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Louis Vuitton lança coleção de bolsas feita em parceria com Jeff Koons

Grife francesa emprestou obras de arte da série ‘Gazing Ball’ para elaborar 51 peças

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Por Redação
Atualização:
Delphine Arnault, da LVMH, com um modelo de bolsa da parceria. Foto: REUTERS/Gonzalo Fuentes

“Eles tocam o metafísico: o aqui e agora e sua conexão com o passado e o futuro. Eles falam sobre o brilho, os fundamentos da filosofia, paixão, o que significa ser humano, o que significa ser um animal, a ideia de transcendência.” Essa fala é de Jeff Koons, gênio ou ‘charlatão’, dependendo do interlocutor – um artista conhecido por elevar brinquedos infantis e aspiradores de pó à estatura dos deuses gregos, sentado em seu estúdio de 3.250 metros quadrados meditando sobre seu mais novo projeto: uma série multifacetada na qual vem trabalhando sob completo segredo por mais de um ano chamada ‘Masters’.

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Agora, prestes a revelar a obra, Koons estava animado, o comportamento santificado e repleto de referências. “Ao trabalhar, senti meu próprio potencial, e a emoção de compartilhar com um grande público”, diz ele alegremente. O que era essa passagem para o eterno?

Outra escultura pública enorme, como ‘Split Rocker’, o busto de um cavalo de balanço coberto de flores de 11,2 metros de altura que ocupou lugar de honra no Rockefeller Center em 2014? Uma retrospectiva em um museu, como a mostra que definiu sua carreira no Whitney no mesmo ano? Ampliem suas mentes, pessoal! Uma nova linha de bolsas.

Além das bolsas, lenços, chaveiros e pequenos artigos de couro, entre eles carteiras e capas de laptop – 51 peças ao todo – feitas em parceria com a casa de luxo francesa Louis Vuitton. Embora Koons tenha flertado com a moda antes, trabalhando de vez em quando em coleções com Stella McCartney e H&M, esta é a primeira vez que cria um design original para uma marca, ao invés de apenas usar uma reprodução de seu trabalho em um produto ou transformar uma escultura em um colar.

Inspirado pela série de pinturas ‘Gazing Ball’ feitas por Koons em 2015, que incluía reproduções exatas de várias obras primas (como ‘O Almoço na Relva’, de Manet, ‘Nenúfares’, de Monet e ‘O Beijo’, de Klimt) com esferas reflexivas azuis usadas em geral como enfeites de jardim afixados no teto, refletindo o espectador, a coleção traz cinco das mais famosas pinturas da história, entre elas a ‘Mona Lisa’ de Da Vinci, ‘Campo de Trigo com Ciprestes’, de Van Gogh, e ‘A Caçada do Tigre’ de Rubens, todas reproduzidas em detalhes em alta definição sobre as bolsas de couro mais clássicas da Vuitton.

No lugar de uma bola que olha, cada bolsa tem como enfeite letras reflexivas de ouro ou prata com o nome do artista como uma peça gigante de joia hip-hop. Na parte de baixo, de um lado estão as iniciais de Koons – ou logotipo – e do outro o da Vuitton. O laço de couro ao redor da alça, que normalmente traz uma fechadura ou uma etiqueta de identificação, foi cortado para parecer um dos coelhos feitos de balões de Koons. “É um ménage à trois!”, diz Michael Burke, executivo-chefe da Vuitton.

A frase faz a coleção soar um pouco depravada, ma apesar do acúmulo de informação, elas se parecem com as bolsas compradas como souvenir nas lojas de museu remodeladas como acessórios de luxo. O que por sua vez tende a provocar uma reação (que não é incomum quando a pessoa entra em contato com o trabalho de Koons pela primeira vez) do tipo: “Você só pode estar brincando”. Embora, claro, eles não estejam. De verdade.

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“Acho que vamos conseguir um empurrão”, afirma Burke. “As pessoas ficarão chateadas com o sagrado entrando no reino do profano. Mas gostamos de fazer coisas que são percebidas como politicamente incorretas. Estamos recebendo críticas, acho que fizermos alguma coisa certa”. Além disso, trabalhar com a alta cultura não é exatamente um território novo para a Louis Vuitton.

A marca tem uma longa história de associação com o mundo das artes, de exibições importantes que apoiou nos anos 1990, causando algum alvoroço (“Arte é dominada pelo ministro da Cultura, não do Comércio”, diz Burke, de maneira um tanto sarcástica), até várias colaborações artísticas que o ex-designer Marc Jacobs incentivou com Yayoi Kusama, Takashi Murakami, Richard Prince e Stephen Sprouse. Os desfiles da empresa já aconteceram no Cour Carrée do Louvre e, recentemente, a Vuitton se tornou a primeira casa de moda a fazer um desfile no espaço de esculturas do museu. Em 2014, a companhia abriu a Fundação Louis Vuitton, que abriga a coleção LVMH (que possui obras de Koons) e exibições temporárias.

O artista Jeff Koons. Foto: REUTERS/Gonzalo Fuentes

Larry Gagosian, um dos galeristas de Koons, acha que a colaboração com a Vuitton faz muito sentido na carreira do artista. “Jeff é um dos poucos artistas que pode entrar nessas águas sem comprometer o seu trabalho principal”, acredita ele. “Não é o tipo de coisa que Mark Rothko faria, mas sem dúvida Andy Warhol abriu caminho para isso, e Jeff se inspirou nesse exemplo até certo ponto.”

“Algumas pessoas provavelmente vão pensar que é muito comercial, que artistas sérios não deveriam fazer bolsas. Mas também acho que muita gente vai gostar delas. São muito vendáveis”, afirma ele. “As pessoas vão pensar: ‘Como eles se atrevem?’. Mas isso é bom porque daí você vai ter que refletir: ‘Por que eu penso assim?’”, completa Burke.

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A questão aqui não é exatamente um mistério. Por um lado, a Vuitton está explorando a arte para ganhar dinheiro. Por outro, um artista está se vendendo. No meio, consumidores estão conhecendo grandes obras de arte como se fossem descartáveis. Para combater um pouco essa ideia, a Vuitton e Koons adicionaram uma subnarrativa ao projeto que transforma seu foco em um esforço de abordar a importância decadente da arte clássica – podemos dizer que é quase um serviço cívico. Dentro de cada bolsa, por exemplo, está uma pequena descrição do artista, como uma lição de história escondida para a geração Twitter.

E eles têm o apoio dos museus. Eles não precisavam – as obras de arte são todas de domínio público – mas queriam trabalhar com as fotografias com a melhor qualidade possível, o que significava usar as de alta resolução que as instituições mantêm em seus arquivos. Jean-Luc Martinez, diretor do Louvre, quis participar logo no início. “Eu concordo totalmente com esse projeto”, diz ele.

Nenhum de seus colegas recusou. “Eles entenderam imediatamente que para a arte clássica competir com a contemporânea, você precisa levá-la para a rua”, conta Burke. “Todos disseram: ‘Queremos que esses artistas fiquem mais conhecidos’.” Em leilões recentes, obras de arte contemporânea foram vendidas por preços mais altos que as de velhos mestres. “Quanto mais gente olhar para grandes obras de arte, melhor para nossa cultura”, afirma Gagosian.

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A coleção finalmente foi apresentada ao público em Paris em um jantar estrelado no Louvre. Koons estava lá. (Ele se converteu aos ternos Louis Vuitton, pelo menos para ocasiões formais. Para o trabalho, ele tende a usar camisas Theory azuis, calças Joe´s Jeans e tênis; ele parece ter uma coisa com o azul.) Catherine Deneuve e Michelle Williams também compareceram. Alicia Vikander não, embora seja o rosto da empreitada. “Ela tem uma coisa meio da Mona Lisa, não é?”, perguntou Burke.

As bolsas não vão ser vendidas online. Elas serão oferecidas apenas em alguns endereços da Louis Vuitton e em lojas pop-up especiais de Nova York. Burke está se preparando para um certo fracasso. E também para uma possível segunda linha. “Bem, há mais de 40 artistas na série Gazing Ball. Existe muita oportunidade por aí”, diz ele.

Koons afirma: “Mal posso esperar para ver as bolsas no mundo real”. Ele diz que provavelmente vai começar a carregar a Rubens Keepall, parecida com uma sacola de clube, ao invés da bolsa básica que usa hoje. E está entusiasmado “para descobrir o que as pessoas vão escolher, e com que roupa vão usar as bolsas, que tipo de apresentação farão de si mesmas”. A experiência, diz ele, “me fez querer produzir mais coisas que são acessíveis às pessoas”.

É uma ideia bacana. A questão é: será que alguém vai comprar?