Mamãe, papai, vocês são culpados de fofocar sobre a vida dos filhos

Estas crianças um dia serão adolescentes, escreverão suas próprias histórias online e consultarão fotos e posts de anos antes

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Por Robin Erb
Atualização:
E convém sempre reiterar o óbvio: A Internet é para sempre Foto: James Emery/ Creative Commons

Três em cada quatro pais americanos dizem que conhecem pelo menos uma mãe ou um pai que costumam fofocar a respeito da vida dos filhos na mídia social - com informações embaraçosas ou até mesmo inadequadas, como mostra a segunda fase de uma pesquisa realizada com os pais na Universidade de Michigan.

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Além disso, cerca de sete entre dez afirmam que estão preocupados com a privacidade neste mundo totalmente escancarado de divas de fraldas e belezas na banheira, e a metade deles diz temer que seus filhos se sintam encabulados quando forem mais velhos.

No entanto, os pais dizem também que usam a mídia social, como o Facebook e outras comunidades online, buscando afirmação e apoio - um "reforço positivo" nos primeiros anos difíceis da educação dos filhos, quando pisam em terreno desconhecido.

"O que há de melhor é que a gente sente que não está sozinha - mesmo que sejam 2 horas da manhã e se pergunte: Quem estará acordado a esta hora? ou: Meu filho não come nada com laranja; ou Meu filho está tendo uma urticária estranha", disse Sarah Clark, diretora adjunta de Pesquisa Nacional sobre Saúde do Hospital Infantil CS Mott da Universidade de Michigan, e cientista pesquisadora do Departamento de Pediatria da UM.

Sondagens periódicas são realizadas entre os pais de todo o país, que devem respondem a perguntas sobre, por exemplo, o início do período escolar, pagar para praticar esportes ou sobre circuncisão.

Na última sondagem - os pesquisadores - muitos pais, inclusive - queriam avaliar os benefícios e as armadilhas do que, nos últimos anos, se tornou uma norma social.

Eles entrevistaram 569 pais com filhos de até 4 anos.

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Como os pais se diziam preocupados com a segurança e a privacidade, "nós queríamos contrabalançar estas preocupações com indagações como: 'qual será o lado positivo disto?' Se as pessoas fazem estas coisas, algum benefício estarão obtendo disto", disse Clark.

No que diz respeito à fofoca sobre os filhos, a pesquisa mostra que:

- 84% da mães, e 70% dos pais falam sobre este tipo de tema

- 56% das mães e 34% dos pais contam da saúde dos filhos e da sua educação. Sono, alimentação, disciplina, creche/jardim da infância e comportamento são os temas mais falados

- 72% dos pais afirmam que falar disso faz com que se sintam menos sós; 62% acham que isto os ajuda a se preocuparem menos

- 68% se preocupam com a privacidade dos filhos

- 67% temem que alguém compartilhe das fotos dos filhos

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- 52% têm medo de que a criança se sinta constrangida ao crescer

Mesmo quando há sistemas de proteção da privacidade, não há garantia de que ela seja efetiva Foto: Aikawa Ke/ Creative Commons

A pesquisa também enfatizou que os conceitos de "constrangimento" e de "inadequação" variam de acordo com os pais. Um bebê num banho de espuma pode não ter problemas para alguns deles, mas ser ofensivo para outros.

Na semana passada, uma foto de estúdio de um bebê dormindo envolto numa bandeira americana provocou duras críticas de pessoas indignadas pelo fato de a bandeira ter sido usada como adereço numa fotografia.

E nos casos piores, uma imagem postada com frases carinhosos ou mesmo os seus comentários podem ser sequestrados para fins cruéis. Existem sites que colecionam fotos de bebês para memes depreciativos ou para classificar algumas crianças como feias. Outro site critica asperamente os pais porque deixam de falar dos filhos, retiram as imagens dos posts no Facebook e censuram os comentadores.

Mesmo quando há sistemas de proteção da privacidade, não há garantia de que ela seja efetiva, segundo Clark: "Os pais têm o dever de se preocuparem com este tipo de identidade online que criam para seus filhos, antes que estes cheguem à idade de formarem sua própria identidade". O consultor de mídia social, Christopher Barger, sugere que as pessoas procurem perguntar a si mesmas antes de postar alguma coisa ou enviar perguntas: Eu falaria disso no trabalho?

Quando se trata da preocupação por causa de uma estranha erupção da pele, o feedback de outros país é adequado para a pausa do cafezinho. Se você quer alguma orientação porque seu filho está baixando pornografia, a coisa já está indo longe demais, ele disse.

E convém sempre reiterar o óbvio: A Internet é para sempre.

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Estas crianças um dia serão adolescentes, escreverão suas próprias histórias online e consultarão fotos e posts de anos antes.

Poco Kernsmith, professora de trabalho social na Wayne State University, conta que posta ocasionalmente uma foto do filho, mas somente para os amigos mais próximos.

E não é apenas porque sua pesquisa sobre o tema da violência e dos crimes sexuais limita seu compartilhamento, mas também para permitir que ele decida o que pretende compartilhar: "Acho que ele deve ser dono da própria identidade", ela disse.

Tradução de Anna Capovilla

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