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"Roupas muito caras não fazem sentido"

Famosa pelas peças e produtos licenciados de estilo lúdico, a estilista espanhola fala sobre a exposição retrospectiva de sua obra, em cartaz na Faap, e sobre as transformações da moda nos últimos 30 anos

Por Giovana Romani
Atualização:
A estilista espanhola Agatha Ruiz de la Prada (esquerda) costuma vestir roupas supercoloridas e enche de elogios as pessoas que acaba de conhecer. Foto: Divulgação

Agatha Ruiz de la Prada é uma figura. Veste roupas supercoloridas, não pensa duas vezes antes de sair na rua com um laço enorme na cabeça e enche de elogios as pessoas que acaba de conhecer. Aos 55 anos, a estilista espanhola conserva o estilo lúdico com que fez fama mais de três décadas atrás, quando estava entre o grupo de jovens artistas protagonistas da Movida Madrileña, movimento de contracultura organizado na Espanha pós-Franco. As roupas criadas por Agatha são como ela: expressivas, excêntricas e surreais - a inspiração, inclusive, vem do universo das artes (Salvador Dalí, Juan Miró e Andy Warhol estão entre as referências). Parte do trabalho realizado por ela pode ser conferido de perto na exposição Agatha vs Agatha, em cartaz na Faap até o dia 23 deste mês. A mostra reúne 35 trajes icônicos da designer, que tem mais de 4500 criações catalogadas e vende as coleções atuais em multimarcas do mundo todo e tem lojas próprias em Madri, Paris, Milão e Nova York. "Já fiz vestido flor, vestido estrela, vestido com rodas...", enumera. "Moda é diversão. Minha mãe era depressiva e por isso criei este mundo em que não existe sofrimento." Sobre sua trajetória, suas inspirações e a moda atual, ela fala na entrevista a seguir.

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Por que apresentar as peças em uma exposição no Brasil?

Sou viciada em exposições. Comecei nos anos 1980 e fiz minha primeira mostra em 1998. Desde então, não parei mais. Só este ano já foram sete. No Brasil, quis mostrar alguns dos meus trabalhos mais significativos. Ao todo, são 35 roupas. É uma boa maneira de o público brasileiro me conhecer já que, no País, sou muito menos popular do que no restante da América Latina.

Você também é uma estilista pioneira em licenciamentos. O que levou você a seguir por esse caminho de negócio?

Um dia me dei conta de que, se gostava de me vestir assim, não podia chegar em casa e ter tudo normal. Já quis ser arquiteta e sempre desejei fazer quadros, móveis, pratos, enfeites... Fora que são peças duráveis - posso vender a mesma cadeira durante 20 anos. Enquanto a roupa, infelizmente, é muito efemera. Além disso, nos licenciados, eu crio e a produção fica a cargo das outras empresas, o que facilita bastante.

Quais são os seus produtos de maior sucesso?

O lip balm que vem em uma latinha personalizada é um sucesso há quase vinte anos. Mas também tenho azulejos, portas blindadas, artigos para bebês, cama, mesa e banho. Tudo com meu estilo e com minhas cores.

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E como nasceu esse estilo?

Desde criança gosto de desenhar e pintar. Adorar cores e sair vestida de forma chamativa é natural para mim. Se não estou assim, eu me sinto disfarcada. 

O que mudou na moda desde que você começou?

Tive a sorte de participar da Movida Madrileña, em 1981. Foi um momento divertidíssimo. Aos 19 anos, eu estava na hora certa e no lugar certo. Éramos contra tudo! Muito mudou desde então, mas fiz do meu ateliê em Madri um mundo paralelo, em que quase tudo continua igual. Quando entro lá, eu me transporto para outro planeta. Houve momentos difíceis depois da Movida - muita gente morreu por causa das drogas e da Aids. Depois, todos começaram a vestir só preto, mas, de alguma forma, eu estava protegida.

O sucesso comercial veio rápido?

Comecei devagar, mas era igualmente feliz quando vendia pouco e hoje que vendo muito. Poucas coisas me excitam tanto quanto vender, não pelo dinheiro, mas pela adrenalina. Notei que estava no auge no início dos anos 2000, quando praticamente todas as meninas da Espanha vestiam Agatha.

Seus preços são acessíveis?

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Desde o primeiro dia. Sempre fiz roupas que as pessoas pudessem comprar. Gosto de Bauhaus e não sou fã da alta costura. Para mim, roupas caras não fazem sentido. Quantas pessoas vão a galas? Fazer um traje caríssimo para ser usado duas vezes me parece imoral.

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