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Misticismo, dark folk e surpresas

O último dia de SPFW teve Giuliana Romanno, Patrícia Viera, Ratier, Colcci. E até um cachorro na passarela

Por Maria Rita Alonso e Giovana Romani
Atualização:
A grife Colcci apresentou a coleção de inverno 2016 na sexta-feira, 23, na São Paulo Fashion Week Foto: AFP/ Nelson Almeida

No último dia da São Paulo Fashion Week, o primeiro desfile começou pontualmente. Uma exceção, já que a regra geral é de 15 a 30 minutos de atraso. No mínimo. Às 10h, quando os convidados entraram na sala da apresentação da estilista Giuliana Romanno, montada na galeria de arte Rabieh, nos Jardins, as modelos já estavam posicionadas atrás de uma porta de vidro. Giuliana faz roupas para mulheres contemporâneas, que não têm tempo a perder. Então, a pontualidade fez todo o sentido. Fizeram sentido para elas também as roupas da coleção, com uma alfaiataria desconstruída, estampas sóbrias, cores escuras e um ou outro look mais sexy, com as tramas abertas que já são conhecidas da clientela da marca. 

A estilista vem em um crescente criativo e essa coleção confirma sua vocação de grande alfaiate para a moda feminina, com o perdão do contrassenso. “Os desfiles da semana superaram as expectativas”, diz Larissa Lucchese, editora de moda da revista "Marie Claire". “Fazia tempo que uma temporada nacional não empolgava tanto. Com a crise, os estilistas não podem errar. Eles pareceram empenhados e dá para ver o crescimento nas roupas.”

A estilista Patricia Viera é especialista em couro. Avessa à geração digital, seu estilo é mais chão de fábrica. (Reportagem: Jorge Grimberg) Foto: Divulgação/ Agência Fotosite

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Famosa pelo seu trabalho primoroso em couro, a estilista Patrícia Vieira apostou no misticismo em uma coleção inspirada por uma viagem ao deserto do Atacama. Realizada no Centro Universitário Belas Artes, a apresentação teve, entre seus pontos fortes, calças flare em couro azul marinho com aplicações de minibrilhos dourados e jaquetas pintadas a mão, com desenhos de símbolos do zodíaco, caravelas, luas e estrelas.

Avessa à geração digital, Patrícia tem um estilo mais chão de fábrica. E seu curtume próprio produz couros levíssimos com acabamentos tecnológicos. “Sou perfeccionista e difícil de trabalhar”, afirma ela, que colocou sal grosso no centro da passarela. Até aí, tudo bem, porque a estilista também é conhecida por sua veia esotérica. A surpresa veio no final, quando uma cerimônia de entrega do título de professora Honoris Causa começou de repente. A jornalista Marília Gabriela subiu em um palco e fez uma homenagem à Patrícia – houve uma solenidade até com Hino Nacional. Totalmente fora do protocolo fashion.

O desfile de estreia de Ratier foi interessante. Uma turma da noite, que não frequenta normalmente a São Paulo Fashion Week, se acomodou confortavelmente na fila B, em uma atitude descolada e despretensiosa de turma do fundão. Foto: AFP/ NELSON ALMEIDA

Outra surpresa foi o desfile da Ratier, marca de Renato Ratier, conhecido empresário da noite, que, no final de 2014, resolveu se aventurar no ramo da moda ao abrir uma loja estilosa nos Jardins. A apresentação começou com fumaça de gelo seco na passarela, teve música eletrônica e até um cachorro husky. 

Foi interessante. Uma turma da noite, que não frequenta normalmente a fashion week, acomodou-se confortavelmente na fila B, em uma atitude descolada e despretensiosa de galera do fundão (na turma da moda, todo mundo quer sentar na fila A). Couro e algodão juntos foram chave na construção de looks masculinos e femininos.

O estilo de Ratier é dark folk, um mix de referências underground com um toque campestre – ele foi criado no Mato Grosso do Sul, sua família cria gado, e sua mãe é artista plástica. A moda faz a linha do americano Rick Owens, que desfila em Paris, linha que nenhum estilista nacional explora. Merecem destaque os tricôs de couro e os “acessórios de vestir”, assinados pela marca Baum & Haut, da designer Caroline Baum. São mangas, golas, cintos e pelerines removíveis, que dão um super charme às peças básicas.

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Modelo apresenta coleção de inverno 2016 da grife Colcci Foto: AFP/ ANDRE PENNER

O desfile da Colcci, agora sem Gisele Bündchen, não teve surpresas. Em vez de tentar substituir a supermodelo, a marca focou nas roupas, bonitas e comerciais. Peças de chamois em tons de camelo, uma novidade para a Colcci, foram misturadas ao denim, seu carro-chefe.

Renda, couro e jacquard complementaram a coleção, inspirada no ritmo lento de destinos desérticos. “As pessoas estão correndo muito na cidade, o ritmo é cada vez mais frenético. Por isso, elas buscam viagens incomuns a lugares distantes onde inclusive o celular não pega”, diz a estilista Adriana Zucco. Em geral, 10 a 15 itens da coleção são escolhidos para ganhar versões comerciais. Por isso, o que se vê na passarela não se encontra nas vitrines. “Não adianta fazer peças que custam uma fortuna”, afirma Adriana. Está aí uma coisa que não é surpresa na moda nacional. Entre conceito e vendas, às vezes há uma boa distância. COLABOROU JORGE GRIMBERG

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