Paris: a moda masculina também protesta

Colaborações inesperadas e união de marcas e tendências definem a temporada internacional de moda outono inverno 2017 para homens

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Por Jorge Grimberg e de Paris
Atualização:
Backstage Versace em Milão: punk, rock, esporte e alfaiataria juntos na mesma coleção. Foto: Reprodução/Facebook

Com o exército caminhando nas ruas dos boulevards de Paris - uma novidade na cidade após os recentes atentados - no último domingo, 22, a temporada de moda masculina de outono inverno 2017 chegou ao fim. Os desfiles começaram em Londres no dia 6 de janeiro, passaram por Milão e terminaram em Paris, com os termômetros marcando quatro graus abaixo de zero. Essa foi a primeira temporada de moda internacional pós-Trump e Brexit.Mix de culturas

Valentino outono inverno 2017 em Paris. Foto: Reprodução/Facebook

Muitas marcas, na busca de uma identidade moderna, estão usando os sinais das ruas e elevando-os à máxima potência nas passarelas. É um caldeirão de culturas e referências, como na Empório Armani, Versace, Diesel Black Gold e Valentino, que trazem elementos de rock, militarismo, punk, alfaiataria tradicional e esporte - tudo no mesmo look.

Diesel Black Gold outono inverno 2017 em Milão. Foto: Reprodução/Facebook

Tênis esportivo, calça de alfaiataria, camisa xadrez estilo grunge anos 1990 e jaqueta militar são usados juntos. O mais interessante é observar como a mistura realmente pode dar certo e libertar o armário masculino de regras antigas, como ‘terno, camisa, gravata, cinto e sapato combinando’.

Empório Armani outono inverno 2017 em Milão. Foto: Reprodução/Facebook

Use terno com tênis, troque o blazer por uma jaqueta jeans. As marcas nacionais e internacionais devem em breve trazer muitos produtos às lojas para ajudar os homens a embarcar no estilo mais fácil e livre.

Armani Outono Inverno 2017 em Milão. Foto: Reprodução/Facebook

A união faz a força Nesse cenário, marcas consagradas criam parcerias autênticas e expandem os seus olhares.

Detalhe da estampa no jeans da colaboração Louis Vuitton e Supreme. Foto: JORGE GRIMBERG

A coleção da Louis Vuitton em parceria com a pequena gigante Supreme New York, marca do universo do skate cultuada por jovens nos quatro cantos do mundo, foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. A Supreme tem um grupo de seguidores que fazem fila em suas lojas de Londres, Paris e Nova York para comprar bonés que custam em média 35 dólares. A parceria entre as duas marcas é um choque cultural. Aqui, no caso, a união faz a força. Peças icônicas já saíram da passarela como item de colecionador e devem voar das prateleiras.

Mochila Louis Vuitton em colaboração com a Supreme. Foto: JORGE GRIMBERG

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Outros modelos de negócio também estão tomando forma de maneira não convencional. A Dolce & Gabbana, que já vem apostando em celebridades digitais para suas primeiras filas há algumas estações, deu um passo além e convidou os influenciadores para desfilar. O casting global incluía até dois brasileiros, Lee Oliveira, fotógrafo de street style, e Lala Rudge, empresária e blogueira. Com a ação, o repost dos 'modelos' tornou-se uma poderosa ferramenta de marketing e os personagens passaram a ser também rostos da marca.

Women’s march

Fendi outono inverno 2017: o ativismo invade as passarelas. Foto: Reprodução/Facebook

Os desfiles de Paris terminaram em paralelo às passeatas pelos direitos das mulheres ao redor do mundo. Porém, nas passarelas, a revolução já estava em andamento.

Prada outono inverno 2017. Foto: Reprodução/Facebook

A Prada apresentou uma coleção com ares de juventude rebelde dos anos 1970, com boinas e calças boca de sino de veludo marrom, lembrando como se vestiam os jovens nas ruas há quase meio século. 

A Fendi estampou mensagens positivas nas estampas e acessórios da temporada. Palavras como ‘YES’, ‘TRY’, ‘HOPE’ e ‘LOVE’ estavam por toda a coleção. Um show de otimismo e atitude. Até Riccardo Tisci, rei do lado agressivo e dark da moda, mostrou um lado pacífico que não lembra em nada as estampas de cães raivosos que o consagraram há uma década.

Backstage Givenchy por Riccardo Tisci outono inverno 2017 em Paris. Foto: Reprodução/Facebook

Se nas ruas de Paris o exército deve caminhar para trazer um senso de paz à população e, nos EUA, as passeatas tomam o país para lutar pelas minorias; nas passarelas, o novo universo de moda masculina tem espaço para todos os gêneros e etnias. Sabe qual foi o grande destaque nas passarelas masculinas, além das tendências e novidades? As mulheres.

Lala Rudge para Dolce & Gabbana em Milão. Foto: Reprodução/Facebook

Talvez realmente seja o momento de enfrentar o sistema através de atitudes que falam por si só. Se nas ruas o protesto é alto, nas passarelas, ele é silencioso, porém caminha junto com as multidões nas capitais do globo.

*Jorge Grimberg é empresário, escritor, consultor de moda e especialista em tendências

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