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“As pessoas acham que é fácil chegar aonde você chegou, mas não veem quantas vezes você falhou”

Aposentada das piscinas, Fabíola Molina, atleta com passagem pelas Olimpíadas de Sydney, Pequim e Londres, comanda grife própria de moda praia e será a responsável pelos maiôs e biquínis licenciados das Olimpíadas do Rio em 2016

Por Marília Marasciulo
Atualização:
Atleta de natação, com passagem pelas Olimpíadas de Sydney, Pequim e Londres, Fabíola Molina encontrou inspiração nas piscinas para criar o sunquíni Foto: Divulgação

Esporte e moda andam juntos na vida de Fabíola Molina. Nadadora com passagem pelas Olimpíadas de Sydney, Pequim e Londres, ela tirou das piscinas a inspiração para criar a peça que garante seu sucesso como empresária, o sunquíni - biquíni com a calcinha mais alta e o sutiã estilo top, ideal para atletas. "Treinava no sol e não gostava de ficar com a marca do maiô", conta Fabíola. O que era inicialmente uma solução prática se transformou em uma marca de moda praia, negócio bem sucedido que caminhou junto com a carreira da atleta. Há dois anos, porém, após algumas idas e vindas, Fabíola decidiu se aposentar de vez do esporte para investir no sonho de ser mãe. Agora, aos 40 anos, vive com a filha, de 10 meses, e o marido, o também nadador Diogo Yabe, em São José dos Campos, no interior paulista, e, em termos profissionais, dedica-se exclusivamente à grife própria. Com produção mensal de 6500 peças, 28 funcionários e 15 pontos de venda no exterior, a empresa sediada na cidade vem crescendo a passos rápidos. Tanto que será a responsável por criar e fabricar os produtos de moda praia das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Ao Estado, Fabíola falou sobre as carreiras de atleta e empresária, suas inspirações, lições e planos para o futuro.   Como uma nadadora olímpica acaba ingressando no mundo da moda? O meu despertar para a moda foi mais pela necessidade. Usava maiô preto, azul marinho ou vermelho, eram só essas opções. Cansa vestir todos os dias a mesma roupa e, pior de tudo, eu ficava com assaduras no corpo. Como na época, na década de 1990, as piscinas dos clubes eram descobertas, eu ficava muito exposta ao sol. Eram seis horas por dia na água, o que me deixava com aquela marca branca feia na barriga (Fabíola é especialista em nado de costas). Por isso, pensei em criar o sunquíni com alças mais finas. Para deixar mais firme, inseri um cordão de ajuste. Uma costureira de São José dos Campos fazia para mim e minhas amigas me pediam para fazer para elas também. Isso foi no final da década de 1990, era algo bem informal, eu morava nos Estados Unidos e estava treinando para as Olimpíadas de Sydney.  Quando decidiu transformar isso em um negócio? Quando voltei para o Brasil, em 2002. Depois de Sydney, conversei com minha mãe sobre a possibilidade de abrir um negócio. Bolamos a marca, em 2004 alugamos uma casa para abrigar a empresa, compramos as máquinas e começamos a produzir. A costureira era a mesma que fazia meus primeiros sunquínis.

Ela será a responsável por criar e fabricar a moda praia das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e mantém umprojeto social em São José dos Campos,em que capacitaprofessores para dar aulas a crianças em 14 piscinas públicas Foto: Divulgação

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 E como foi conciliar isso com a carreira de atleta? Nessa mesma época eu namorava meu atual marido, que treinava nos Estados Unidos, então passava períodos lá, em geral de janeiro a abril. E minha mãe cuidava da empresa. Até porque voltei a treinar lá e a nadar muito bem. Minha carreira na natação acabou se estendendo e fui para as Olimpíadas de Pequim e Londres. Isso, de certa forma, foi importante para a marca também, porque eu podia levar meus sunquínis para as competições e mostrar os produtos.

Aliás, você já havia anunciado sua aposentadoria quando resolveu competir em Londres. É muito difícil a decisão de parar? Meu sonho como atleta era ir para as Olimpíadas. Com 18 anos, fui para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos, justamente para tentar realizar esse sonho. Em 2000, consegui realizá-lo, em Sydney. Chegar lá foi tão difícil que pensei: 'agora já deu'. Estava com 25 anos. Quando voltei para o Brasil, além dos treinos não serem os mesmos, minha motivação havia mudado e meu rendimento caiu muito. Mas comecei a namorar o Diogo, a treinar nos Estados Unidos, consegui o índice para o Mundial e uma coisa foi levando à outra. Em 2012, nas Olimpíadas de Londres, estávamos casados há oito anos e eu estava com 37. Queríamos ter filhos. Então decidi competir em Londres e no Mundial e depois fazer um ano de "destreinamento". Para não ser um choque, em 2013, só competi pela minha cidade. Desejava me aposentar pelo meu clube, para fechar o ciclo onde tudo começou.

Aos 40 anos, oficialmente aposentada das piscinas, Fabíola Molina mantém a relação com o esporte principalmente através da marca Foto: Divulgação

Você ainda nada, mesmo que só por lazer? Consegue praticar esportes? A rotina fica bem difícil com a filha e o trabalho na empresa. O meu objetivo era conseguir fazer exercícios duas vezes na semana, pilates e natação, mas nem sempre dá.   Hoje você atua no dia a dia da fábrica? Sim. Produzimos uma média de 6500 peças por mês, temos 28 funcionárias e trabalhamos em uma nova sede, maior. Nossas coleções são vendidas por 35 revendedores no Brasil e 15 no exterior e no e-commerce, além da loja própria, em São José dos Campos. A média de preços para os maiôs é de R$ 100 e dos biquínis é de R$ 150. Há dois anos começamos a expandir, tanto é que ganhamos a concorrência para fazer a moda praia dos licenciamentos das Olimpíadas.  Você vai precisar aumentar a produção devido ao licenciamento das olimpíadas? Nossa produção deve aumentar 30%, vamos ter novos pontos de venda, novos clientes. A ideia é conseguir otimizar e nos adaptar, pois já trabalhamos com o método de produção enxuta. Dentro deste trabalho, temos um consultor que nos orienta para aumentar a produção sem necessariamente precisar alterar muito a empresa.

 Fora da água, como você definiria seu estilo? Acho que é chique despojado, gosto de estar bem vestida mas confortável. Sempre procuro roupas com toque macio, com algum charme e algo diferente. Não gosto de ficar no básico.  Quais suas influências e estilistas favoritos? Admiro muito o trabalho da Liliana (Thomaz) da Água de Coco e gosto de acompanhar as coleções da Osklen. Acho que eles estão sempre inovando. 

Quais seus planos para o futuro? Pretende manter a relação com o esporte ou se dedicará exclusivamente a sua marca? Tenho objetivos em diferentes áreas. Mantenho um projeto social na cidade, em parceria com a Prefeitura, em que capacitamos professores para dar aulas a crianças em 14 piscinas públicas. Sinto que tenho o dever de retribuir o que conquistei. Ao mesmo tempo, invisto para que empresa cresça, queremos expandir nossa linha infantil e temos alguns planos de produtos novos, como na parte do surf.  Quais as maiores lições que o esporte te deu? São muitas. A primeira é excelência, de você sempre buscar o seu melhor: 90% é muito diferente de 100%. A gente tem que buscar sempre o 100%. Quando você dá o seu melhor, as coisas acontecem, às vezes não é nem chegar em primeiro, mas saber que você deu o melhor de si, traz satisfação. As parcerias e o espírito de equipe também são lições importantes. Saber que você precisa de outras pessoas e ter esse lado humano, saber respeitar o outro e suas diferenças. E a persistência. As pessoas acham que é fácil chegar aonde você chegou, mas não veem quantas vezes você falhou.  

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