Os bons costumes dos novos tempos

Como entender o que é certo e errado na sociedade dos influenciadores digitais

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Por Jorge Grimberg
Atualização:
O elenco de Downton Abbey: Série retrata adaptação à mudanças na sociedade no início do século XX Foto: Divulgação

A sociedade está evoluindo mais rápido do que nunca. No Brasil e no mundo, a velocidade da informação cria novos padrões sociais e políticos instantaneamente, que quebram tradições e costumes milenares. Nos anos 2010, as regras são reinventadas segundo a segundo. 

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O seriado inglês Downton Abbey, que virou febre no mundo (no Brasil está iniciando a quinta temporada no canal GNT), mostra a trajetória da família Crawley, donos de um feudo no início do século XX. A família nobre é obrigada a se adaptar aos novos tempos. Com o fim da primeira guerra, pouco a pouco a divisão de classes no Reino Unido passa a mudar e as diferentes classes devem se adaptar. Mesmo modernos, os nobres não querem perder os privilégios e status, e muito menos se misturar com as classes trabalhadoras. Já os trabalhadores, passam a reivindicar por novos direitos e questionar o sistema. 

Com uma sensibilidade muito humana, os episódios mostram como cada personagem vai se adaptando aos novos tempos e convivendo com as regras do novo mundo.

Cem anos depois, o mundo continua em constante adaptação. 

Tivemos muitas revoluções no século XX: os direitos das mulheres, dos negros, a democracia. Tudo foi muito batalhado. Hoje, vemos diversas lutas transformando a sociedade, sendo a causa gay e agora dos Transgêneros, algumas das mais discutidas hoje dentro dos núcleos familiares. Mães e pais estão passando a aceitar e incluir essas diferenças, como outras diferenças no passado foram pouco a pouco incluídas e aceitas. No seriado Downton Abbey, uma mãe solteira da nobreza é obrigada a abandonar o filho em segredo, pois não poderia tê-lo dentro de casa. Seria um absurdo para os padrões da época. 

O cenário social que vivemos sempre reflete no comportamento de consumo e gera novas oportunidades de negócios. É, finalmente, tempo de liberdade de expressão. Há 25 anos, Madonna cantava ‘Express Yourself’, para que as mulheres deixassem de viver na sombra dos homens. Hoje, as mulheres ganharam a mídia, de certa forma, mas ainda não alcançaram os mesmos níveis salariais. Tudo tem um tempo para acontecer. 

No ano de 2015, estamos deixando de ser alienados como grupo social. O formato da família tradicional é completamente repensado. Se olharmos para os lados, vemos que quase nenhuma família tem o formato perfeito. Separações, novos casamentos, doenças, diferença de idade significativa entre casais e diversidade sexual estão criando novos formatos. Uma nova era mais inclusiva de diferenças e menos cruel para aqueles que não se encaixam aos padrões. No anos 80, não se falava de bullying. Hoje as crianças logo cedo aprendem a não ter preconceitos. 

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É um momento muito democrático para a moda também. As tendências, que todos copiam para pertencer a um determinado nicho social, deixam de ser tão importantes e as personalidades individuais passam a ser mais relevantes que os movimentos coletivos. 

Hoje, uma expressão pessoal nas redes sociais pode ser mais impactante para um determinado grupo urbano do que os lançamentos de uma marca, como a soberana ditadora de tendências. 

Aqui no Brasil, vemos, por exemplo, como o movimento por uma vida saudável ganha força na internet, com os novos ícones das redes sociais. Pessoas comuns tornaram-se influenciadores por dividir com quem quiser, através do Instagram, dicas de exercícios, dietas e estilo de vida.

Na moda, os blogs tiveram o mesmo papel. Garotas comuns provam roupas e acessórios, dando opiniões e mostrando estilos reais. Muito mais próximo das mulheres do que modelos inatingíveis em editoriais de revistas. 

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Os novos costumes da sociedade celebram o indivíduo e suas formas de expressão acima do olhar de um editor ou estilista definindo o estilo de uma geração. Mas ainda, a tradição familiar do início do século XX continua prevalecendo no Brasil, um país tão guiado pelos valores cristãos. Essa contradição família versus indivíduo cria um choque entre a realidade que vivemos e uma ilusão de uma vida que poucos levam. 

As mudanças estão tomando forma e entrando nas casas das pessoas. Homens machistas cada vez têm menos espaço. Eles agora sofrem bullying. Mesmo difícil para os mais retrógrados, não é mais bacana ter preconceitos e tentar converter os filhos em grandes profissionais, heteros, casados e com uma vida que, na maioria das vezes, os próprios pais não conseguem levar. Até o Papa está mais aberto. 

É tempo de mudanças. 

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Uma pena que o Brasil não acompanhe e não dê suporte para esse novo momento. O país continua o mesmo Brasil de sempre. Um lugar violento, com suas castas não divulgadas e preconceitos não ditos. 

Cabe às novas famílias e novos influenciadores da internet estabelecerem as regras sociais para que essa segunda década do novo milênio gere a transformação que precisamos para uma sociedade mais justa e com mais inclusão.

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