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'Se o problema fosse o açúcar, a obesidade já teria acabado'

Em novo livro, o treinador rebate todas as dietas que elegem um alimento como vilão e diz que fazer atividade física vai contra a natureza do ser humano

Por Gabriela Marçal
Atualização:
Marcio Atalla e Desire Coelho são autores do novo livro "A Dieta Ideal" Foto: Divulgação

"Nem toda dieta acaba em transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começa com uma dieta."A frase do livro "A Dieta Ideal" (Editora Paralela) reflete a preocupação dos autores Marcio Atalla e Desire Coelho com os problemas de saúde que as dietas da moda podem causar. Conhecido por sua atuação no quadro "Medida Certa", do "Fantástico", da Rede Globo, Atalla é formado em educação física, especializado em treinamento de atletas e pós-graduado em nutrição. Desire Coelho, por sua vez, tem formação em esporte e nutrição, mestrado em educação física e especialização em transtornos alimentares. A vontade de descaracterizar a existência de vilões na alimentação uniu os dois no projeto. Atalla acredita que a busca por dietas que têm alimentos proibidos e salvadores (goji berry e quinoa, por exemplo) existe porque as pessoas querem tirar de seus ombros o peso da decisão de mudar o estilo de vida. Ele falou sobre o tema ao 'Estadão'.

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Qual o grande problema de eleger alimentos como vilões?

As dietas normalmente escolhem um vilão e tentam colocar sobre eles a responsabilidade. Eles falam 'é o glúten', mas se você tirar o glúten e continuar com tudo errado, com excesso de calorias, pouco consumo de proteínas e alto de gordura, não vai mudar nada. Já tentaram fazer isso com o açúcar e veio o adoçante. Se o problema fosse simplesmente o açúcar, a obesidade teria acabado. Teve uma época em que não podia manteiga, gordura, agora veio uma onda de que não é bem assim. A gente precisa ter de 20 a 25% na nossa alimentação de gordura. Então, o determinante é um conjunto de coisas que define o estilo de vida. Eu tomo um sorvete quase todos os dias. Um pouquinho, que não compromete em nada o meu estilo de vida.

O livro se chama "A Dieta Ideal" e vemos muitas pessoas esperando as condições ideais para começar a ter uma alimentação mais saudável ou ter uma vida mais ativa. Qual é a sua recomendação para esses casos?

Se você ficar esperando uma condição ideal para começar a ter uma alimentação saudável ou uma vida mais ativa, você não vai mudar. Então procure fazer pequenas mudanças possíveis e que você consiga levar por muito tempo, preferencialmente, para sempre. Se você achar que vai acordar um dia com uma supervontade de fazer atividade física, porque você está bem resolvido financeiramente ou porque você está bem emocionalmente, você terá isso e não vai ter essa vontade, porque fazer atividade física é contra a natureza do ser humano.

O método do livro é indicado para todos os níveis de obesidade?

Quando a gente deu o nome do livro "A Dieta Ideal" foi justamente porque não existe dieta ideal. É até uma brincadeira. Porque você gosta de alimentos que eu não gosto e eu gosto de alimentos que você não gosta. Para cada um a alimentação é diferente, então, na verdade é a dieta ideal para cada pessoa. O que eu acho que funciona para todo mundo no livro é identificar se está com fome ou não, a relação que a pessoa tem com a comida, um maior consumo de produtos in natura. Quando você consume menos produtos industrializados a chance de ter uma alimentação mais saudável é enorme. Hoje, a média do brasileiro é só de 30% de consumo de alimento in natura, a maioria é industrializado, 70%. Deveria ser ao contrário. Essa mudança é possível para todos, inclusive para quem tem obesidade mórbida e vai passar por uma cirurgia bariátrica. Essa pessoa precisa mudar o estilo de vida porque se não vai voltar a ter excesso de peso. Inúmeros estudos mostram que depois de cinco anos de uma bariátrica mais de 50% dos pacientes voltam a engordar.

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Muita gente se engana com os industrializados, não?

Falo de comidas mais naturais e de verdade, porque, ao comer uma barrinha, você não sabe o que há lá dentro. Você come porque acha que está fazendo uma opção saudável, porque venderam essa ilusão. Essa foi uma discussão que eu tive com o Ronaldo. Ele me disse que a barrinha tinha muita fibra e eu mostrei para ele que tinha apenas 0,9 gramas e expliquei que uma maçã tem quase cinco gramas de fibra.

O Ronaldo está entre os participantes do quadro "Medida Certa" que, após emagrecer com o seu método, voltaram a engordar. Por que você acha que isso aconteceu?

Isso pode acontecer com todo mundo. Temos um dado científico de que a cada dez pessoas que começa a dieta, nove não conseguem prosseguir. O que eu proponho é uma mudança do estilo de vida. Tentamos encontrar um que seja possível para aquela pessoa depois do término do programa, mas, para isso, eu dependo muito da honestidade de quem está participando. O que dificulta muito é a grande exposição do participante, que passa a querer ter o resultado a qualquer custo e a fazer coisas que não vai fazer depois do programa. Quem optou por esse caminho acabou engordando. Mas o Porchat, que foi uma pessoa extremamente honesta na negociação, que tinha treinos de 15 minutos, mantém até hoje. Ele assumiu que era responsável pela mudança do estilo de vida. A Gaby Amaranto e a Renata Ceribelli também. O Ronaldo é um caso à parte, porque, ninguém lembra, mas ele estava em uma situação deplorável. Quando iniciou, pesava 120 quilos. Hoje, ele se mantém com 108. Ele terminou o quadro com peso de jogador de futebol.

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No livro, vocês propõem que as pessoas não usem apenas a balança para medir resultados. Então qual a melhor forma de notar o progresso?

As pessoas querem emagrecer por questão de estética e é bobagem a gente ignorar isso, mas nem sempre a balança retrata a realidade. Às vezes você manteve o peso estável, mas ganhou massa muscular e perdeu quatro centímetros de circunferência abdominal. Então, vá mais por essa medida do que pela balança.

Alimentação saudável e exercício físico são os pontos mais importantes do seu método, mas no livro também há um trecho em que se destaca a relevância do sono. Se a pessoa tiver que escolher entre ir para academia ou dormir, qual é a sua orientação?

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Realmente, tem muita gente que tem o dia a dia muito corrido e às vezes, de fato, ela não tem como dispor de meia hora para fazer uma academia. Ela vai ter que abrir mão de um tempo de sono relevante para a saúde dela. Então, a minha dica para essas pessoas é não frequentem a academia, porém façam atividade física não programada. Tente acumular 10 mil passos, use a escada. Isso é tão eficiente quanto uma academia dependendo da quantidade de movimento que você acumula durante o dia. Quando a pessoa tem que optar entre fazer uma atividade programada ou dormir, durma. No seu fim de semana, se você tiver um tempinho, faça a sua atividade programada.

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