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Gucci é investigada pelas autoridades italianas por evasão fiscal

Inquérito estima que a grife esteja devendo 1,3 bilhões de euros ao governo da Itália

Por Vanessa Friedman
Atualização:
A Gucci é uma das marcas mais populares do momento, tendo aumentado suas vendas em 49% no último trimestre de 2017 Foto: Valerio Mezzanotti/The New York Times

A Gucci, uma das marcas italianas de mais sucesso e que, com seu renascimento na era do estilista Alessandro Michele, se tornou um exemplo de negócios, está sendo investigada como uma das maiores evasoras fiscais do país. Segundo o jornal italiano La Stampa, os oficiais estão investigando se a empresa pagou ou não 1,3 bilhões de euros em impostos, valor confirmado por um dos consultados no inquérito - a quantia é a maior cobrada de uma marca italiana em toda a história.  A Receita Federal italiana coletou provas no Gucci Hub, campus de 377 mil m² em Milão, que serve de moradia para 250 funcionários, como também nos escritórios da grife em Florença. "A Gucci confirma que esta cooperando com as autoridades e confiante sobre a correção e transparência de suas operações", escreveu a marca em comunicado. 

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A empresa está sendo investigada por manter operações na Suíça que, segundo o gabinete do procurador de justiça, autoridade máxima em crimes de colarinho branco, também deveriam ter sido declaradas e taxadas na Itália. O inquérito é o último de uma série de investigações do país contra empresas em crescimento. O Google estabeleceu um acordo de pagar 334 milhões de dólares e, em 2015, a Apple concordou em contribuir com 350 milhões de dólares. 

O processo também faz parte de uma série de investigações das autoridades italianas contra marcas de moda, já que a maioria delas foi comprada por grupos, evitando litígios caros e prolongados, que mancham a imagem. A Giorgio Armani, por exemplo, foi sentenciada em pagar 373 milhões de dólares em 2014; Miuccia Prada e seu marido, Patrizio Bartelli, pagaram 571 milhões de dólares em 2013, e a Bulgari fez um acordo de 78,6 milhões em 2015.  A Dolce & Gabbana passou sete anos lutando contra acusações de que teria criado uma empresa em Luxemburgo para proteger seus lucros. Embora a grife e seus donos, os estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana, tenham sido originalmente condenados, em 2014, o tribunal de Cassação de Roma, a corte mais alta da Itália, os liberou de todas as acusações.  Mesmo estando nessa lista de gigantes, o caso da Gucci se destaca tanto pela enorme quantia de dinheiro envolvida, quanto por sua reputação de conto de fadas da moda. Outro ponto importante é que a empresa é propriedade do grupo francês Kering, conglomerado de marcas de luxo que também é detentor da Saint Laurent, Balenciaga e Bottega Veneta, entre outras - procurado pelo The New York Times, o grupo não quis se pronunciar.  O crescimento astronômico recente da Gucci - 48% em vendas comparáveis no primeiro trimestre de 2017, 39% no segundo e 49% no terceiro - colocou o diretor executivo Marco Bizzarri, e o diretor criativo, Alessandro Michele, no pódio da indústria da moda.  A marca ficou no 47º lugar na lista da Forbes de marcas mais valiosas do mundo publicada em maio deste ano, com patrimônio de 12,7 bilhões em maio deste ano. Em 2016, no Fashion Awards, em Londres, Bizzarri ganhou o prêmio de Líder Internacional de Negócios, e Michele ficou com o título de Designer de Acessórios Internacional. No mesmo ano, o estilista ganhou o prêmio internacional do Conselho de Designers de Moda em Nova York. É possível, no entanto, que esta trajetória de sucesso tenha sido exatamente o que colocou a grife no radar do procurador de justiça.  "Eles poderiam criar uma nova ordem mundial de evasão fiscal", declarou Leopoldo Zambeletti, conselheiro estratégico independente e ex-banqueiro da JPMorgan Chase. "Qual é a melhor maneira de mostrar que você está falando de negócios do que pegar o maior e mais brilhante nome?"  Luca Solca, líder do segmento de luxo na empresa de investimento Exane BNP Paribas, foi mais otimista. "As autoridades fiscais italianas têm desafiado uma série de quadros de otimização de impostos - o caso da Luxottica, Dolce & Gabbana e vários outros vêm à mente - com diferentes níveis de sucesso", afirmou. Sobre as operações da Gucci na Suíça, ele acrescentou: "Presumo que essa seja uma razão legítima pela qual sua taxa de imposto é menor."