Na última semana, o consumidor foi surpreendido com a notícia do fechamento de mais uma loja da Shoestock, marca referência no varejo de sapatos e acessórios. Após encerrar as atividades nas filiais da Vila Guilherme, na zona norte de São Paulo, e de Belo Horizonte (MG) no fim de julho e desativar o e-commerce no início de setembro, na terça-feira, 15, a unidade do bairro paulistano da Vila Olímpia encerrou suas atividades. Agora, resta apenas a matriz da empresa, em Moema, mas, ao que tudo indica, lá também a operação deve ser encerrada em breve.
Criada em 1986, a Shoestock apresentou um conceito pioneiro de mega store para calçados. Com centenas de modelos, de diferentes tendências, divididos por tamanhos e com preços acessíveis, a marca tornou-se uma gigante do comércio paulistano, atraindo milhares de pessoas de todo o país para sua matriz de cerca de 800 metros quadrados em Moema. Em seus tempos áureos, a loja vivia lotada - um cenário bem diferente do encontrado por lá na última terça, 22.
Se antes havia um andar para peças masculinas e outro para as femininas, agora está tudo misturado. Nas poucas estantes que restaram, há apenas sapatos com cara de coleções passadas, disponóveis em poucos números e nada de bolsas ou acessórios. Ao se deparar com tal ambiente, os clientes que entram lá comentam, espantados: “Ainda não fechou?”, ao que uma funcionária responde, em voz baixa e com discrição: “Estamos todos cumprindo aviso prévio, deve fechar no fim deste mês.”
Os representantes da loja se recusam a dar informações oficiais sobre o tema. Especula-se que há algum tempo a empresa tinha lojas em situação deficitária e enfrentava queda no movimento, mas as circunstâncias não são claras. Embora não seja possível afirmar com certeza o motivo do fechamento e possível fim da Shoestock, fato é que o faturamento do varejo de calçados no Brasil está em queda, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). O setor sempre foi responsável por uma parcela importante dos gastos do consumidor brasileiro - mesmo no ano passado, quando a crise já começava a ser percebida, a Fecomercio São Paulo estima que os brasileiros gastaram mais de R$ 22 bilhões em sapatos, correspondente a 157% do que gastam com feijão, por exemplo.
Mas, no último semestre, o setor teve queda de 6,9% no faturamento em comparação ao mesmo período no ano passado. “Diante de uma crise, é natural que o consumidor corte gastos com itens considerados não essenciais”, diz Vitor França, assessor econômico da Fecomercio SP. “E, mesmo aqueles com a renda um pouco mais alta, se tornam mais conservadores com medo de se endividarem ou parcelarem as compras por causa dos juros altos.” Além disso, o aumento na inflação e nas contas, além dos custos de financiamento, prejudicam o negócio e diminuem a margem de lucro dos empresários.
No início deste ano, a Via Uno, outra marca referência no setor, fundada em 1991, declarou falência, foi leiloada e comprada por um grupo de franquias. O grupo diminuiu o número de filiais e não possui e-commerce, mas continua na ativa.
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