Daniela Falcão é tema de documentário dirigido por Maria Prata

“É a construção de uma personagem que chega insegura e se torna a rainha”, conta a jornalista sobre a ex-diretora de redação da Vogue Brasil e atual CEO da Editora Globo Condé Nast

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Por Maria Rita Alonso
Atualização:
O fotógrafo Mario Testino, Daniela Falcão e Silvia Rogar, atual diretora de redação da Vogue Brasil. Foto: Documentário Daniela Falcão

Na moda contemporânea brasileira, a jornalista Daniela Falcão virou lenda, ‘mitou’. Exigente, obstinada, explosiva e workaholic, Daniela ocupou o posto de diretora de redação da Vogue Brasil por 10 anos. Hoje é CEO da Editora Globo Condé Nast e tem sob seu guarda-chuva as revistas Vogue, Glamour, GQ, Casa Vogue e Cidade Jardim.

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Sua ascensão, sua história de vida e seu reinado agora serão tema de um documentário dirigido pela jornalista Maria Prata, outro nome de peso da moda nacional, que faz sua estreia na direção, ao lado de Camila Guerreiro. A produção é de Pedro Bial, marido de Maria e um de seus grandes incentivadores, da Gullane Filmes e da Prodigo Films.

Em entrevista ao Estado, Maria diz que fará um retrato da moda recente do País, resgatando a trajetória de Daniela, que comandou a transição da publicação da Carta Editorial para a Condé Nast, reformulou a identidade da revista e a tornou uma das cinco Vogues mais importantes do mundo.

Quem se lembra do filme 'O Diabo Veste Prada' vai encontrar semelhanças que vão além do poder de Miranda Priestly e Daniela. Com a personagem de Meryl Streep no filme, a diretora divide não só a profissão, mas também a fama de um temperamento difícil. Daqueles títulos que homens em posições de liderança raramente ganham, mas as mulheres no poder colecionam. Leia mais na entrevista a seguir.

Como surgiu a ideia do documentário sobre a Daniela Falcão? Eu estava jantando com o Pedro [Bial] em Nova York, e comecei a contar uma história sobre a Daniela. No dia em que divulgaram que eu estava indo para a Harper’s Bazaar, era aniversário dela. A Paula Bianchi fez um jantar de comemoraçãoe, na saída, a Daniela me levou até o elevador e disse: ‘Você sabe que eu vou te massacrar, né?’ [risos]. 

Frame do documentário sobre Daniela Falcão. Foto: Documentário Daniela Falcão

E como o Pedro reagiu? Ele ficou curioso e quis saber mais sobre a Daniela. Eu resumi a carreira e a história de vida dela e ele disse: ‘Isso dá um documentário incrível!’. É uma mulher que caiu de paraquedas nesse universo, foi contratada para fechar a revista [Vogue Brasil], porque era uma superjornalista. Ela nunca tinha trabalhado com isso, não tinha o 'physique du rôle' ou o background das outras editoras de moda internacionais. Além disso, tinha uma forma de gestão muito linha dura, até polêmica. Só que, em quatro anos, ela dominou completamente o assunto; em cinco, a Condé Nast veio para o Brasil, tirou a Vogue da Carta Editorial e ela virou a número 1; em 10 anos, Daniela colocou a Vogue Brasil no cenário internacional lindamente. Hoje em dia, quem ela quiser colocar na capa, ela põe – de Rihanna a Riccardo Tisci, a lista é impressionante.

Qual é a imagem da Daniela na Condé Nast? Ela virou uma pessoa importante dentro da Condé Nast. Fui filmar em Paris agora, em um jantar da editora, e a gente só podia gravar no pre-dinner, que era um coquetel. Era um jantar para pouquíssimos jornalistas, de revistas como a Vogue, a GQ e a Vanity Fair. De repente, eu reparei que o lugar dela estava colocado na mesa central, ao lado do Jonathan Newhouse, CEO da Condé Nast Internacional. Ela virou uma pessoa-chave tanto para a Condé Nast quanto para o mercado brasileiro.

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Quando você começou as filmagens? No ano passado. Filmamos em alguns momentos-chave: no Baile de Carnaval da Vogue; durante o anúncio de que ela ia virar diretora editorial, em um coquetel com a equipe; depois, o anúncio de que seria CEO da Editora Globo Condé Nast no Brasil; filmamos também ela desmontando a antiga sala de trabalho, e o fim-de-semana do desfile de Cruise da Louis Vuitton, em Niterói, no Rio de Janeiro. Este ano, fomos a Paris para a primeira semana de moda dela como CEO.

A jornalista Maria Prata. Foto: Jorge Bispo/Maria Prata

Com a crise no varejo, o mercado de moda diminuiu. É curioso escolher contar a história de uma personagem desse universo, que floresceu na época em que a moda estava bombando, e contá-la no momento em que a moda está em baixa.

A curva de mudança da Daniela é meu plot principal, e temos os sub-plots, que são: contar a história dessa década na moda, quando as mídias digitais democratizaram a informação, a época em que as marcas de luxo chegaram no Brasil (em que o País era uma grande promessa econômica). Tem também a vida pessoal dela, que passou por uma transformação enorme. Ela começou uma busca pela feminilidade, pela beleza. É a construção de uma personagem que chega insegura e se torna uma rainha.

Ela assume que era insegura no começo? Sim! Ela é uma superjornalista, então entendeu muito rápido o que era o mais legal desse documentário, e tem sido muito aberta com a gente o tempo todo. 

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O Pedro Bial é produtor do documentário? Meus produtores são o Pedro, a Gullane Filmes e a Prodigo Films. Eles trazem um olhar de fora da moda que é muito importante para mim. 

É seu primeiro trabalho como diretora. Como tem sido a experiência? É um mundo novo. Convidei a Camila Guerreiro, minha grande amiga, hoje diretora de alguns programas da TV Vogue, para co-dirigir comigo. Tem sido uma troca boa, ela com mais know how de direção de imagem, eu com o olhar jornalístico.

Estrear em um trabalho novo, que você nunca fez, mas falando sobre um assunto que você domina, e sobre uma personagem que você conhece muito bem, facilitou o processo? Verdade. É um assunto que eu conheço profundamente, mas, mesmo assim, tento trazer um olhar de fora. É um documentário de moda, o universo da moda vai querer ver, mas também é a história de um momento importante no mercado e a história de uma personagem cheia de contradições. Alguns assuntos vão fisgar mesmo quem não é da moda – espero eu.

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Como está o cronograma de filmagens? A gente já filmou cerca de 90% do que precisa. Agora paramos para nos dedicarmos à captação de verba e devemos voltar para os 10% restantes em breve.

O filme conta a trajetória da jornalista. Foto: Documentário Daniela Falcão

Quem são as pessoas que aparecem falando sobre ela? Na parte internacional, temos o Jonathan Newhouse, CEO da Condé Nast Internacional; o Imran Amed, fundador do Business of Fashion; o Pierpaolo Piccioli, diretor criativo da Valentino; a Karina Dobrotvorskaya, que é diretora editorial da Condé Nast. Aqui no Brasil, ainda estamos terminando de fazer a seleção das pessoas, mas devemos incluir família, colegas de trabalho e amigos. E, quem sabe, alguns desafetos também.

A Daniela tem fama de ser uma chefe brava, exigente. Essa imagem aparece também no documentário? Deve aparecer, é parte de quem ela é.

Como foi sua experiência pessoal de trabalhar com ela? Trabalhamos juntas durante quatro anos na Vogue – entramos na mesma semana. Foi difícil, mas um aprendizado enorme.

Por que difícil? Difícil porque ela esperava dos outros o mesmo grau de exigência e dedicação que tinha com ela mesma, que era inalcançável. Naquela época, isso significava não ter fins de semana, feriados, aniversário da mãe, namorado. Hoje sei que ela equilibra melhor o mundo profissional com o pessoal. Deve ser mais fácil para quem trabalha com ela, mas eu sofria. Rs.

Ela vai ver o documentário antes de ficar pronto, ela fez alguma exigência do tipo, ou só quando for lançado? Só quando for lançado, junto com todo mundo. Ela nem perguntou sobre isso, está realmente entregue ao projeto.

Como tem sido trabalhar com seu marido pela primeira vez? O Pedro é muito bom em contar histórias. Foi isso o que ele fez a vida inteira, tanto a de entrevistados quanto dos BBBs. Não é à toa que, quando ele ouviu a história da Daniela, disse que daria um documentário. Ele me ajuda com uma orientação do que não pode faltar na história. Também me dá um gás de fazer algo que eu nunca tinha feito. Então, tem sido muito legal.

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Ele também vive um momento especial agora com a estreia do novo programa. Você está orgulhosa? Muito. Eu estou gostando de vê-lo gostar tanto do trabalho. A resposta da primeira semana foi superpositiva. Ele está exausto, mas adorando.

Colaborou Natália Guadagnucci

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