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'Não podemos exportar apenas a moda do Brasil tropical'

Presidente da Associação Brasileira de Estilistas e CEO da marca Uma, Roberto Davidowicz defende a não estereotipização da moda nacional e conta como as peças minimalistas de sua grife conquistaram o mercado externo

Por Mariana Belley
Atualização:
Desfile da UMA na São Paulo Fashion Week temporada inverno 2015 Foto: Divulgação

Em 18 anos de história, a estilista Raquel Davidowicz jamais traiu seu próprio estilo. À frente da marca Uma, que comanda ao lado do marido Roberto Davidowicz, ela desenvolveu um DNA consistente, marcado por peças minimalistas de modelagem ampla, tons escuros e alfaiataria despretensiosa. A moda urbana e contemporânea da grife garante uma gama de clientes fieis e uma trajetória estável no turbulento mercado fashion brasileiro.

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Por isso mesmo, o casal de proprietários começa agora a expandir seus domínios para o exterior. Com espaço em showrooms de Nova York e Londres, a Uma acaba de realizar também sua primeira venda para o Japão. Em entrevista ao Estado, Roberto, que também é presidente da Associação Brasileira de Estlistas (Abest), fala sobre as dificuldades que enfrentou para chegar lá e defende a não estereotipização da moda feita no Brasil. “Os órgãos governamentais, como a APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), precisam entender que ao vender o Brasil só pelo lado tropical, eles matam muitas outras possibilidades”, diz ele. Leia mais a seguir.

Qual caminho a Uma percorreu até conseguir vender no exterior?Já tentamos investir no mercado externo outras vezes, mas não de maneira estruturada. Agora, há pelo menos um ano, estamos nos movimentando para encontrar esse espaço.Lá fora há muita oferta e precisamos chegar com calma. Os compradores das grandes multimarcas nos recebem, conversam, mas não compram da primeira vez, pois precisam sentir confiança, já que as marcas brasileiras não são globais. Não é como a Dolce & Gabanna, por exemplo, que tem um estilo internacionalmente conhecido. Como não há uma leitura imediata do produto, precisamos apresentar nossa proposta e provar a consistência da marca.

Quais os maiores desafios para a exportação da moda brasileira? Ter uma história verdadeira para contar e oferecer um produto bom. O produto brasileiro tem que ser muito bem feito para chegar ao padrão europeu e americano de qualidade e preço. O Brasil é caro em relação ao mundo. Os compradores das grandes multimarcas reclamam que o valor de nossas peças são demasiadamente excessivos em comparação ao de grifes de outros países. 

O que deixa esse valor tão alto? Na cadeia produtiva do Brasil, você compra imposto e vende imposto o tempo todo. Quando o produto fica pronto, ele tem uma bagagem de imposto que está lá. É inerente. Nosso produto tem esse custo elevado porque temos um sistema tributário complexo e ineficiente.

Raquel Davidowicz eRoberto Davidowicz, CEO da marcaUMA na qual Raquel é estilista Foto: Reprodução

Qual a imagem da moda brasileira lá fora? É muito positiva porque temos um frescor e uma história para contar. A moda praia brasileira, por exemplo, carrega um rótulo de desejo em qualquer mercado internacional. Mas é importante também mostrarmos que não somos só isso. Os órgãos governamentais, como a APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), precisam entender que ao vender o Brasil só pelo lado tropical, eles matam outras boas possibilidades. Ninguém sai pra comprar uma roupa pensando 'quero algo de uma estilista francesa'. Não. Você vai atrás de uma peça que goste e que tem sua cara e só depois pensa na origem do estilista. Então, o Brasil precisa vender um produto que agrade. Nós fazemos moda tão bem e somos tão criativos quanto os melhores mundo. Porém, ser criativo não significa criar brasilidades estereotipadas. A criatividade está nos desenhos, no shape, na inspiração, na cultura e no background do designer. 

Por isso a aposta no sucesso internacional da Uma? A Uma é uma marca urbana, contemporânea, clean, minimalista. Nunca perdemos nosso DNA nem nos deixamos levar por grandes tendências mundiais. Nosso produto tem valor agregado, uma cara global e é feito por uma estilista brasileira que tem cultura e bagagem brasileiras. Porém, não se trata de um produto caricato que tem o estereótipo brasileiro. Não vendemos periquito e papagaio. Vendemos uma roupa globalizada que pode ser usada em qualquer lugar do mundo.

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