, atemporal e com uma qualidade incontestável. 

Pringles of Scotland 

Já na Burberry, o diretor criativo Christopher Bailey está desenvolvendo uma nova tradição. Atitude de vanguarda para uma marca que quer conquistar o mundo com muita personalidade. Em uma instalação grandiosa no Kensington Palace - com Kate Moss, Mario Testino, Naomi Campbell e o cantor Sam Smith na fila A -, a marca inglesa sem dúvida apresentou o mais grandioso show da temporada. E emocionou. Na passarela, peças artesanais que remetem a períodos diferentes, dos anos 60 aos 70, do boho ao hippie, mas sem especificamente pertencer a nenhuma era que não 2015. A sensação é muito atual. Novas peças, como ponchos e casacos de camurça com franjas, são apresentados como novos clássicos que devem ser guardados, geração após geração, ao lado dos tradicionais trench coats da marca, que perdem a relevância na passarela. O estilo free spirit da marca passa uma sensação rock’n'roll muito mais Janis Joplin do que Rolling Stones. 

 

Na Temperley, o mix de referências vai ainda mais longe. O nomadismo veio acompanhado de referências tribais e a influência dos anos 20 de Paul Poiret. Assim mesmo, tudo junto e misturado em perfeita sintonia. 

 

No mix de cultura e inovação está a estilista Mary Katrantzou. Em sua cenografia toda em rosa claro, das luzes da sala à passarela de espuma - onde as modelos se equilibravam sob plataformas pesadas -, as construções das peças em camadas de diferentes materiais, com texturas e referências meio esquizofrênicas, posicionam Mary como uma vanguardista da terra da rainha com uma identidade avassaladora. A rigidez dos materiais e a dificuldade no andar das modelos contrastam com o romantismo e ambiente de conto de fadas. O show imita a vida. O romântismo e a dor sempre andam juntos. 

 

Tradições e subculturas conversam nas passarelas e nas ruas de Londres. No país de Bowie e Adele é mais fácil entender como a expressão pessoal e a individualidade podem ganhar o mundo. E, nas passarelas, os estilistas parecem dispostos a fazê-lo. 

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