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Bowie, Grindr e a moda masculina

O colunista Jorge Grimberg descreve e analisa o melhor da semana de Londres, encerrada no último dia 11

Por Jorge Grimberg
Atualização:
Burberry: trench coats e mood esportivo Foto: divulgação

Participar de uma semana de moda internacional é uma experiência singular. Muito além do lançamento das coleções, a energia que envolve os shows é reveladora. As roupas nas lojas, penduradas nas araras, nada tem a ver com os espetáculos de luzes, personalidades, música e espírito que envolvem uma fashion week.

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Quando as luzes se apagam, um novo conceito emerge e as sensações se misturam. Não há vídeo no Snapchat que capture a emoção do suntuoso desfile da Burberry na última temporada inglesa de coleções masculinas outono inverno 2016, realizada em Londres entre os dias 8 e 11 de janeiro. Com rigor britânico, a grife pediu a seus convidados que chegassem à gigantesca tenda improvisada em Kensington Gardens com 45 minutos de antecedência, devido à transmissão ao vivo da coleção na internet. 

Durante o período de espera, músicas de David Bowie tocavam na sala - em volume ambiente - naquela fatídica manhã do dia 11, quando foi anunciada a morte do cantor. Sem o habitual clima festivo da marca, os convidados se acomodavam em seus  lugares e assim permaneceram até a apresentação começar pontualmente às 13h. 

Burberry Foto: divulgação

Na passarela, tudo se transforma e Bowie, de alguma forma, estava lá. Por exemplo, no esforço da Burberry em expandir sua moda para além da tradição inglesa e torná-la global, misturando clássicos casacos camelo com agasalhos esportivos de lantejoulas e casacos de pele. O cantor estava também no glitter nos olhos dos modelos. Coincidência ou não, o timing foi correto. 

Sibling: boxe e pop arte dos anos 80 como referência de street style Foto: Jorge Grimberg
Nazir Mazhar: moda provocadora Foto: divulgação
Anúncio do desfile de J.W. Anderson no aplicativo Grindr Foto: divulgação
J.W. Anderson: moda superclubber totalmente unissex Foto: divulgação

Não foram necessárias referência literais, como armas e bombas, para entender que queremos estar mais seguros em nossas cidades - uma questão de extrema relevância na Europa de hoje. Era fácil interpretar na coleção nosso desejo por proteção. Seja ela como vier. 

Craig Green: militarismo e desejo por segurança Foto: divulgação

O interessante da moda é que, além de nos vestir, ela pode transmitir conceitos por meio de uma ideia, de um produto ou desfile, que não precisa ser comercial ou viável. Para o mercado masculino, a moda deve funcionar como uma provedora de armaduras para enfrentar o nosso dia-a-dia. Seja para uma noite clubber, uma cidade violenta ou um escritório repleto de ternos, o estilo nos protege do mundo a nossa volta.   

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