NYFW apresenta uma revolução para a moda

Modelos rebeldes, coleções inteiras pretas e a volta dos anos 90: como as ideias revolucionárias chegaram - e ficaram - na Semana de Moda de Nova York

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Por Giuliana Mesquita
Atualização:
A coleção all black de Alexander Wang, com inspiração gótica-japonesa Foto: Divulgação

Não estamos vivendo tempos fáceis. O atentado à revista Charlie Hebdo, que levou 1,6 milhões de parisienses às ruas no último dia 11 de janeiro, é apenas a ponta do iceberg de um mar de insatisfação que mistura a falta de segurança, o fanatismo religioso, o novo feminismo e a misoginia, entre outros temas atuais. E o que isso tem a ver com moda? Algumas coleções da semana de Nova York foram influenciadas por esse incômodo crescente e trouxeram mulheres fortes à passarela, algumas prontas para a revolução, vestidas mesmo para lutar. Essa força vem representada não apenas pelas roupas, mas também pelos cenários, pela trilha sonora e até pela atitude das modelos na passarela. 

Na Diesel Black Gold, a coleção all black mistura peças pesadas com detalhes de renda Foto: Divulgação

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Se na temporada de verão 2015 a década que ditou tendência foi a de 1970, a história acaba de dar um salto, já que os anos 1990 surgem como influência de algumas coleções. Vale dizer, no entanto, que as duas décadas têm em comum esse sentimento de insatisfação, de quebra de regras, de transgressão. Em 1970, esse espírito jovem de contracultura veio com os hippies em Woodstock; nos anos 90, com os grunges se rebelando contra o mainstream e a estética vigente. 

Independentemente da década em que busca referências, a rebeldia ganha voz de diversas formas em Nova York. Alexander Wang, por exemplo, apresentou uma coleção gótica inspirada nos jovens japoneses. Seu inverno 2015 é composto, prioritariamente, de peças pretas. As modelos andavam duras, mal encaradas, quase que com raiva no olhar. Nos looks, detalhes em correntes faziam as vezes de adornos; nos pés, os coturnos pesados completavam o look “pronta pra guerra”. 

Na passarela da Marc by Marc Jacobs, as guerreiras de Katie e Luella Foto: Divulgação

Já na Marc by Marc Jacobs, a mensagem foi ainda mais clara: Luella Bartley e Katie Hillier escreveram mensagens como “Our Choice”, “Our Future” e “Solidarity” nas peças da primeira parte do desfile. A garota MBMJ saiu da rave - referência principal de seu desfile passado - com fome de revolução. “Nós usamos as estampas do [artista] William Morris porque ele quebrou barreiras e era muito politicamente ativo. Você pode fazer os dois. Só porque você trabalha com moda, não quer dizer que você não tem opinião sobre todo o resto”, disse Luella, logo após o desfile. A atmosfera ficou completa com a escolha da trilha sonora - “Children of a Revolution”, do T-Rex, e “Fight the Power”, do Public Enemy. Mensagem recebida.

Para 3.1 Phillip Lim, os anos 90 são a principal referência da coleção Foto: Divulgação

Outras coleções também aproveitaram o movimento de volta aos anos 90 para trazer referências militares - bolsos, casacos utilitários e coturnos - e xadrez às suas coleções. Na 3.1 Phillip Lim, a estampa ganhou casacos, saias e até vestidos longos. A Diesel Black Gold também entrou na onda das coleções all black e apresentou casacos pesados combinados a rendas em saias supercurtas - afinal, a neo-revolucionária pode. Na Thakoon, longos suéteres eram combinados a saias longas, outra silhueta típica dos grunges dos anos 90. 

Ainda que a causa importe, o comercial também fala alto. E não será difícil transformar essas coleções em hits de venda. Ao fim de seu desfile, Alexander Wang disse: “Nossas clientes gostam de preto, então por que não fazer uma coleção inteira preta?”. Mas a mensagem que os estilistas queriam passar também ficou clara. Que venha a revolução. 

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