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Entrevista: Amir Slama

Como o estilista fundador da Rosa Chá se reinventou apostando em dois extremos: a moda praia de luxo e as parcerias com redes populares

Por Maria Rita Alonso
Atualização:
O estilista Amir Slama e modelos que desfilaram para sua coleção de Alto Verão 2016 Foto: Divulgação

Depois de cinco anos afastado das passarelas, o estilista Amir Slama apresentou sua coleção de alto verão 2016 em um desfile intimista, em São Paulo. Um time de bombshells, comandado por Renata Kurten e Marcelle Bittar, fez lembrar os desfiles famosos do fundador da Rosa Chá.

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Nos anos 80, a marca paulistana renovou a moda-praia brasileira com criatividade, desbancando as marcas cariocas e virando referência de estilo para fabricantes de biquíni da Europa e dos Estados Unidos. 

Há seis anos, Slama vendeu a Rosa Chá e, em 2011, lançou sua marca homônima. Desde então, investe em parcerias com grandes marcas e, em paralelo, oferece um serviço exclusivo e personalizado, com biquínis sob medida, com modelos que chegam a custar até 8 mil reais.

Como foi voltar a desfilar com um time de tops de primeira?

Tentamos juntar um time de mulheres que vestisse bem as peças, mas confesso que tivemos dificuldades por causa da proximidade com a semana de moda de Nova York. Muitas modelos já tinham viajado, mas conseguimos que algumas voltassem. Outras meninas adiaram suas passagens para ficar mais um pouco aqui. No fim, juntamos um grupo legal que, além de vestir bem as peças deu energia ao desfile, o que é muito importante. Independentemente da coleção, a mulher tem que segurar a roupa de um jeito bacana e sofisticado. Se for para fazer um desfile de qualquer jeito, prefiro não fazer.

O que você diz sobre essa coleção?

Nela, busquei trabalhar muito a forma feminina. O ponto de partida foi o triângulo, que para mim tem o mesmo formato do corpo da mulher, então os decotes, modelagens, texturas, tudo remete a essa forma geométrica. O branco e o vermelho são cores muito fortes para o verão, comecei trabalhando com elas, e depois com variações do vermelho, como o pink e o laranja. Também trabalhei com preto e branco, um clássico sofisticado. Além disso, o vermelho tem uma conotação náutica, acabei resgatando um pouco dos marinheiros, das invasões francesas e holandesas, mas o fiz de uma forma muito sutil.

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Renata Kuerten desfila para Amir Slama - coleção Alto Verão 2016 Foto: Divulgação

Em termos de tendências, quais são as suas apostas?

Estamos num momento da moda onde tudo é minimalista ou exagerado: ou é menos ou é mais. Os anos 70 voltaram com muita força, você vê isso na cartela de cores das roupas, na maquiagem, nos cabelos. É uma tendência bem forte, assim como o minimalismo baseado nos anos 90, que aparece agora na geometria das estampas e no corte das peças.

A modelagem é importante, porque precisa vestir bem, valorizar algumas partes e esconder outras. Hoje, a tendência vem do consumidor para o estilista, faz o caminho inverso do que víamos até os anos 90, onde a marca determinava o que era usado. Agora absorvemos o que está rolando e trazemos novidades, ajudando o consumidor a se achar.

Como você enxerga o mercado de luxo hoje? O serviço de biquínis sob medida que você oferece está dando certo?

O luxo hoje é feito com uma tiragem pequena e um serviço personalizado. Eu atendo três, quatro clientes em por mês, porque é uma loucura desenvolver uma mini coleção em que a cliente ajuda a criar da estampa ao bojo do biquíni. Isso demanda muita energia e tempo. 

Quanto custa um biquíni sob medida?

Varia, o modelo exclusivo pode custar de dois a oito mil reais, dependendo da complexidade. A cliente vai provar a peça três ou quatro vezes e depois fica com o molde para ela.

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Ao mesmo tempo em que você faz peças exclusivas, também é conhecido por suas parcerias com redes de fast fashion. Você apostou em mundos opostos, não?

Não dá para dizer que numa rede de fast fashion não existe qualidade. A boa moda rápida é a união entre qualidade e agilidade. Eu tenho uma parceria com uma a Yamamay, uma rede de underwear e moda praia no estilo fast fashion que conta com 600 lojas na Europa, e venho assinando coleções de modo crescente. Comecei com 20 peças e já são 80.

"O preço de um biquíni exclusivo varia.Omodelo pode custar de dois a oito mil reais, dependendo da complexidade. A cliente vai provar a peça três ou quatro vezes e depois fica com o molde para ela", diz o estilista Foto: Divulgação

E a produção dessa linha, você se envolve?

Como meu trabalho é só de assinatura, eu desenho aqui e eles produzem na China. As peças têm uma qualidade incrível, eu fiquei chocado! A ideia inicial deles era produzir no Brasil, mas eles não conseguiram encontrar fornecedores que fossem compatíveis com seu preço.   O estilo dessa marca é mais brasileiro ou europeu?

É mais brasileira que as brasileiras! O europeu sabe que a moda praia daqui tem modelos menores, então crio peças que são ainda menores do que as que faço no Brasil porque é essa a demanda.

E quanto suas outras parcerias?

Como a parceria com a Yamamay, fiz uma outra com a Líquido ano passado, desenvolvi três coleções para a C&A, assino estamparias para a Tok Stok e tenho uma linha com a Phebo, que foi a responsável pela beleza do meu desfile. É bacana porque são peças mais baratas. A gente sempre procura novos caminhos. Quando me desliguei da Rosa Chá, não queria mais trabalhar com moda, passou 15 dias e a C&A me convidou para fazer a minha primeira coleção e me empolguei. Moda é uma coisa meio doentia, entra no sangue.

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"Moda é uma coisa meio doentia, entra no sangue", comenta Amir Foto: Divulgação

Por falar em Rosa Chá, como enxerga esse novo momento da marca que você fundou?

Eu fico muito feliz de ver que ela voltou de um jeito totalmente diferente depois de ter fechado e acredito que voltou mais forte. Fico tranquilo de ver que ela não morreu, afinal eu costumo dizer que tenho dois filhos homens, que são meus filhos mesmo, e uma filha mulher, que é a Rosa Chá.

Quais são os seus planos para 2016?

Estou de olho no mercado externo e faço um esforço para apresentar minhas criações fora do Brasil. Em julho, participei de uma feira em Miami, que é a mais importante do mercado americano e mistura de tudo, do superluxo ao superpopular. Os resultados foram muito bacanas. Os brasileiros conseguem aparecer muito bem lá porque a nossa moda praia é referência no mundo todo. Italianos, franceses costumam vir para cá pesquisar moda praia.

Você teve que mudar algumas estratégias nesse período de crise?

Tenho uma veia otimista, então sempre acredito. Acho que quando as pessoas estão com problemas, elas fazem duas coisas: bebem e vão à praia nos finais de semana. Então, tecnicamente, você sempre precisa de uma sunga, de um biquíni novo. Mas o mercado está complicado mesmo, a gente percebe as pessoas estão com medo de ir às lojas. Se elas entram, se encantam e compram. Mas hoje elas simplesmente não estão entrando.

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