Estilistas apostam na infalível subversão

Do fraque inspirado na androginia à ode ao novo feminismo, os desfiles se inspiraram no artesanal

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Por Maria Rita Alonso
Atualização:
Desfiles de Ronaldo Fraga (alto),Alexandre Herchcovitch (esq.) e Reinaldo Lourençco (dir.) Foto: Sérgio Castro e JF Diorio/Estadão

É difícil concorrer com Gisele Bündchen. Mas, felizmente, nomes poderosos da moda nacional apresentaram coleções de peso - e não foram ofuscados, no terceiro dia da São Paulo Fashion Week, pelo desfile de despedida da top brasileira. Alguns dos estilistas mais conhecidos do País capricharam e apostaram no infalível conceito da subversão.

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No desfile do estilista mineiro Ronaldo Fraga, dezenas de mulheres seminuas, sentadas em pneus usados, representavam sereias de todas as idades e recepcionavam os convidados. Elas tinham entre 18 e 75 anos. Alexandre Herchcovitch inspirou-se no Japão e apresentou modelos gueixas independentes, sexy, senhoras de si, sem um pingo de submissão. Uma ode ao novo feminismo. Já Reinaldo Lourenço focou no jogo entre o masculino e o feminino, propondo uma androginia inovadora e mesclando tons pastel e babadinhos, com uma alfaiataria adulta, blazers bem cortados e fraques remodelados. Tudo bem chique.

Guiado por um desejo de se superar em termos de modelagem e costura, Herchcovitch trabalhou exaustivamente com chifon de seda em microbabados que formavam uma textura surpreendente e sedutora - tão fofa que dava vontade de espremer. Para chegar a esse resultado, cinco metros de tecidos viravam 1 metro de babado. Os vestidos em tons de azul remetiam imediatamente à espuma do mar, e o franzido era semelhante aos das algas.

O japonismo na alfaiataria, o corte reto e minimalista das saias de seda sem forro (de caimento impecável), e uma estampa com a bandeira do Japão estilizada amarravam todo o conceito nipônico. Não à toa, o desfile foi armado em uma sala do Instituto Tomie Ohtake. "Cheguei a um ponto em que quero me superar na qualidade da minha roupa, no corte, no acabamento, nos detalhes. Quero que ela seja tão perfeita por dentro, quanto por fora. E que seja algo de que me desafie." À primeira vista, ele conseguiu.

Também foi louvável o trabalho de superação de Reinaldo Lourenço. Seu ponto de partida foi George Sand, romancista francesa do século 19, e uma das primeiras mulheres a usar roupa masculina. A ideia do estilista era debater a nova androginia e, para isso, usou trajes de gala como fraques e faixas de cintura de smoking, combinados a minissaias e bermudas retas. "O exercício do Reinaldo foi trazer modernidade para o estilo romântico e é sempre difícil apresentar babados e tons pastel sem parecer roupa cocota. Mas ele conseguiu", diz Bia Paes de Barros, consultora de moda.

Acostumado a trabalhar uma alfaiataria precisa, Vitorino Campos faz o contraponto entre as silhuetas soltas das pantalonas de sarja usadas com tricôs canelados de atmosfera bem casual, e os conjuntos sofisticados de saias mídi de renda e blazers alongados com estampas gráficas. Para ele, a sensualidade da estação mais quente do ano não tem nada de óbvia e vem exatamente do contraponto entre masculino e feminino, o mesmo jogo de opostos que inspirou o verão de Reinaldo Lourenço. A inspiração não poderia ser mais subversiva: a dupla punk Patti Smith e Robert Mapplethorpe.

As mulheres de seios de fora "instaladas" na passarela do mineiro Ronaldo Fraga foram por si só uma das notícias do dia. A performance fazia parte de uma homenagem às Sereias da Penha, uma comunidade de artesãs da Paraíba, que estimula a criação das chamadas biojoias, bijuterias produzidas a partir de elementos naturais como escamas de peixe. Na passarela, top croppeds, saias e bermudas larguinhas em comprimento mídi, vestidos longos brancos transparentes, que lembram as redes dos pescadores, e recortes florais e geométricos. Maxicolares de flores, feitos de pérola e madrepérolas, arrematavam os looks. Uma subversão artesanal e brasileira.

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Tendências. Inspirada na cidade de Essaouira, na costa do Marrocos, a coleção da marca de moda praia Salinas teve uma profusão de maiôs e biquínis estampados. As várias cores na passarela, porém, não tiraram a atenção dos brincos usados pelas modelos, feitos em metal e cerâmica pelas designers Claudia Savelli e Rosana Doñate. Pudera! Eles eram enormes, tinham tons vibrantes, terminavam na altura dos ombros e balançavam conforme o andar das mulheres. Os brincões têm o poder de passear entre o cool, o elegante e o chique. Para a estação, ganham cores e formas e alguns chegam até a bater nos ombros. Marcas como Água de Coco, Lilly Sarti, Juliana Jabour e Salinas acreditam na tendência. E ela tem tudo para pegar. Looks brancos monocromáticos são uma grande aposta da temporada e já neste terceiro dia de desfiles é possível confirmá-la como tendência-chave do verão. A pantacourt (uma calça curta com a boca larga) promete ser o modelo da vez. Pena que é difícil de usar porque raramente veste bem.

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