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Em Cannes o mundo da moda se torna a própria estrela

Neste ano, o poder da economia do tapete vermelho ficou ainda mais à mostra para todos verem no carrossel sempre em movimento das estreias, sessões de mídia e eventos muito concorridos

Por Elizabeth Paton
Atualização:
A modelo Petra Nemcova na festa da Vanity Fair Foto: Rebecca Marshall/The New York Times

CANNES - “Pode parecer muito divertido, mas não esqueça que também é trabalho”, disse o produtor de cinema Harvey Weinstein, já de madrugada nas escadas do Hôtel du Cap-Eden-Roc em Antibes, na França, tendo como pano de fundo champanhe fluindo, ondas batendo nas rochas e uma banda tocando Beatles. O cenário era do 69º Festival de Cinema de Cannes e Weinstein, na Riviera Francesa há duas semanas para realizar negócios na sua área, mais tarde recebia para uma festa no iate Odessa II com o empresário bilionário Len Blavatnik. “Estou trabalhando constantemente em Cannes, de manhã à noite”, disse ele. “Não paro”.

Na verdade, embora há muito tempo Cannes seja o festival de cinema mais estrelado com as festas mais cintilantes, este ano mais do que nunca o poder da economia do tapete vermelho ficou à mostra para todos verem no carrossel sempre em movimento das estreias, sessões de mídia e eventos muito concorridos. Charles Finch, da Finch & Partners, consultora que presta assessoria no campo das parcerias em Hollywood, diz que como o setor cinematográfico vem encolhendo, os grandes patrocínios que outrora eram domínio dos grandes estúdios foram cooptados pelas famosas casas de luxo, transformando a Croisette numa passarela. Grandes marcas como Dior e Chopard gastam milhões de dólares em suítes de hotéis cinco estrelas da avenida à beira-mar do Mediterrâneo, preparando, vestindo e adornando as estrelas para alguns minutos diante dos holofotes a meio minuto do palácio do festival. 

A modelo Kendall Jenner na festa da Vanity Fair Foto: Rebecca Marshall/The New York Times

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“Os estúdios de cinema costumam vir a Cannes tendo em vista a seriedade cultural e a independência do festival, o que dá mais peso a seus filmes, e gastam muito dinheiro nisto”, disse Finch. O foco do festival no cinema internacional significa uma publicidade mais global do que as cerimônias de prêmios centralizadas na produção americana. E agora as grandes marcas estão entrando e fazendo a mesma coisa”, disse Finch.

Finch sabe das coisas. Ele foi o anfitrião do jantar anual repleto de estrelas na noite de sexta-feira, 13, junto com a Jaeger-LeCoultre, marca famosa de relógios, nos terraços palacianos do hotel.

Clive Owen ombro a ombro com George Miller, diretor de Mad Max e este ano presidente do júri da competição principal, enquanto seu colega jurado Mads Mikkelsen conversava com Heidi Klum, Charlotte Tilbury, Gael García Bernal, Jack O’Connel e Johnny Coca. Dominic West era o centro das atenções na sala, e no jantar a atriz Rebecca Hall ria ao lado de Mick Jagger, resplandecente numa jaqueta roxa e que mais tarde, descaradamente, furou a fila do bufê. 

Vinte e quatro horas depois, cerca de cem convidados sortudos rodavam pelas estradas costeiras repletas de curvas na direção do Hôtel du Cap-Eden-Roc para a festa da Vanity Fair, oferecida pelo editor da revista Graydon Carter.

Depois de um magnífico jantar, oferecido por Richard Plepler, chairman da HBO, a festa continuou no deque para um after-party com um cenário de filme dos anos 50: os frondosos jardins do hotel estavam iluminados com luzes vermelhas e amarelas, grandes sombrinhas cor de areia colocadas entre as rochas, e o logo da Vanity Fair brilhava como um tesouro naufragado do fundo da piscina. Dezenas de seguranças com fones de ouvido perambulavam discretamente, prontos para prender qualquer “penetra” imprudente.

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“Está muito divertida a noite”, disse a modelo do momento Kendall Jenner, usando um vestido de cetim azul, de Mathieu Mirano. “Sinto-me como se todos os meus amigos estivessem aqui”, disse ela.

Ao lado, Kate Hudson conversava com Peter Dundas, diretor criativo da Roberto Cavalli, e Kirsten Dunst era toda elogios para o estilista que confeccionou o seu vestido, Michael van der Ham, de Londres. “É um dos estilistas mais talentosos e quero chamar a atenção para ele. Fale para todo mundo deste vestido deslumbrante”, disse ela. 

Jodie Foster continuava a aceitar votos de sucesso pelo seu filme “Money Monster, exibido dois dias antes, e Chloë Sevigny, num vestido em tweed e renda de Alessandra Rich, ofereceu sua interpretação entusiasmada do cancã. Russel Crowe também estava com um ótimo astral, dizendo a seus amigos que, se fossem ver seu novo filme, The Nice Guys, que conta também com Ryan Gosling, “por favor, usem cuecas, porque vão estourar as calças de tanto rir”.

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Anfitriã também da festa, a marca de joias Chopard, parceira oficial do festival, havia oferecido uma outra festa no iate um dia antes. Junto com Colin Firth e sua mulher Livia, a Chopard comemorou a mais recente coleção Green Carpet, fruto de uma colaboração com a Gemfields, negociante de pedras preciosas, para produzir esmeraldas de modo eticamente responsável. Julianne Moore usou diversas peças na cerimônia de abertura, que brilhavam em meio às lantejoulas douradas do seu vestido, confeccionado por Alexander McQueen.

“O que é ótimo em Cannes é que além do brilho e do glamour, o tapete vermelho pode ser usado para promover causas importantes com um alcance incomparável”, disse Firth, fundador e diretor criativo da Eco Age, consultora de marca que ajuda as empresas a se tornarem mais sustentáveis.

Heide Klum (esquerda) e Kate Hudson na festa da Vanity Fair Foto: Rebecca Marshall/The New York Times

A Kering, conglomerado francês especializado em artigos de luxo, que detém nomes como Gucci, Stella McCartney e Alexander McQueen, teve a mesma ideia. Além de criar a “Women in Motion”, série de palestras sobre a posição das mulheres na indústria cinematográfica, o grupo ofereceu um jantar presidencial no domingo em homenagem ao trabalho de Susan Sarandon e Geena Davis, 25 anos depois do lançamento do filme “Telma e Louise”.

Enquanto as atrizes tiravam selfies, Susan Sarandon disse que o clássico filme provavelmente não seria produzido hoje, devido ao que chamou de “falta de imaginação” dos executivos do cinema.

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“Provavelmente acabaria como uma animação”, disse ela, aplaudida por Juliette Binoche, Vanessa Paradis e Jean Paul Gaultier. “Enquanto as mulheres podem ver uma mulher ou um homem no papel principal de um filme, não acho que é fácil para um homem ver uma mulher como principal protagonista e dar seu apoio”. Ainda é uma questão cultural”.

Sentada ao lado dela no jantar, Salma Hayek abordou o assunto de modo mais positivo. “Há muito trabalho a ser feito, eu sei, mas acredito realmente que hoje a questão vem sendo objeto de mais conversas do que outrora. É incrível ver e ouvir comentários a respeito”, disse a atriz, antes de se sentar com um vestido rosa pálido da Gucci. 

Tradução de Terezinha Martino 

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