Estilistas e empresários discutem os caminhos do luxo no Brasil

Nesta segunda, 16, São Paulo sediou pela primeira vez a conferência Luxury Lab, que coloca em debate as tendências do mercado de luxo no país e no mundo

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Por Jorge Grimberg
Atualização:
"O luxo está nos valores, materiais, responsabilidade e sofisticação empregados no processo", diz o estilista Oskar Metsavaht Foto: Reprodução

Nesta segunda-feira, 16, São Paulo recebeu pela primeira vez o maior evento focado no mercado de luxo da América Latina, o Luxury Lab. Em sua quarta edição, a conferência, que teve início há quatro anos na Cidade do México, recebeu figuras influentes do mercado no Brasil e no mundo para palestras e bate-papos, em que foram apresentadas pesquisas e tendências do setor, além de cases de sucesso. Enfim, um painel de inspirações para uma platéia de aproximadamente 200 pessoas.

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Realizadas no hotel Unique, as palestras trouxeram um panorama interessante de estatísticas. Olavo Cunha, do Boston Consulting Group, apontou que o crescimento do mercado de luxo ainda deve vir de países emergentes como China e Brasil no curto prazo, mesmo com a queda do crescimento dos BRICS. Ele mostrou ainda um estudo detalhado que comprova que 52% da compra de luxo no Brasil é concretizada fora do país. O gasto médio individual do consumidor brasileiro no exterior é de 6 800 euros e suas cidades preferidas são Paris e Nova York - Miami vem perdendo força. A pesquisa indica ainda que o empresário no Brasil perde muitas vendas por não contar com operações online no segmento luxo. “As empresas que não possuem canal digital acabam perdendo 70% das oportunidades de compra”, disse Cunha. 

Outro palestrante, o norte-americano George Michell, CTO e co-fundador da empresa Brand Karma, endossou a tese dizendo que a internet pode ser “a melhor amiga das marcas ou a pior inimiga”. No Brasil, apenas 30% das compras de luxo ocorreram no ambiente de varejo físico. 

Para a especialista em varejo June Hayes, baseada em Nova York e consultora de empresas como Dolce & Gabbana e Valentino, o grande diferencial do mercado de luxo deve estar no treinamento das equipes de vendas. “Os vendedores são os embaixadores das marcas”, afirmou. “Um fator chave da compra é o follow-up. Os vendedores devem mandar um bilhete, de preferência escrito a mão, perguntando sobre o uso do produto e estabelecendo uma relação com o cliente.”

A empresária Natalie Klein no evento Foto: Reprodução

Para complementar as apresentações de pesquisa e estratégia, empresários do setor no Brasil, como Carlos Jereissati, Natalie Klein, Oskar Metsavaht e Rogério Fasano falaram sobre a construção de marcas de luxo no país. “Luxo, para mim, vem da nobreza, do estado de espírito nobre. De fazer algo nobre ao próximo”, disse Oskar, fundador e diretor criativo da Osklen. “Se isso é exclusivo ou não, não é tão importante. O que importa são os valores, materiais, responsabilidade e sofisticação empregados no processo.” Rogerio Fasano concorda que o conceito de luxo vai além do lugar comum. “Buscamos mais a excelência do que o luxo em si. Para mim luxo é você jantar fora e voltar a pé para casa e não temos isso no Brasil”, afirmou o empresário. 

Fundadora da loja multimarcas NK Store, Natalie Klein foi mais a fundo no tópico. “A minha cliente tem os melhores serviços. Podemos, por exemplo, mandar vendedoras e costureiras para a casa dela. Isso justifica o custo mais elevado que temos por comprar no Brasil, devido à alta carga tributária”, explicou. 

Um ponto em comum entre os palestrantes foi como os modismos atrapalham o desenvolvimento do mercado premium no Brasil. “Com a Europa em crise e uma demanda reprimida em consumir o luxo, tudo agora é brilhante e solta fogos. O luxo passa a ser ostentação”, disse Oskar.“O brasileiro é louco por modismos. Quando você vê em uma mesa de restaurante dez mulheres com a mesma bolsa, isso não é luxo, isso é modismo”, completou Fasano. 

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Em um país como o Brasil, marcado pelas diferenças sociais, o consumo de luxo está intimamente relacionado ao status. “Todo mundo olha para o consumidor de luxo no Brasil como um consumidor-ostentação. O meu modelo de negócio visa educar o público, trazendo marcas desconhecidas do grande público, mas com qualidade e estilo excepcionais, como Celine e Stella McCartney ”, disse Natalie Klein.

Lá fora, superados os modismos, novas propostas surgem como caminho para o mercado premium. Na conferência, Julia Chaplin, neta de Charles Chaplin, apresentou o movimento Gypset. Chaplin identificou que os consumidores estão cansados de ver tantos produtos e serviços em um cenário cada vez mais impessoal e competitivo, então criou o movimento para difundir a cultura do turismo nômade-chique. “Estive no Brasil em Trancoso e Caraívas, e vejo nesses locais o ambiente perfeito para o estilo gypset”, afirmou, referindo-se ao clima de luxo simples e rústico dessas praias. 

Em conclusão, o mercado de luxo no Brasil ainda tem muito a crescer. Isso se deve principalmente à necessidade de ostentar símbolos de status por parte dos consumidores e à temeridade em investir no universo online por parte dos empresários. “Depois de hoje, tive a convicção de que estamos na idade da pedra quando se trata desse tema”, disse Natalie. E não é que ela tem razão?

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