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"Não há como forçar beleza na alta costura"

Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, estilistas que revolucionaram a maison Valentino, falam sobre seu processo criativo e o desfile emblemático que a grife realizou em Roma na última semana

Por Maria Rita Alonso
Atualização:
Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, estilistas no comando damaison Valentino Foto: Divulgação/ Valentino

Paixão e resiliência são características marcantes dos estilistas Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli. Depois de trabalharem dez anos como designers de acessórios da Maison Valentino, eles foram promovidos a diretores artísticos da grife em 2008 e, desde então, vem criando hits, colecionando elogios da crítica e multiplicando os lucros da empresa. Em maio, receberam o prêmio internacional do Council of Fashion Designers of America (CFDA), um dos mais festejados do mundo da moda. Os dois nasceram em Roma e comungam da mesma paixão pela cidade. Não à toa, a coleção recém-apresentada por eles foi batizada de Mirabilia Romae (Maravilhas de Roma, em latim), nome dado ao primeiro guia turístico da capital italiana, um livro que mapeava os lugares e era destinado aos pelegrinos que chegavam lá, séculos atrás. Em entrevista exclusiva ao Estado, eles falam sobre o seu processo criativo, suas inspirações e sobre a admiração que sentem pela cultura brasileira.

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Por que fazer o desfile de alta costura em Roma e não em Paris, como de costume?

MGC: Roma é a cidade onde nós nascemos, onde nós moramos, criamos a nossa moda, temos o nosso ateliê. Roma é a nossa inspiração. Por isso, é maravilhoso. Estamos muito, muito animados. 

PP: A ideia era revelar a nossa perspectiva da alta moda. E para isso fomos buscar uma Roma profunda e menos conhecida. Nossa intenção é mostrar o nosso olhar sobre a cidade. Queremos que as pessoas vejam lugares diferentes, pouco turísticos, e consigam sentir uma Roma que só os romanos conhecem.

 

Vocês batizaram o evento de Mirabilia Romae, que em latim significa Maravilhas de Roma. Quais são elas?

PP: Por exemplo, a Villa Medici, uma construção do século XVI, que pertenciaao cardeal Ferdinando de’ Medici e no século XIX virou residência de uma comunidade de jovens artistas franceses que vinham estudar na cidade. Quando você chega lá, consegue entender por exemplo a atmosfera em que foi criada "As Quatro Estações", de Vivaldi, sentindo a fragrância fresca do magnifico jardim. Nós também adoramos os afrescos conservados do local. Eles são originais do século XVI e enfeitam um antigo quarto que o cardeal usava para receber suas amantes. Enfim,é um lugar fascinante e romântico. Há também a torre da igreja de Sant’Agnese, que representa a face monástica da cidade, apesar de não seu uma igreja tão visitada.

MGC: Nas nossas roupas, tentamos reproduzir a mesma beleza sem esforço que vemos em Roma. Não há como forçar a beleza na alta costura. É preciso sentir a mágica que há por trás de um vestido.

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Como diretores criativos da marca vocês cuidam não só das roupas, como também do estilo das lojas, da concepção dos desfiles, das campanhas. É muito trabalho, não?

MGC: Nós temos muita paixão e é importante passar a nossa visão para a marca como um todo, de um jeito correto e bonito. Quando a gente faz isso tudo, sinceramente, a gente trabalha duro, mas é estimulante.

PP: Claro que é muito trabalho olhar cada um dos projetos e coleções, mas também é uma grande oportunidade de expor nossa visão sobre a moda.

 

Valentino tem uma grande tradição na moda, mas nos últimos anos vocês deram uma cara mais contemporânea às roupas. Como fazer esse balanço entre a herança do passado e os desejos do futuro?

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MGC: O passado está bem vivo para nós em nosso trabalho. A cidade tem um grande legado histórico e isso é incrível. Mas nós vivemos aqui de uma forma muito contemporânea e a mesma coisa se dá na Valentino. Nós herdamos símbolos incríveis e vamos dando novos pontos de vistas para eles.

 

PP: Às vezes, somos nostálgicos na moda. Por exemplo, usamos recentemente um vestido dos anos 90 do Valentino que era todo camuflado como ponto de partida para uma coleção de tênis e roupas camufladas. Mas fizemos isso mudando a estampa, com silks de couro e também mudando as cores, usando tons vivos. A contemporaneidade na moda é justamente essa mistura entre o high e o low, o novo e o velho, usando facetas diferentes colocadas juntas de uma maneira única. É disso que se trata os nossos tempos.

 

Vocês conseguem destacar gostos e particularidades de suas consumidoras brasileiras?

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MGC: Nos dias de hoje tudo está muito conectado. Por isso, as mulheres brasileiras não se vestem de forma tão diferente das americanas ou das japonesas. Mas, claro, há particularidades na brasileira que é o joie de vivre, algo que é realmente único em vocês, sempre alegres, aproveitando o momento.

 

PP: Nós adoramos e nos identificamos com muitos elementos da cultura brasileira. Vocês se parecem muito com as pessoas do sul da Itália, que têm um jeito que eu pessoalmente adoro! De fato, nós gostamos muito de tudo que vem do Hemisfério Sul. Por isso nos sentimos muito próximos dessa atitude brasileira e dessa mistura que vocês fazem entre o sagrado e o profano. Aliás, essa mistura tem muita beleza porque faz parte da vida. 

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